quarta-feira, 28 de outubro de 2015

COMO LER UM TEXTO EM FILOSOFIA

Tópicos:

-Através do título ou outra indicação ter uma noção mínima do tema do texto que se vai ler(ler o texto na íntegra);
-Esclarecer o sentido de palavras desconhecidas,especialmente se pertencem à terminologia filosófica;
-Ver o seu significado num  dicionário de filosofia;
-Identificar o conceito mais importante e assinalar os parágrafos onde é definido ou tematizado;
-Escrever os argumentos do(s) autor/es;
-Comparar perspectivas diferentes quando estão explícitas ou implícitas;
-Tirar ilações e conclusões fundamentadas(essencial é mostrar como se chegou a essa ideia).

Organização interna do texto e tipo de textos filosóficos:

- O texto é informativo,argumentativo,problematizador,aporético? etc…
- O texto apresenta uma tese central e depois aduz argumentos para o fundamentar;
- O texto apresenta várias ideias problemáticas e discute-as segundo vários autores;
- O texto é uma proposta de reflexão sobre um tema/problema.

Trabalho sobre um texto filosófico:
- Ver o tipo de texto;
- Trabalhar as suas ideias-chave;
- Destacar argumentos ou ideias que premitam caracterizar corretamente o assunto/tema em análise;
- No caso de haver vários autores/perspetivas diferentes indicar o seu contributo para a questão analisada;
-Fazer resumo ou síntese do texto;
- Esclarecer o alcance comparativo e/ou problemático das perspetivas apresentadas;
- Ser capaz de se posicionar face ao texto: apropiação pessoal e postura crítica.


Professora de Filosofia Isabel Nunes de Sousa ( Grupo de Filosofia da Escola Secundária Rainha D. Amélia)

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Filosofia e cinema

O cinema é um das ferramentas que convoca imagem, literatura, música no sentido de apresentar uma narrativa que persegue diferentes objetivos. Do entretenimento, à apresentação de contextos históricos, à simples criação de universos fantásticos, o cinema como forma de arte introduz questões de natureza filosófica, ao discutir princípios e formas de olhar o Mundo. Poderemos falar de Filosofia no cinema ou cinema na Filosofia, sendo que o que mais nos importa é verificar como as imagens conduzem à construção de conceitos e os fazem evoluir para uma compreensão global que não dispensa a ambiguidade de sentimentos e emoções.

Nem sempre a construção de um filme considera as questões filosóficas, como fazendo parte da sua génese e objeto. No entanto, se considerarmos a sétima arte, no sentido de uma construção artística, de questionamento de valores e de referencial para hipóteses de compreender o real, podemos usá-la como uma forma de estudo muito significativa no estudo da Filosofia. O Cinema, tal como a Filosofia, procura não reconstruir a vida, mas lê-la, representá-la nas suas formulações essenciais. Nesta representação joga-se o essencial da Filosofia e da Arte. Justamente a dialética entre conhecimento e comunicação, entre teoria e prática, entre criação e imaginação, entre imagem e realidade.

Este blogue, como página de recursos e de construção de situações de reflexão, procurará discutir um conjunto de questões filosóficas que um variado número de filmes aborda e que se podem enunciar como as mais essenciais, como sejam o caso da Ontologia ou da Metafísica, desafiando-nos a pensar o que tem sido a evolução da Humanidade. O cinema como recurso de "instrução" das pessoas tem sido em largo sentido, substituído por uma recriação de universos de intimidade, que a literatura desempenhou ao longo de diferentes décadas, razão que explica a grande quantidade de obras literárias adaptadas ao cinema.
Daí ser muito importante otimizar este recurso como aprendizagem das questões filosóficas e apoio ao estudo da disciplina de Filosofia.

Luís Campos (Biblioteca)

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Comunicar...


“Assim, a origem da filosofia é o espanto, a dúvida e a experiência das situações limite; mas, em último lugar e incluindo todas estas motivações, é a vontade de autêntica comunicação. Isto revela-se logo de princípio pelo facto de toda a filosofia ansiar pela participação, exprimir-se, pretender ser ouvida; essencialmente é a própria comunicabilidade que está indissoluvelmente ligada à verdade. Na comunicação, a filosofia alcança a sua finalidade, o fundamento e o sentido último de todos os fins: a apreensão do ser, a claridade do amor, a plenitude da paz.” 

Karl Jaspers, Iniciação Filosófica

Construir um pensamento filosófico...

Como se obtém a capacidade de construir um pensamento e interrogar o que nos rodeia? É possível nascer como filósofo ou aprende-se com o tempo, com o que estudamos, com a experiência do que vamos tendo na vida? Se todos poderemos ser filósofos, porque alguns deixam de o ser ao longo da vida? Michel Onfray dá-nos algumas pistas.
 Vejamos o que ele nos diz nesta entrevista:

Penso realmente que nós nascemos filósofos e só alguns o continuam a ser. Há uma grande razão nas crianças que perguntam "porquê". Querem saber. Por que é que a noite é negra, por que é que a água molha, ou por que é que as pessoas morrem. As crianças colocam grandes questões de Ontologia, de Metafísica, de Filosofia. 

