sábado, 18 de novembro de 2017

Dia Internacional de Filosofia 17-18

Neste ano, o Departamento de Filosofia decidiu conciliar as atividades do Dia Internacional de Filosofia com o centenário da abolição da pena de morte em Portugal. Partindo do texto "Apologia de Sócrates, os alunos refletiram e debateram este importante assunto que, infelizmente, ainda nos surge como um debate necessário na atualidade. Em breve, publicaremos o resultado de alguns desses trabalhos e debates.


sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Se eu fosse uma coisa...

Eis alguns exemplos produzidos pelos alunos do 11º H1 (17-18) em resposta ao desafio deixado pela Teresa Santos.

Se eu fosse uma "coisa" seria um livro, para que todos pudessem ler a minha história. 
Não seria um livro qualquer . Seria um livro bibliográfico, escrito por todos aqueles que me rodeiam, em que a história fosse contada pelo prisma dos outros e não apenas pela visão da personagem principal. 

João Pedro Amor Esgalhado, 11º, H1 

Uma Macieira pode dar nozes?

Estas foram algumas das respostas produzidas pelos alunos do 10º C2 (17-18) a este desafio deixado pela professora Teresa Santos:

Resposta à pergunta ‘’Porque é que a macieira pode dar nozes?’’

  Um enxerto poderá fazer com que a macieira dê nozes, ou seja, com a intervenção humana. Também pode ser uma macieira geneticamente alterada de modo a dar nozes. Mas fica uma macieira ou uma nogueira? A filosofia é uma ciência que está antes de todas as ciências e ocupa-se do pensamento de todas elas, logo, qualquer resposta relacionada com a biologia é aceitável. Outra hipótese seria mudar as convicções humanas de modo a que se chame macieira a uma nogueira e, nesse caso, teremos uma macieira que dá nozes. A linguagem é um jogo de convicções que podemos mudar, alterando o sentido da palavra.


Tiago Cabrita, 10º C2

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Um ponto intermédio

“A  linguagem é o ponto de partida para nós podermos comunicar aquilo que veio ter connosco, por um lado, e por outro lado, aquilo que nós não conseguimos absorver.” (1)

Este blogue "Do mistério das coisas" tentou ser um espaço de articulação entre a área temática da Filosofia e uma Biblioteca Escolar. Nele se tentou abrir um espaço de reflexão sobre algumas das questões essenciais que dizem respeito ao homem e à vida, ao mundo, ao mistério das coisas e dos seres que habitam este planeta. 

Este blogue procurou ser um espaço de partilha de recursos, de motivação à escrita de textos / comentários sobre diferentes temáticas. No fundo procurou tentar dar um contributo, para que dos textos, do conhecimento se possa progredir para um saber fazer que é também uma forma de aprendizagem da vida. 

Temáticas como Os Direitos Humanos, textos e pensamentos sobre a Liberdade, a Ética, a Política, a Arte, ou a representação foram áreas publicadas. Publicaram-se textos e materiais a partir da exploração de aplicações digitais. O Blogue funcionou entre outubro de 2015 e julho de 2017. Publicaram-se 150 textos / materiais, dos quais vinte e nove foram produzidos pelos alunos.

Neste projeto procurou-se abordar as áreas de exploração das temáticas ligadas a uma atitude construtiva que se relacionavam com a vida e o homem. Algumas vezes foi possível discutir o valor e a importância das Humanidades e trazer o real, o quotidiano para uma análise filosófica dessas questões. A linguagem é a nossa forma de nomear as coisas, de lhe dar em sentido  em nós, o que significa atribuir significado ao mundo 

Chamamos a este último post, "um ponto intermédio", na esperança que a próxima equipa da Biblioteca possa conduzir esta ideia / projeto que nos pareceu interessante e importante para os alunos.
Aos que nos visitaram e sobretudo aos professores e alunos que colaboraram neste espaço digital, um muito obrigado. Desejo a todos felicidades para os dias a seguir, como disse Sophia, para algo de belo e de substantivamente justo.

