segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Vergílio Ferreira - Pensar ou não Pensar? (VI)

O excerto apresentado, retirado do livro “Pensar” de Vergílio Ferreira, refere a importância do intelectual, do filósofo e do poeta na sociedade. O autor depara-se com um problema filosófico que relata a insignificância do poeta, do filósofo e do intelectual na comunidade atual. Segundo o autor, a importância do intelectual, do filósofo e do poeta na sociedade, baseia-se:

  I. no intelectual sendo considerado uma “espécie em vias de extinção”;
 II. no filósofo, referindo todo o seu árduo trabalho ao buscar a sua verdade;
   III. no poeta, que parece atrapalhar “o trânsito”, mesmo não querendo mal a ninguém.

Estas palavras descritas pelo filósofo significam:

   I. O ocultamento gradual da inteligência e da cultura que vão sendo abafadas pelas novas tecnologias, impostas pela atualidade. Que vão criando hábitos e que nos vão dando respostas sem perguntarmos, sem necessitarmos de o fazer. Que vão terminando com a nossa curiosidade e extinguindo o nosso interesse pela cultura que pouco ou nada nos diz;

   II. Todos os processos enfrentados pelo sábio na descoberta do que considera verdade, sem saber se a irá encontrar. No quão incerta será a resposta e o quão frustrante acabará por ser quando outros filósofos colocarem o seu ideal de parte, o que aparece ao homem comum como se a sua reflexão não seja válida nem útil;

  III. Como incríveis sonhadores, os poetas, procuram maneiras de patentear a sua imaginação na escrita aprendendo mais com outros poetas e ensinando a outros, tornando-se num círculo vicioso que acaba por pouco influenciar no seu pensar e na sua imaginação a sociedade. 

Por último, e de modo a manifestar a minha opinião relativamente ao tema, devo acrescentar que concordo com o autor, pois como já referi anteriormente,  o desenvolvimento da sociedade tem vindo a influenciar a importância da filosofia, da intelectualidade e da poesia no mundo atual. É certo que toda a tecnologia existente nos veio abrir novas portas, novos caminhos que até ninguém (ou poucos) haviam explorado, porém coloca-nos numa posição cada vez mais dependente que afeta progressivamente a nossa autonomia a até mesmo a nossa capacidade de pensar, de imaginar e de resolver verdadeiros problemas. 


A “internet” veio facilitar a comunidade atual que pouco ou nada se preocupa com os fenómenos naturais, com a economia, com a política ou até mesmo com a agricultura porque, com um simples “click” ou uma rápida pesquisa, encontrarão os resultados. De questões que nem se atreveram a fazer, questões essas que nem sequer lhes passaram pela cabeça, ninguém parece interessar-se, porque não estão dirigidos por uma razão e vontade autónomas. Infelizmente já ninguém pensa por si, porque dependem de segundas opiniões para o fazer. É aí que a filosofia faz a diferença. E é, por isso, que este texto de Vergílio Ferreira é tão importante, pois, faz-nos ver que é importante Pensar. 

Joana Margarida Cerqueira Fernandes - 10ºC3

domingo, 29 de novembro de 2015

Vergílio Ferreira - Pensar ou não Pensar? (V)

Este texto de Vergílio Ferreira combina ironia com metáforas formando um excerto sobre a arte de pensar e os próprios pensadores.

 Este autor simboliza o pensamento e o ato de pensar na sua integridade e complexidade. Na opinião deste tão célebre escritor, a mentalidade da sociedade neste século e também um pouco no século passado tem decaído acentuadamente deixando as pessoas mais incultas e com incapacidade de pensar em soluções para os atuais problemas sociais. Devido à maneira de ver o mundo, de vários países, e a falta de educação em certas partes do globo,   debatemo-nos com as consequências graves deste século. Como, por exemplo, os ataques terroristas que são uma prova de ignorância profunda das desumanas almas capazes destas atrocidades, como matar pessoas sem razão. Por este exemplo, e por muitos mais tão graves, concordo com a frase sarcástica de Vergílio Ferreira, "Sugeria alguém que se suprimisse a filosofia dos curso dos liceus”!

Parecendo que não o liceu faz parte de uma das fases mais importantes da vida, pela qual passamos. São três anos sem os quais não conseguiríamos viver equilibradamente o nosso destino. Sendo estes anos tão importantes devido à inocência e às influências exercidos sobre muitos dos jovens de hoje em dia, a filosofia desempenha um “papel insubstituível”.
Esta disciplina ensina-nos a compreender o mundo em todas as suas vertentes, todos os pontos de vista e até os pensamentos que lhes deram origem. Mas será que, como no exemplo referido a cima, os terroristas só cometem tão horrendas ações devido à falta de estudos ou consciência? Ou será também devido ao ambiente em que nasceram e cresceram?