E muitas vezes os pais renunciam a responder porque não têm, forçosamente, os meios intelectuais, ou o tempo. Por vezes dizemos: não sei, mas vamos encontrar numa biblioteca, vamos procurar num livro. Depois, há um momento, em que as pessoas acabam por renunciar a responder às questões. E desde que se entra na escola, pede-se que cada um responda a questões que nunca nos foram colocadas.

E dizem-nos: agora, se quiseres ser um bom aluno deves saber qual é o PIB de um país qualquer. Naturalmente ninguém é levado a colocar-se essa questão. Aprendemos na escola, coisas muitas vezes, pouco significativas. Dizem-vos: as questões que te colocaste cessa de as colocar. Em troca aprende as respostas a questões que tu raramente te colocas. 

Efetivamente isso desespera um certo número de indivíduos e alguns resistem a isso. E esses que resistem a isso, dizem: 
- Eu persisto com as minhas questões, eu quero as minhas respostas. Vou procurá-las. Ora bem, esses são os naturais filósofos. E de seguida, podem tornar-se filósofos de profissão porque terão aprendido na Universidade. E colocarão as questões, quem pensou o quê, quando, como, de que forma. E depois disso, um dia talvez, uma destas pessoas que exerceu o pensamento, que se questionou possa escrever livros de Filosofia, possa ser um Filósofo no sentido académico porque se pôs a questão fundamental: o questionamento do sentido da vida.

Michel Onfray, La Grande Librairie. Magazine Littéraire. TV5. 2013.
Imagem, O pensador de Rodin. 

domingo, 25 de outubro de 2015

Ser livre

“É importante ser livre, porque um espírito livre contém a essência da humildade. O espírito que é livre e por consequência pleno de humildade, é capaz de aprender, contrariamente ao espírito que resiste. Aprender é uma coisa extraordinária - aprender e não acumular conhecimentos. Aquilo a que chamamos o saber é relativamente fácil, o saber vai do conhecido ao conhecido. Mas aprender é o movimento do conhecido ao desconhecido – é só assim que aprendemos, não é verdade?”
Jiddu Krishnamurti

sábado, 24 de outubro de 2015

O que é a Filosofia?

A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, não assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento. E, ao contrário da matemática, não tem métodos formais de prova. A filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando ideias e pensando em argumentos possíveis contra elas e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos.
A preocupação fundamental da filosofia consiste em questionarmos e compreendermos ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensarmos nelas. Um historiador pode perguntar o que aconteceu em determinado momento do passado, mas um filósofo perguntará: «O que é o tempo?». Um matemático pode investigar as relações entre os números, mas um filósofo perguntará: «O que é um número?». Um físico perguntará de que são constituídos os átomos ou o que explica a gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas mentes. Um psicólogo pode investigar como é que as crianças aprendem uma linguagem, mas um filósofo perguntará: «Que faz uma palavra significar qualquer coisa?» Qualquer pessoa pode perguntar se entrar num cinema sem pagar está errado, mas um filósofo perguntará: «O que torna uma ação certa ou errada?»
Não poderíamos viver sem tomarmos como garantidas as ideias de tempo, número, conhecimento, linguagem, certo e errado, a maior parte do tempo, mas em filosofia investigamos essas mesmas coisas. O objetivo é levar o conhecimento do mundo e de nós um pouco mais longe. É óbvio que não é fácil. Quanto mais básicas são as ideias que tentamos investigar, menos instrumentos temos para nos ajudarem. Não há muitas coisas que possamos assumir como verdadeiras ou tomar como garantidas. Por isso, a filosofia é uma atividade de certa forma vertiginosa, e poucos dos seus resultados ficam por desafiar por muito tempo.
Thomas NAGEL. (1997). Que quer dizer tudo isto? uma iniciação à Filosofia. Lisboa: Gradiva, p. 8-9.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Pensar ... questionar ... compreender...

"Não tenha medo de começar a pôr questões e a formar conclusões provisórias à medida que lê. Mas note: provisórias. O que quer que faça, não se deixe agarrar pela mais preguiçosa e complacente das atitudes, a de que “todos têm direito à sua própria opinião”. Adquirir direitos não é assim tão simples.
Tenha antes em mente o comentário irónico de George Berkeley (1685-1753): “Poucos são os homens que pensam, mas todos têm opiniões.” Se é verdade é uma pena, por uma razão: pensar é parte da diversão".
 Edward CRAIG, 2002.

Começar...