(1) Maria Gabriela LLansol. Paris, Sorbonne, 24 de Outubro de 1988, Les Belles Etrangères
Imagem: Fídias, Métopa do Pártenon, 447-432 a.C. Londres, Museu Britânico

A representação do belo - [II]


Quando pensamos em belo sabemos que nele, como tudo o que envolve a vida humana é relativa aos tempos sociais e culturais. O que hoje achamos belo amanhã muda de sentido, pois os códigos de beleza alteram-se. E, no entanto ao olharmos para a Vénus de Milo, ou o Discóbolo de Mirone, expressões de séculos encontramos ainda ali um ideal de belo, uma representação que achamos bonito, tal como o podemos ver num quadro de Vermeer ou numa natureza de Monet. Encontramos aí uma representação substantiva de belo, ainda que saibamos que essa aquisição do belo se fez pelos valores sensoriais, algo a que acedemos de uma forma diversa quando tentamos definir o Bem ou a Verdade.

Quando falamos do belo como experiência sensorial perguntamo-nos como essa aquisição se faz em cada um de nós. É pela educação, ou apenas por algo que cada um de nós pode ou não ter incentivado como uma procura. As crianças são um exemplo muito significativo, dessa forma de encontrar um modo de comunicação, como se essa observação fosse um diálogo entre nós e a arte, ou com a simples observação de uma paisagem, da leitura de um livro, algo a que poderíamos chamar uma Graça. O belo que se apresenta nessas dimensões, é como algo que está para lá da compreensão.

O que compreendemos num templo budista? Podemos sobre isso dar aquela resposta que João Bénard da Costa (1) contava uma história interessante, a de que uma criança ao ler excertos dos Lusíadas dizia, "Eu não percebo nada disto, mas isto é tão bonito". E talvez que em muitas circunstâncias o belo seja não só o que ultrapassa a compreensão, ou que está para além dela, mas seja também uma forma de encontro. Um encontro com algo de maravilhoso e que se realize pela incompreensão.

A visita a um templo oriental, como o templo dourado em Kyoto provoca um sentido diferente de perceção do espiritual, mas ainda assim achamo-lo belo. E, todavia compreendemos a sua funcionalidade? Não a percebemos e talvez seja isso que o belo seja, o que não se percebe tão bem, ou se percebe menos e, justamente porque a compreensão é do nível do mistério. Podemos visitar o Epidauro, conhecer as características técnicas daquele espaço, mas a transcendência pode não nos contemplar. E assim o que fazemos é o estudo da Estética, em que relacionamos a representação do belo com as ideias filosóficas de um tempo. E aqui temos muitas possibilidades.

Desde os Gregos que a ideia de belo evoluiu. A sabedoria foi a primeira forma de belo, foi nas palavras dos poetas que ela primeiro se definiu, com o que conhecemos da obra de Homero e Hesíodo.
O belo relaciona-se com essa dimensão essencial de todos, a vida ainda. Como a podemos alimentar? Com que palavras? Com que sabedoria habitaremos a vida e a sua essência, o seu coração? Como a entendemos entre uma ideia secular de destino, um grito de ar, de visão entre momentos escassos, esse nada que varia entre promessas e nenhuma crença, apenas um fio de escuro. Parece pois essencial ter algum pensamento, descobrir na beleza uma sabedoria para a construir, para a edificar. A palavra sabedoria conduz-nos à ideia de uma aprendizagem.

Sophia criou sem dúvida uma ideia de belo que retomava valores clássicos, mas que os afirmava em novos tempos. Fazia a ligação entre o Belo e o Bem. Com ela a experiência estética transforma-se numa experiência ética e deu-nos essas palavras essenciais, a da relação justa entre as coisas e os homens. É dessa construção de um valor inteligível da vida, a que o belo se encontra associado. É dessa viagem desde os Gregos aos inícios da modernidade que aqui tentámos falar durante alguns  meses.

(1) João Benard da Costa, Ciclo de conferências "Ecce Homo", Lisboa, Maio de 2007.
Imagem - Teatro do Epidauro - séc. IC a. C., civilização grega, nas margens do mar Egeu. 

