sábado, 28 de novembro de 2015

Vergílio Ferreira - Pensar ou não Pensar? (III)

              Relação entre o texto de Vergílio Ferreira, Pensar e a Alegoria da caverna de Platão:



Este texto, de Vergílio Ferreira, pode relacionar-se com a Alegoria da Caverna, de Platão, que comentei anteriormente. Em ambos os textos pode verificar-se que existe uma sociedade que vive num mundo chamado realidade, no mundo das sombras. Na actualidade, este mundo de sombras podem ser substituídas pelo mundo virtual, pela televisão, pelo mundo das imagens e ideias feitas. Um mundo que é vivido pelos mesmos que desprezam os intelectuais, os filósofos, que se fartam de trabalhar para chegar a uma verdade, a uma solução, a uma resposta. Que passam por um longo caminho desde o mundo das sombras até conseguir por fim ver a luz, tal como se descreve na Alegoria. 

E quando finalmente conseguem chegar a algum tipo de resposta, ou conclusão, tentam partilhá-la connosco, com as pessoas que rodeiam o filósofo e que ainda estão presas ao mundo das imagens. E o que acontece? Normalmente não acreditamos no que eles nos dizem e julgamo-los loucos. E eles acabam por palrar uns com os outros por mais ninguém querer saber, por ninguém se preocupar, por ninguém acreditar neles, nem no quanto são fundamentais. No entanto, e isso poucos percebem, o intelectual, o filósofo, os poetas, são os únicos que se preocupam realmente com problemas significativos do seu tempo e que dizem respeito a todos os homens.

Vergílio Ferreira questiona-se se , de facto, os intelectuais estrão em vias de extinção. Sim, talvez,  por culpa nossa, por insistirmos em permanecer nas nossas bolhas, abstraídos do mundo que nos rodeia, fixados nas imagens que vão passando na televisão, e que correspondem, no caso da alegoria, às sombras que passavam na parede da caverna.
Da mesma forma que nos é dada a conhecer nos dois textos, a sociedade descrita é uma sociedade que não se dá ao trabalho de pensar. Tal qual como atualmente. E se ninguém pensar, se ninguém se der ao luxo de fazer alguma coisa, então os problemas surgirão e ninguém se preocupará em encontrar soluções, a menos que o problema interfira diretamente, e imediatamente, com a sua vida, rotineira e monótona. E nada se vai acabar por resolver, porque a sociedade decidiu fazer dos filósofos seres invisíveis, tal como fazemos quando passamos por um sem-abrigo, e desviamos o olhar.
O sem-abrigo que ficou sem casa, sem roupas, sem comida, sem dinheiro, e, muitas vezes, sem família, por causa destes mesmos problemas que atingem o nosso mundo todos os dias, à velocidade de um TGV, porque se não fosse isso, esse sem-abrigo, seria um com-abrigo, uma pessoa igual a nós que provavelmente faria o mesmo que nós fazemos diariamente para com as pessoas que chamam casa aos bancos da rua, e mantas às caixas de cartão que deitamos fora todos os dias.

E fazemo-lo para não nos sentirmos mal com nós próprios, não porque não podemos ou não temos posses para tal, mas por um simples facto que é a Conveniência. Sim, porque vivemos num mundo em que só se faz o que nos agrada e não o que está correcto ou o que é melhor. Fechamos os olhos aos filósofos por conveniência.
O mundo em que vivo é um mundo onde o poder económico tem mais importância que os valores, um mundo onde a nossa raça, clube, religião, ou opinião política define quem somos ou o que podemos ou não podemos fazer. Um mundo onde há ganância e ignorância para dar e vender. Um mundo dedicado às tradições, superstições e falsas religiões. Muitas vezes usadas como escudo em guerras completamente absurdas, onde o chocante nem é a guerra em si, mas sim o facto de existirem pessoas capazes de cometer tamanhas barbaridades.

Um mundo que, só quando alguém se lembra de se explodir numa cidade ilustre, é que acorda para ver o que se passa. Todos decidem espalhar palavras de compaixão, pelos que sofrem, ou de revolta, pelos que cometeram o acto, nas redes sociais. Cobrem o mundo com a bandeira do dito país, quando essa mesma guerra, esses mesmos atentados ocorreram, se não mais graves, há anos atrás. Ou já se esqueceram do Boko Haram? O célebre Boko Haram. Aqui se vê a dita ignorância sufocante presente na nossa sociedade. Só nos preocupamos com o que nos agrada.

No dia 13/11/2015, às 21h00, deu-se o atentado de França. A comunicação social pelo mundo inteiro disparava notícias de minuto a minuto durante todo o fim-de-semana. Fomos invadidos por uma onda de compaixão humanista que só está presente mais por uma questão de “ficar bem na fotografia”. O mundo inteiro unido por uma causa. Hoje, dia 24/11/2015, passados onze dias desde os atentados o mundo voltou a fechar-se e já ninguém quer saber. Nos noticiários da televisão, a notícia tem direito ao rodapé enquanto se discute o resultado do jogo de futebol do dia anterior. Notícias online, tvi24 por exemplo. Vão reparar que só no fim da página há um pequeno espaço dedicado a essas notícias.