Diz-me se
na água reconheces o rumor
adormecido dos búzios

Diz-me se o outono tem
a ver com as algas
com a incerteza das folhas

e se há um sentido oculto

no rodar das estações




Diz-me se

toda a imagem é engano
ou filha enjeitada
do fogo

Diz-me se é certo

que o tempo
é um único olhar
prolongado nos dias

se a vida é o avesso da vida

e se há morte (1)


Os espaços mentais onde habitamos fazem-nos construir um sentido da realidade, uma fracção de tempo onde vivemos as nossas projecções do que julgamos conhecer. As ideias são a ferramenta para descobrir universos e para integrarmos as sombras que se escondem em cada passo na manhã do olhar. 

Muitos, ao longo de séculos perseguiram uma luz que iluminasse um sentido da vida ou que apenas desse sinais capazes de reformular as linhas ausentes. Essa busca, esse olhar pelo inteligível que tenta formular os fundamentos do Universo nos Gregos ou tão só a ideia de Descartes de conhecer amplamente o que conhecemos é a procura pelo sagrado/divino que cada Homem procura encontrar.

É desse resgate da luz, fundamento de mundos iluminados que a Filosofia como disciplina de ideias procura. É desse encontro com a nossa essência humana, os nossos percursos de palavras e ideias que ela se alimenta como uma forma de deslumbramento na própria experiência do mundo.


Esta página digital procurará reconhecer os ecos ocultos que nos chegam das ruas onde inventamos os nossos nomes. O sentido do exercício da liberdade enuncia-se na descoberta de todas as instâncias, entre as palavras que podem abalar o sentido formal dos universos. 

(1) José Tolentino Mendonça. (2010). "O olhar descoberto". A noite abre meus olhos. Assírio e Alvim, p. 18.
Imagem - Copyright: Julie de Waroquier


O mistério das coisas

O mistério das cousas, onde está ele? 
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os
homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXIX"
Heterónimo de Fernando Pessoa 

Início - apresentação

Pretende-se, com a Página de Filosofia, abrir um espaço de debate e reflexão sobre questões fundamentais sobre o homem, a vida, o mundo e o mistério das coisas/seres. Sabendo que, desde sempre, a Filosofia abriu as vias/portas do espanto, da curiosidade e do entendimento mais profundo das coisas, não só, numa perspetiva teórica mas também prática, esta página será um contributo a procurar, ainda hoje, o caminho da sabedoria em tempos sombrios (Hannah Arendt).
Nesse sentido, esta Página, contará com contributos de alunos e professores, potenciando a autonomia, a criatividade, a liberdade de pensar bem como o exame crítico das questões que se colocam como desafio ao pensamento contemporâneo, nunca prescindindo da sua inscrição história e problematização aberta visando a abordagem persptivística e plural que sempre caracterizou a Filosofia enquanto busca da verdade ou compreensão do horizonte de sentido que acompanha o homem na sua finitude mas como ser que comporta em si algum desejo de Infinito (Antero de Quental). 
Perante toda a dificuldade e complexidade que o Mundo Contemporâneo apresenta, a Página de Filosofia justifica-se enquanto espaço interdisciplinar e transdisciplinar, que comporta em si uma aspiração a uma compreensão global sempre dependente dos quadros de referência, das configurações simbólicas, dos desejos e expectativas bem como das aspirações e horizonte de esperança que acompanham o homem na sua temporalidade, através das épocas , e como disciplina que deve ainda assumir-se como essa preocupação e cuidado com o que pode ainda conferir um sentido profundo à vida humana bem como a toda a realidade que o ultrapassa - quer a entendamos numa perspetiva ontológica, bio-antropológica, ambiental ou religiosa. Só aí pode iluminar-se o possível “mistério das coisas” que dá título a esta página.
Sabendo que a Filosofia, para lá de um campo teórico de compreensão – que posso saber? - deve acentuar, hoje, o seu afazer como tarefa prática – que devo fazer? – procurando as possíveis respostas e condições efetivas de transformação do mundo, de modo a que a vida recupere o sentido no horizonte daquilo que é a aspiração suprema a uma Vida BOA (Aristóteles) ou CUMPRIDA (Sócrates/Platão) - que me é permitido esperar? – esta página terá por objetivo constituir-se como um mapa de orientação, já traçado nas perguntas kantianas,  bem como uma possibilidade de abrir as vias ao mistério de existir e mistério das coisas que sempre acompanhou o homem nessa busca a ser autenticamente humano no seio dos outros seres e da Terra/Universo.
Por último, sendo a escola um espaço privilegiado de educação e formação do ser humano e lugar de testemunho e legado do saber intergeracional, o contributo da Filosofia, apresenta-se, também, como insubstituível enquanto saber pensado e enquanto prática refletida apontando saídas para dar esperança àquilo que se sente como sintoma  de uma ausência ou perda de sentido e desencanto na nossa época.

Professora de Filosofia Isabel Nunes de Sousa ( Grupo de Filosofia da Escola Secundária Rainha D. Amélia)