A representação do belo - [I]

"O que é belo há-de ser eternamente uma alegria, e há-de seguir presente.  Não morre; onde quer que a vida breve nos leve, há- de nos dar um sono leve, cheio de sonhos e de calmo alento." (1)

"O belo na representação da arte, a fruição estética da criação!", foi uma ideia que desenvolvemos, com a construção de um conjunto de recursos sobre as ideias e a representação artística em determinados períodos. Fomos deixando alguns recursos sobre essa relação na civilização grega, no período medieval, no Renascimento, no Iluminismo e terminámos com algumas leituras sobre o Sublime. Nos dois posts finais, dois pequenos textos sobre o Belo em si, ou seja como poderíamos abordá-lo de um modo mais genérico, como ele poderia ser pensado. É um ponto de chegada e um ponto de partida. 

Os artistas e criadores em diferentes épocas tiveram motivações diversas. Uma das suas fortes motivações foi ainda assim o prazer das obras apreciadas. A procura do belo e a tentativa de atingir um nível de perfeição conduziu muitas criações. Definido como "gracioso", "bonito", "maravilhoso", o belo muitas vezes se identificou com o bom. Na nossa expressão diária muitas vezes o que definimos como belo é o que nos agrada ou que desejamos ter.

Muitas vezes associamos o belo ao bom, ao que transmite um ideal, que pode estar associado a um mito, ou a um herói. Essa ideia pode ser conhecida ou identificada como bom, mas pelas circunstâncias de sofrimento desses heróis, ela não se transforma num desejo nosso.

Esse sentido de bem afasta-se das nossas opções. Existe pois uma diferença crucial entre o Belo e o Desejo.

O belo visto numa obra de arte é algo que não suscita o nosso desejo, mas algo que existe por si, como representação bela de algo que muitas vezes possa o não ser, como em algumas situações da natureza. É desse belo, sentido e admirado numa cultura que aqui falámos. O Belo exprimido na Arte, mas também pela representação da natureza, pois esta foi em muitos momentos a representação do Belo. 


Por vezes representações de uma época podem ser consideradas belas, ainda que de contornos morais duvidosos. Falámos aqui da evolução da beleza tendo em atenção que ela nunca foi um absoluto e evoluiu ao longo da História nas suas representações mitológicas, da natureza e da visão da sociedade e dos seus elementos. E há naturalmente que reconhecer que muitas vezes, uma mesma época criou diferentes ideias de belo, de acordo com a sua própria evolução cultural.

O belo é umas das áreas em que a Estética, como disciplina tentou definir um conjunto de conceitos evolutivos relacionando as ideias, a cultura, o social e a representação de formas diversas pela expressão artística. A Estética foi já lida de muitos modos e talvez a mais interessante seja aquela que nos diz que ela é uma forma sensível de conhecer, algo como uma alternativa à razão. Os objetos estéticos criam em nós formas de sentir. É consensual que o belo se associa muitas vezes ao que agrada, ao que dá uma satisfação capaz de um entusiasmo. O belo tem si as suas próprias formas de beleza, ou somos nós como observadores a construir um conceito?


Quando entramos numa igreja românica, ou numa catedral gótica, ou num templo budista a beleza emerge como uma realidade. Esses são espaços de beleza.

A primeira pergunta a fazer é por que chamamos belos a esses espaços e por que razão os espaços de oração e recolhimento são portadores de uma ideia de Beleza?
A segunda questão pertinente é a de reconhecer que num livro como a Bíblia está ausente a formulação de belo. A única aparição da ideia de belo refere-se ao reino de Salomão e a sua comparação com os lírios do campo. A única referência de belo nas Escrituras Sagradas é uma referência natural e relativo a uma dimensão espontânea.
A terceira questão que importa fazer, há algo de imutável no belo, há nele algo de permanente?

 (1) Kohn Keats. (1841). "Endymion", in The poetical works of John KeatsLondon: William Smith.
Imagem - Estela grega de uma criança, séc. V a. C.; Dartmouth College's Hood Museum; The Onassis Cultural Center in New York

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Conteúdos na rede - A representação do belo - [O sublime] (2)

As ideias de Kant e a sua construção da ideia do Belo e de Sublime foi a partir do século XIX conduzida por outros autores e que criarão ideias diferentes e que estarão na base da sensibilidade romântica. Para Schiller, “o Sublime será um objecto, diante de cuja representação a nossa natureza física percebe os seus próprios limites, do mesmo modo que a nossa natureza racional sente a sua superioridade e a sua independência em relação a todos os limites."

