quarta-feira, 14 de junho de 2017

A representação do belo - [I]

"O que é belo há-de ser eternamente uma alegria, e há-de seguir presente.  Não morre; onde quer que a vida breve nos leve, há- de nos dar um sono leve, cheio de sonhos e de calmo alento." (1)

"O belo na representação da arte, a fruição estética da criação!", foi uma ideia que desenvolvemos, com a construção de um conjunto de recursos sobre as ideias e a representação artística em determinados períodos. Fomos deixando alguns recursos sobre essa relação na civilização grega, no período medieval, no Renascimento, no Iluminismo e terminámos com algumas leituras sobre o Sublime. Nos dois posts finais, dois pequenos textos sobre o Belo em si, ou seja como poderíamos abordá-lo de um modo mais genérico, como ele poderia ser pensado. É um ponto de chegada e um ponto de partida. 

Os artistas e criadores em diferentes épocas tiveram motivações diversas. Uma das suas fortes motivações foi ainda assim o prazer das obras apreciadas. A procura do belo e a tentativa de atingir um nível de perfeição conduziu muitas criações. Definido como "gracioso", "bonito", "maravilhoso", o belo muitas vezes se identificou com o bom. Na nossa expressão diária muitas vezes o que definimos como belo é o que nos agrada ou que desejamos ter.

Muitas vezes associamos o belo ao bom, ao que transmite um ideal, que pode estar associado a um mito, ou a um herói. Essa ideia pode ser conhecida ou identificada como bom, mas pelas circunstâncias de sofrimento desses heróis, ela não se transforma num desejo nosso.

Esse sentido de bem afasta-se das nossas opções. Existe pois uma diferença crucial entre o Belo e o Desejo.

O belo visto numa obra de arte é algo que não suscita o nosso desejo, mas algo que existe por si, como representação bela de algo que muitas vezes possa o não ser, como em algumas situações da natureza. É desse belo, sentido e admirado numa cultura que aqui falámos. O Belo exprimido na Arte, mas também pela representação da natureza, pois esta foi em muitos momentos a representação do Belo. 


Por vezes representações de uma época podem ser consideradas belas, ainda que de contornos morais duvidosos. Falámos aqui da evolução da beleza tendo em atenção que ela nunca foi um absoluto e evoluiu ao longo da História nas suas representações mitológicas, da natureza e da visão da sociedade e dos seus elementos. E há naturalmente que reconhecer que muitas vezes, uma mesma época criou diferentes ideias de belo, de acordo com a sua própria evolução cultural.

O belo é umas das áreas em que a Estética, como disciplina tentou definir um conjunto de conceitos evolutivos relacionando as ideias, a cultura, o social e a representação de formas diversas pela expressão artística. A Estética foi já lida de muitos modos e talvez a mais interessante seja aquela que nos diz que ela é uma forma sensível de conhecer, algo como uma alternativa à razão. Os objetos estéticos criam em nós formas de sentir. É consensual que o belo se associa muitas vezes ao que agrada, ao que dá uma satisfação capaz de um entusiasmo. O belo tem si as suas próprias formas de beleza, ou somos nós como observadores a construir um conceito?


Quando entramos numa igreja românica, ou numa catedral gótica, ou num templo budista a beleza emerge como uma realidade. Esses são espaços de beleza.

A primeira pergunta a fazer é por que chamamos belos a esses espaços e por que razão os espaços de oração e recolhimento são portadores de uma ideia de Beleza?
A segunda questão pertinente é a de reconhecer que num livro como a Bíblia está ausente a formulação de belo. A única aparição da ideia de belo refere-se ao reino de Salomão e a sua comparação com os lírios do campo. A única referência de belo nas Escrituras Sagradas é uma referência natural e relativo a uma dimensão espontânea.
A terceira questão que importa fazer, há algo de imutável no belo, há nele algo de permanente?

 (1) Kohn Keats. (1841). "Endymion", in The poetical works of John KeatsLondon: William Smith.
Imagem - Estela grega de uma criança, séc. V a. C.; Dartmouth College's Hood Museum; The Onassis Cultural Center in New York

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