"O que é belo há-de
ser eternamente uma alegria, e há-de seguir presente. Não morre; onde
quer que a vida breve nos leve, há- de nos dar um sono leve, cheio de sonhos e
de calmo alento." (1)
"O belo na representação da arte, a fruição estética da
criação!", foi uma ideia que desenvolvemos, com a construção de um conjunto de recursos sobre as ideias e a representação artística em determinados períodos. Fomos deixando alguns recursos sobre essa relação na civilização grega, no período medieval, no Renascimento, no Iluminismo e terminámos com algumas leituras sobre o Sublime. Nos dois posts finais, dois pequenos textos sobre o Belo em si, ou seja como poderíamos abordá-lo de um modo mais genérico, como ele poderia ser pensado. É um ponto de chegada e um ponto de partida.
Os artistas e criadores em diferentes épocas tiveram
motivações diversas. Uma das suas fortes motivações foi ainda assim o prazer
das obras apreciadas. A procura do belo e a tentativa de atingir um nível de
perfeição conduziu muitas criações. Definido como "gracioso",
"bonito", "maravilhoso", o belo muitas vezes se identificou
com o bom. Na nossa expressão diária muitas vezes o que definimos como belo é o
que nos agrada ou que desejamos ter.
Muitas vezes associamos o belo ao bom, ao que transmite um ideal, que pode
estar associado a um mito, ou a um herói. Essa ideia pode ser conhecida ou
identificada como bom, mas pelas circunstâncias de sofrimento desses heróis,
ela não se transforma num desejo nosso.
Esse sentido de bem afasta-se das nossas opções.
Existe pois uma diferença crucial entre o Belo e o Desejo.
O belo visto numa obra de arte é algo que não suscita o nosso desejo, mas algo
que existe por si, como representação bela de algo que muitas vezes possa o não
ser, como em algumas situações da natureza. É desse belo, sentido e admirado
numa cultura que aqui falámos. O Belo exprimido na Arte, mas também pela
representação da natureza, pois esta foi em muitos momentos a representação do
Belo.
Por vezes representações de uma época podem ser consideradas belas, ainda que
de contornos morais duvidosos. Falámos aqui da evolução da beleza tendo em
atenção que ela nunca foi um absoluto e evoluiu ao longo da História nas suas
representações mitológicas, da natureza e da visão da sociedade e dos seus
elementos. E há naturalmente que reconhecer que muitas vezes, uma mesma época
criou diferentes ideias de belo, de acordo com a sua própria evolução cultural.
O belo é umas das áreas
em que a Estética, como disciplina tentou definir um conjunto de conceitos
evolutivos relacionando as ideias, a cultura, o social e a representação de
formas diversas pela expressão artística. A Estética foi já lida de muitos modos
e talvez a mais interessante seja aquela que nos diz que ela é uma forma
sensível de conhecer, algo como uma alternativa à razão. Os objetos estéticos
criam em nós formas de sentir. É consensual que o belo se associa muitas vezes
ao que agrada, ao que dá uma satisfação capaz de um entusiasmo. O belo tem si
as suas próprias formas de beleza, ou somos nós como observadores a construir
um conceito?
Quando entramos numa
igreja românica, ou numa catedral gótica, ou num templo budista a beleza emerge
como uma realidade. Esses são espaços de beleza.
A primeira pergunta a
fazer é por que chamamos belos a esses espaços e por que razão os espaços de
oração e recolhimento são portadores de uma ideia de Beleza?
A segunda questão
pertinente é a de reconhecer que num livro como a Bíblia está ausente a
formulação de belo. A única aparição da ideia de belo refere-se ao reino de
Salomão e a sua comparação com os lírios do campo. A única referência de belo
nas Escrituras Sagradas é uma referência natural e relativo a uma dimensão
espontânea.
A terceira questão que
importa fazer, há algo de imutável no belo, há nele algo de permanente?
(1) Kohn Keats. (1841). "Endymion", in The poetical works of John Keats. London: William Smith.
Imagem - Estela grega de uma criança, séc. V a. C.; Dartmouth College's Hood Museum; The Onassis
Cultural Center in New York
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