Hegel falará do Sublime como uma tentativa de exprimir um sentido de infinito. Tentativa que não encontra no mundo dos fenómenos possibilidade de encontrar uma adequada representação. A ideia de Sublime em Setecentos relaciona-se não com a Arte, mas procura-se materializar-se como uma experiência que se relaciona com a Natureza, para concretizar uma experiência de Sublime. O movimento romântico terá uma questão a que procurará dar resposta, como exprime o Sublime nas Artes? 

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa:Difel.
Imagem: Caspar David Friedrich, Monk by the Sea, 1808, Alte Nationalgalerie, Staatliche Museen zu Berlim.

Conteúdos na rede - A representação do belo - [O sublime] (1)

Pesquisa filosófica sobre a origem das nossas ideias do Sublime e do Belo de Edmund Burke, de 1756 é a obra que fará a introdução do Sublime na sociedade, no sentido de a discutir de uma forma estruturada. Em Burke há uma oposição entre o Belo e o Sublime. A Beleza existe como uma qualidade objetiva que é testemunhada pelos sentidos. Não reconhece o que séculos erigiram do ponto de vista estético, como o valor da proporção, mas antes vê na Beleza conceitos como a variedade, a variação gradual, a clareza da cor, a graça, a elegância. No Sublime Burke vê uma vastidão de horizontes, a rudeza, a solidez e a dimensão do tenebroso que a poética das ruínas ou o gótico oitocentista irá elaborar. O Sublime para Burke nasce de ideias de força, de um sentimento de vazio, onde se enquadram o silêncio e a solidão. O Sublime é caracterizado por aquilo que não é finito, por aquilo que aspira a algo cada vez maior. A relação entre o Belo e o Sublime advém da resposta a uma questão. Podemos encontrar alguma fonte de prazer no terror, no tétrico?
Esse mistério pelo terror implica que nos afastemos dele, o que significa a um certo desinteresse, o que equivale àquilo que durante séculos esteve ligado ao Belo. Tanto o Belo como o Sublime é algo que não conduz a uma posse e assim, no caso do horror como catalisador do Sublime é algo que não nos afectará negativamente.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa:Difel.
Imagem: Giovanni Battista Piranesi, Prisioneiros na plataforma suspensa, mesa de Carceri d’ invenzioni, 1745.
 
Se Edmund Burke fez a introdução da discussão sobre o Sublime, foi Kant que melhor fez a precisão entre Belo e Sublime. Essa precisão foi feita na sua obra de 1790, Crítica da faculdade de juízo. O belo para Kant está associado a um conjunto de características: uma finalidade que não tem um objetivo, um prazer que se constrói desinteressado e uma universalidade. O Belo apresenta-se como algo que nos concede prazer, mas que nós não tentamos possuir. O Belo associa-se a uma representação que parece assumir-se como uma regra de si própria, do que desperta, define uma universalidade desprovida de um conceito. O belo não passa por um juízo estético, mas pela dimensão concreta desse belo, pois não depende de um raciocínio que se oriente por categorias, mas apenas pelo que o observador sente. Há no Belo de Kant uma experiência que se joga entre a imaginação e o intelecto do observador.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa:Difel.
Imagem: William Bradford, Glaciar Sermitsialik, c. 1870, Old Dartmouth Historical Society, New Bradford,
 #Osublime
#Obelocomorepresentação

Em Kant o Sublime não se confunde com o Belo. Existem duas formas de Sublime, o matemático e o dinâmico. O céu estrelado à noite pode ser um exemplo da primeira forma de Sublime. Aquilo que presenciamos conduz-nos a uma fonte de experiência que excede o que realmente vemos. É pela nossa razão que definimos um sentido de infinito que aquela observação nos deu, pois nem a imaginação, nem a intuição permitem tal construção naquele cenário.  Incapaz de construir um diálogo entre a imaginação e o intelecto assume-se a nossa subjectividade que pode imaginar o que pode não existir.
Uma tempestade pode ser o exemplo a reter para o Sublime dinâmico. Aqui não criamos impressões através da observação de algo de dimensão infinita, mas é a sua força que nos revela a nossa fragilidade que apenas pode ser compensada pela afirmação do valor moral da nossa condição humana.
Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa:Difel.
Imagem: Caspar David Friedrich, A lua eleva-se sobre omar, 1822, Staatliche Museum, 
 #Osublime