E como a comunicação social seguiu em frente nós fazemos o mesmo, como bons soldados que somos. Como bons paus mandados da televisão e das redes sociais. É este o poder que os média têm na actualidade, é este o poder que lhes demos para as mãos. Foi nesta arma perigosíssima que transformámos o mundo da comunicação. É perante isto que eu chego à conclusão de que tal como disse Vergílio, os intelectuais são um desperdício na sociedade actual, são chacinados pela ignorância incutida pela escola da televisão, nesta era das Tecnologias. Resta-nos por isso, ter esperança de que os jovens tenham noção de que a filosofia é essencial. Que lhes ensinem a amar a sabedoria, a questionar, a não viver na ignorância, a procurar soluções, mesmo que rudimentares, para os problemas com que nos deparamos actualmente.

E se pararmos para pensar, o que é que a filosofia faz por nós numa sociedade em que o tempo para pensar é cada vez mais escasso, na medida em que a velocidade do dia-a-dia nos obriga a tomar decisões rápidas, o que, consequentemente, nos leva a querer soluções imediatas? Como é que a filosofia nos iluminará num ambiente onde os bens materiais são mais importantes que o próprio ser humano? Onde actua a verdade numa sociedade como a nossa? E se é neste mundo bipolar que a filosofia está incluída, para que servirá? Onde é que a filosofia se enquadra numa sociedade que quer o ontem para já e o amanhã para hoje?

Nestes dois textos, vemos que a filosofia é a ciência essencial para tudo o mais ganhe sentido, ou seja, o mundo da tecnologia não existiria, se antes não houvesse alguém que se questionasse sobre a possibilidade de comunicarmos com o outro lado do mundo através do que agora são os telemóveis e a internet. Não haveria democracia se não houvesse alguém que se questionasse sobre o regime anterior, a ditadura, e o melhorasse de acordo com os valores, a ética, a filosofia social e política e todas as disciplinas da filosofia e o que isso implica. O mundo é movido pela filosofia, o amor ao saber, que por sua vez nos ensina a pensar por nós mesmos, de forma livre, autónoma e crítica, em oposição a poderes instituídos, a autoridades suspeitas e a todo o tipo de ameaças à vida individual e à liberdade de consciência. O ser humano tem a necessidade de filosofar, não só para se compreender melhor a ele próprio, mas também para compreender o mundo onde vive. De maneira que enquanto humanos somos incapazes de não filosofar, porque, mesmo que involuntariamente, em algumas situações, como por exemplo, quando nos deparamos com situações-limite, como a morte, acabamos por começar a filosofar.

Teoricamente a filosofia procura conhecer a essência da realidade, visando uma compreensão da totalidade das coisas e dos seres. Procura uma visão integrada de real, ao mesmo tempo que reflecte sobre os vários saberes, os problemas por eles suscitados e os conceitos usados por cada um. Na prática, a filosofia, ajuda-nos a orientarmo-nos no mundo, a saber viver, a agir de forma responsável, a encontrar uma finalidade para a vida, em ordem à conquista da felicidade possível. Por outro lado, ela intervém a nível social e político, no sentido de construir um mundo melhor.

A filosofia confere autonomia ao nosso pensamento, mas também a pressupõe. Ao ajudar a desenvolver o pensamento crítico ela torna-se uma arte de compreender o mundo e o ser humano e, ao mesmo tempo, uma arte de viver.
A utilidade da filosofia não está na produção de resultados imediatos. A filosofia amplia a nossa compreensão do mundo, expande os nossos horizontes intelectuais e a liberdade de pensamento.

A filosofia antiga difere da filosofia contemporânea pois, no contexto em que são desenvolvidos, há diferentes problemas e costumes. Por exemplo, na filosofia grega, não nos deparamos com o problema ambiental. Para além disso toda a filosofia é argumentativa. A argumentação é a base da filosofia e é por ser argumentativa, que também é problematizadora, democrática, plural, crítica, anti-conformista. Com isto eu tento explicar de uma forma resumida o que para mim é a filosofia. E são estas características que fazem da filosofia uma disciplina tão única e essencial.

Portanto termino este texto em concordância com o que Vergílio Ferreira escreve no final do texto, os filósofos, neste momento, só são reconhecidos e ouvidos por outros da mesma espécie, e enquanto assim for, a humanidade irá sofrer com isso também. Porque sem os filósofos, sem estes grandes seres humanos, a nossa história e vida seria uma grande porcaria, uma grandessíssima seca.

Beatriz Conceição, Nº4 - 10ºC1
Imagem: Copyright - Gustavo Marquez

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