#Obelocomorepresentação

A palavra e o mundo - Mozart (II)

terça-feira, 11 de abril de 2017

Conteúdos na rede - A representação do belo - [O século XVIII] (6)

O século XVIII fez avançar a razão. Mas ela, como Kant o pressentiu tinha no su inetrior elementos não racionais, aquilo que ele designou “A beleza vaga”, aquilo que se integra no abstrato, e que se distingue da “Beleza aderente”. Aquilo que o século XVIII nos faz interrogar é essa dicotomia entre o intelecto que assume uma forma de “sentir”, como num quadro de Watteau e um outro “sentir” adjacente à razão e permeável à gentileza. Este belo, dividido entre o intelecto e a razão introduzem-se no campo da imaginação, naquilo que a moral consegue definir. A superação desta divisão será feita por Kant com o seu conceito de sublime e será explorada pelo Romantismo com a sua exploração do conceito da “Beleza vaga”.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem: Jean-Antoine Watteau, A canção do amor, 1710-1720, Tate Gallery, Londres.
#Arazãoeabeleza
#Obelocomorepresentação

Kant reconheceu na natureza um poder ilimitado e uma ideia de infinitude. Kant reconhecia-lhe uma confiança que transmitia um valor de positividade, valor que não era demonstrável, mas que conduziria ou influenciaria o homem para uma ideia de progresso humano. Mas a natureza era também uma fonte de limitação à vida e por isso essa harmonia não era susceptível de se tornar uma emoção universal. Na verdade o Sublime, estádio superior do Belo é o reconhecimento de uma dimensão muito importante da razão humana, a sua independência em relação à Natureza, pela descoberta de uma faculdade ligada à experiência do sensível.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem: Angelica Kauffmann, Auto.-retrato com o busto de Minerva, c. 1770, Uffizi, Florença.
#Arazãoeabeleza
#Obelocomorepresentação

A Beleza também pode ser cruel e tenebrosa. É ainda Kant que o definiu. Nós temos uma razão que é independente da natureza e temos uma necessidade de encontrar uma fé nessa Natureza. A nossa razão pode desmaterializar um objecto compreendido e transformá-lo num conceito, ou ainda  pode tornar-se independente desse conceito. Dentro deste quadro, não poderão as coisas,as pessoas, a sociedade transformar-se num corpo manipulável? Assim, como se pode impedir as formas e os conceitos de planear o mal e a própria destruição da vida? Assim a Beleza pode ser uma máscara, atrás da qual se encontram os lados tenebrosos.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem: Grancisco Goya y Lucientes, O sono da razão gera monstros, 1797-1798, Kusthalle, Hamburgo.
#Arazãoeabeleza
#Obelocomorepresentação

Conteúdos na rede - A representação do belo - [O século XVIII] (5)

Nem sempre o século XVIII e em todos os lugares houve essa abertura e essa consagração do belo entre o homem sensível e a representação da natureza. Em Inglaterra William Hogarth não seduziu a sua construção de um belo narrativo, ou de uma representação pouco interessada no aspetos de classicidade da aristocracia britânica. A arte por vezes cria frustrações nas expetativas de um público que a consome e que não se revê em determinados valores. Don Juan de Mozart que prenuncia o início de um outro mundo mental é ainda quando representado olhado com alguma distância. A burguesia nem sempre gostou de se ver no espelho, ainda que seja de um génio.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem: William Hogarth, Os criados da casa Hogarth, 1750-1755, Tate Gallery, Londres.
#Arazãoeabeleza
#Obelocomorepresentação

O romance também deu conta do sentimento que  o século XVIII exprimiu. O diário íntimo
dará forma a esse sentimento, e lançará as sementes para o Romantismo. O romance do século XVIII avançará a ideia essencial para o futuro de que o sentimento não é uma perturbação criada pela mente, mas que é uma expressão da razão e da sensibilidade, o que revela ser um enriquecimento para a vida humana. O sentimento ao ser conquistado pela razão torna-se um elemento mediador de uma tirania que a razão poderia ter. Rousseau via no sentimento um antídoto para contrariar a beleza decadente e artificial e viu nele uma reconquista para o coração atingir uma beleza mais perfeita, mais íntima ou próxima da natureza.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem: Jacques-Louis David, Retrato de Madame Récamier, 1800. Museu do Louvre, Paris.
#Arazãoeabeleza
#Obelocomorepresentação

Não é possível falar do século XVIII e da sua estética sem referir Immanuel Kant e a sua obra A Crítica da faculdade de Juízo, datada de 1790. Kant será o apogeu dos aspetos subjectivos ligado ao gosto que o século XVIII afirmou. A experiência estética do Belo, para Kant, revela uma natureza desinteressada. O Belo é algo que nos agrada de um modo desinteressado, sem que isso seja originado por um conceito. Assim, o gosto é uma faculdade humana que consegue julgar de um modo desinteressado um objeto, ou a sua representação, como é o caso da Arte. O prazer que uma representação nos dá através de um olhar é que é o belo. Assim a universalidade do belo torna-se um conceito subjetivo. Pode ser uma ideia inicial de um criador, mas não necessariamente terá de ser apreendido por um valor universal de natureza cognoscitiva.
Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem: George Romney, Retrato de Lady Hamilton como Circe, c. 1782, Tate Gallery, Londres. 
#Arazãoeabeleza
#Obelocomorepresentação

Conteúdos na rede - A representação do belo - [O século XVIII] (4)


Diderot e Winckelmann viram nas ruínas uma duplicidade de sentidos. A beleza das ruínas, no sentido de nelas compreender a efemeridade da ação humana e a ruína do tempo e igualmente uma fé que permita uma reconstrução, uma fidelidade a algo original. As descobertas feitas pela Arqueologia levaram Wincklemann a querer reconstruir uma pureza do passado, quase como a que Rousseau imaginou possível para o homem, simples, em oposição a construções elaboradas, fictícias quer no plano humano, quer na arquitectura.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem: Johann Heinrich Füssli, O desespero do artista perante a grandeza dos fragmentos antigos, 1778-1780, Kunsthaus, Zurique.

#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação


O século XVIII criou uma definição estética de grande inovação em relação ao Renascimnto e ao que foi o século XVII. O século XVIII criou uma relação que o aproxima do mundo contemporâneo, um diálogo relacional entre público e privado. É o século da afirmação do papel das mulheres em salões literários e da introdução de novos temas artísticos.  O século XVIII rompe com a tradição de dependência total do artista em relação ao seu mecenas. O início de uma “indústria” editorial dará aos artistas e pensadores alguma independência. Mozart teria tido mais chances económicas se tivesse vivido no século XVIII, quando um músico já era um pouco mais interessante que um cozinheiro. As histórias nacionais ganham importância como narrativa escrita e lida. Neste século surgem também os compiladores de livros mais populares e que fazem a divulgação dos temas mais pertinentes dos grandes temas políticos e filosóficos.
Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.

Imagem: François Boucher, O pequeno-almoço, 1739, Museu do Louvre, Paris.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem: Johann Heinrich Füssli, O desespero do artista perante a grandeza dos fragmentos antigos, 1778-1780, Kunsthaus, Zurique.
#Arazãoeabeleza;#Obelocomorepresentação


Os salões literários desempenharam um grande papel no século XVIII. O aumento da leitura daria à França a possibilidade de criar um terreno que irá favorecer a Revolução. A estética dividiu-se entre o Neoclassicismo e o Rococó. Se Napoleão seguiu o primeiro, o segundo era o emblema de um Antigo Regime de má memória. Desenvolve-se o espírito crítico. Nasce o crítico e aquele que apenas tem uma opinião. Addison e Diderot são o emblema de um período que oscila entre a imaginação como perceção e a beleza que se constrói entre a sensibilidade e a natureza. A imprensa foi essencial para a difusão destas ideias.
Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem: Jacques-Louis David, Retrato do casal Lavoisier, 1788, The Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque.

#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação

Conteúdos na rede - A representação do belo - [O século XVIII] (3)

O neoclassicismo, ou se quisermos um novo classicismo procurou conciliar duas ideias diversas, mas que convergiram para a construção do espírito burguês. Justamente o rigor pelo que se assumia individualista e a paixão pela descoberta arqueológica. O individualismo construiu-se pela atenção dada ao domínio do privado que o domicílio vai assumir. A rigidez das normas é outra das suas vertentes. O novo classicismo procura impor uma nova Beleza, uma reformulação da beleza clássica, como uma nova Atenas, onde a razão tudo poderá entender. A paixão pela arqueologia fará despertar a curiosidade pelas terras distantes, pela procura de uma beleza diferente, exótica, que seja diferente dos ideais europeus. O antigo e original são dois dos valores por onde evoluirá o neoclassicismo. A arqueologia irá contribuir para fazer evoluir o gosto europeu. Descoberto o clássico grego como uma interpretação feita pelo século XV, o século XVIII tenta encontrar a fonte, do que poderá ser a “verdadeira” antiguidade.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem -Johann Heinrich Wilhelm Tischbein, Goethe na campina romana, 1787, Städelshes Kustinstitut, Frankfurt.
#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação

“A Beleza não é uma qualidade das coisas em si mesmas: só existe na mente que as contempla e cada mente percebe uma Beleza diferente. Também pode existir quem perceba uma Fealdade, onde outro experimenta uma sensação de Beleza; e cada um deveria satisfazer-se com o seu sentimento sem pretender regular o dos outros. Procurar a Beleza concreta ou a Fealdade concreta é uma busca tão infrutuosa quanto a de pretender estabelecer o que é realmente doce ou amargo; e é bem certo o provérbio que reconheceu a inutilidade da disputa à volta dos gostos. É absolutamente natural e até necessário estender este axioma ao gosto mental, independentemente do gosto corporal; e, assim, o senso comum que tão frequentemente se aparta da filosofia e especialmente da filosofia céptica, concorda, pelo menos num caso, com ela ao pronunciar o mesmo veredito.”

Fonte: David Hume, Ensaios morais, políticos e literários, XXIII, C. 1745..
Imagem –António Canova, As Graças, 1812-1816, Ermitage, São Petesburgo.
#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação

A segunda metade do século XVIII conhecerá uma iconografia de heróis e ruínas, entre corpos assombrados nesse universo que nos dá a ideia de que a estética neoclássica teve exigências diversas. As ruínas entendidas como algo belo é uma afirmação nova que se funda na procura de temas originais que ultrapasse os cânones. Se encontramos o racional, também encontramos a melancolia que admira uma ruína, como é o caso de David diante do corpo apunhalado de Marat. O quadro dá-nos uma mistura de sentimentos, uma certa frieza na reprodução de uma morte, os valores estóicos de um homem da Revolução Francesa, o que nos faz misturar Razão e Revolução. No quadro de David há sem dúvida a ideia de ruína da própria vida e a consciência que a História guardará torna-se irrecuperável na vida diária.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem: Jacques-Louis David, A morte de Marat, 1793, Museu de Belas Artes, Bruxelas.
#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação

Conteúdos na rede - A representação do belo - [O século XVIII] (2)

O lado luminoso da razão:
“[O homem que tem um temperamento sanguíneo tem como predominante o sentimento do Belo]. (…) O seu sentimento moral é belo, mas sem princípios, e depende sempre diretamente das impressões imediatas que a realidade provoca nele. É amigo de todos os homens ou, o que é a mesma coisa, nunca é verdadeiramente amigo, embora seja sempre cordial e benévolo. Não sabe fingir: hoje entreter-se-á convosco com amizade e maneiras corteses, amanhã, se estiverdes doentes ou vos encontrardes em desgraça, sentirá sincera e autêntica compaixão, mas nestas circunstâncias eclipsar-se-á pouco a pouco, até que as coisas tenham melhorado.
Nunca deve ser juiz porque, normalmente, as leis são para ele demasiado severas e ele deixa-se comover até às lágrimas. É um santo a meias, nunca verdadeiramente bom e nunca verdadeiramente mau.”

Immanuel Kant, Observações sobre o sentimento do belo e do sublime, II, 1764.
Imagem: Jean-Baptiste Chardin, A mestra, 1737, Museu da Galeria Nacional da Irlanda.
#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação

O classicismo motivado por uma exigência de maior adesão à realidade elevou o realismo das suas representações. O teatro tentou comprimir tempos e reduzir os lugares, nesta ideia de fazer coincidir o mais possível o tempo cénico e o do espetador. A Beleza construiu-se entre opostos, entre as referências do classicismo e do anticlassicismo, entre um belo exuberante e um outro mais estilizado, mais trágico. Racine foi um dos expoentes dessa construção de simultaneidade de opostos.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem – Jean-Honoré Fragonard, Coreso e Calliroe, 1760, Museu do Louvre, Paris.
#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação

Os palácios e os jardins também contrapõem as ideias estéticas do neoclassicismo e do barroco que o antecedeu. A arquitetura barroca surpreende, pois é feita de excessos, de um assinalável conjunto de linhas curvas, de repetições de formas que são quase redundâncias. Para o século XVIII essa noção de beleza parece-lhe estranha, pouco interessante para servir de modelo. Os Ingleses e a sua arquitetura deram-nos exemplos, de como mais do que criar ideias estéticas novas, bastaria seguir os exemplos da natureza, refletir a sua Beleza. Ao contrário do barroco, o Iluminismo não pretende encantar com excessos, antes dar uma referência de harmonia, uma composição equilibrada dos cenários.

Imagem: Villa Chigi, 1680, desenhado pelo Arquitecto Carlo Fontana (Estilo Barroco), Centinale, Toscania, Itália
#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação

Conteúdos na rede - A representação do belo - [O século XVIII] (1)

Quando Newton publicou em 1687, Dos Princípios da Filosofia Natural era um ciclo que se fechava e um outro que se iniciava. Se o livro de Newton configurava uma extraordinária aventura do pensamento humano, ele pelas informações que dava sobre os princípios mecânicos do mundo natural incentivou um conjunto de descobridores e inventores para que tudo fosse mais eficaz. Nos anos seguintes nasceria aquilo que se conhece como A Era das Revoluções. A industrial em primeiro lugar, a da razão iluminista e a das revoluções. O século XVIII é muitas vezes considerado como um século racional, cheio de coerência. O século XVIII foi também um século de extremos, de paixões e de sonhos, nem sempre pacíficos. Foi o século XVIII que inventou a noção de progresso, um conceito de evolução, como se ele fizesse parte da própria natureza das coisas. Nesta etiqueta a razão e a beleza viajaremos sumariamente pelos sonhos de beleza e razão do século XVIII.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa:Difel.
Imagem: Johann Zoffany, Charles Townley e os seus amigos na Townley Gallery, Townley Hall Art Gallery and Museum, Burney, Lancashire, 1781-1783.
#Arazãoeabeleza#Obelocomorepresentação

O século XVIII, muito embora seja pensado em diferentes fontes, como um período que se define por uma procura linear pela razão e ausente de contradições sabemos que não é assim. A razão do iluminismo convive com duas oposições, que são a manifestação de tantas outras ligadas à sociedade. É curioso que no século XVIII encontramos o expoente do pensamento iluminista com Kant, certamente um conjunto de ideias muito luminosas e por outro o Marquês de Sade, um espírito inquietante de um teatro de vida pouco luminoso. O Iluminismo viverá numa tentativa de conciliar a Beleza do Barroco, ainda ligada ao gosto aristocrático, a uma alegria de vida e um espírito neoclássico à procura do culto da razão.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem: Jean- Honoré Fragonard, O Baloiço, 1770, Coleção Wallace, Londres.
#Arazãoeabeleza#Obelocomorepresentação

O lado luminoso da razão:
“O homem que tem um temperamento sanguíneo tem como predominante o sentimento do Belo: as suas alegrias são estridentes e cheias de vida; quando não está alegre, está insatisfeito e conhece muito pouco a felicidade silenciosa. A variação é bela e ele gosta da mudança. Procura a alegria em si próprio e à volta de si, alegra os outros e é um bom companheiro. Sente fortemente a simpatia moral: a felicidade dos outros alegra-o, o seu sofrimento suscita a sua piedade.”

Immanuel Kant, Observações sobre o sentimento do belo e do sublime, II, 1764.
Imagem: Jean-Baptiste Chardin, O rapaz do pião, 1738, Museu do Louvre, Paris.
#Arazãoeabeleza#Obelocomorepresentação