Esta pergunta leva-nos ao próximo texto “a Alegoria da Caverna”. Outro texto indispensável a um aspirante de qualquer disciplina. Este tão célebre diálogo entre Glauco e Sócrates, direciona a visão do leitor para a nossa fragilidade e para como somos seres de hábitos. Mostra também que nos habituamos às condições em que vivemos mesmo que sejam muito precárias, ou demasiado luxuosas, esquecendo-nos muitas vezes que vivemos num mundo ilusório que não nos leva ao principal objetivo do ser humano, que desde que nasceu, é ser verdadeiramente feliz. No entanto, a maioria dos homens não se questiona sobre o verdadeiro sentido da vida que leva à felicidade. 

Sendo assim encontramos as palavras que unem estes textos entre si, “ O Homem” e a educação do mesmo. Também conseguimos concluir que não é só devido ao ensino ou à falta dele que somos como somos, mas também depende das condições em que vivemos e dos desafios que nos colocamos. Chegamos a esta conclusão mesmo sabendo que a verdade não é constante nem aceitável a todos, sendo os que se esforçam mais para chegar a esta são os filósofos. 

A filosofia encaminha-nos a uma descoberta da sabedoria, que nos permite compreender o mundo em que vivemos, o sentido da realidade, como viver uma vida plena e digna, sobretudo, aprender a conhecermo-nos a nós mesmos. Só assim, a Humanidade pode construir um mundo espiritual onde seja possível viver com os outros seres em total respeito e procurando construir um Mundo Melhor.   - Madalena Rosa 10º C 1 nº 13

sábado, 28 de novembro de 2015

A alegoria da Caverna


 A Alegoria da Caverna é um texto da autoria de Platão, cujo principal objectivo é educar as pessoas, mostrando, simultaneamente, a importância da Filosofia.
Este texto é, como a maioria dos textos do filósofo, de natureza dialógica, em que um ser superior, neste caso Sócrates, vai fazendo perguntas a outro ser, este menos sábio, aceitando todas as suas respostas de forma a chegar a um ponto em que este perceba as contradições admitidas na sua mente, revelando a sua ignorância.

A obra, em si, fala-nos de uns homens que vivem numa caverna, que possui uma entrada, virada para a luz, da qual se sai escalando um caminho íngreme que sobe. Esses homens estão no interior da caverna desde a sua infância, acorrentados e sem se poderem mexer, nem sequer trocar de posição ou voltar a cabeça para ver algo que não esteja diante deles e a que sempre estiveram habituados a acreditar.
Nessa caverna há também uma fogueira, cujo papel é refletir tudo o que se passa no exterior, sob a forma de sombras. Essas sombras correspondem à única coisa que os prisioneiros vêem, uma simples reflexão da realidade.

Ora, certo dia, um desses prisioneiros é libertado, e dirige-se para a entada, de onde vem a luz. Tudo aquilo é novo para ele, uma vez que desde pequeno se habituou ao escuro.
Percorre então o caminho que sobe, chegando ao exterior da caverna. Depois de uns minutos necessários para se habituar, o  homem (que a partir do momento que se soltou já não pode ser mais chamado de prisioneiro) começou a observar o que até então tinha dado origens às sombras. Descobriu então as Formas ou Ideias, distinguindo-as dos vultos escuros que sempre lhe fizeram companhia.

Esse homem começou, pois, a questionar-se sobre o que via, sobre a verdadeira essência das coisas.
Então, movido por uma certa compaixão pelos seus “colegas de cela”, voltou ao interior da caverna, com o objectivo de contar o que vira, levando os outros na mesma viagem.
Porém, os planos não correram como planeados, pois quando contou aos outros sobre o que vira e descobrira, estes não acreditaram e mataram-no, só por  ele pensar de forma diferente.
Isto é muito semelhante ao que aconteceu a Sócrates, que foi morto pelos Sofistas, uma vez que punha em causa os seus métodos  de ensino e forma de pensar. (Na realidade, todas as obras de Platão relatam o que aconteceu com Sócrates, uma vez que, na opinião do autor, este era um dos maiores sábios que alguma vez existira e que ser condenado à morte foi a maior «injustiça» de sempre.)

Após a leitura desta obra, percebemos que estamos perante uma alegoria, em que a ignorância é representada pela caverna e a sabedoria pelo Sol. Os prisioneiros representam a humanidade, que vive na ignorância, presa às ideias pré-existentes.  Quando alguém se dispõe a sair desse estado, encontra-se com o “caminho que sobe”, que representa a transição entre dois mundos: o sensível (sombras, ignorância) e o inteligível (ideias, sabedoria) e pressupõe uma ascese por graus- a dialética.
Depois da ascese, isto é, a ascensão de um mundo para outro, devemos começar a procurar saber e a utilizar esse saber para procurar ainda mais saber. A isso se chama sabedoria e assim se formam os filósofos.

Outra das ideias principais deste texto, é mostrar que o tempo é limitado, e que não temos a eternidade para aprender. Isso é representado pelos prisioneiros que estão presos desde a infância, até à morte do sábio - Sócrates. Outro aspeto muito importante da obra são os problemas que levanta. Fazendo uma sequência cronológica resumida, podemos apresentá-los da seguinte forma:
  1. O que é a condição Humana?  (antropologia)
  2. A educação dos jovens: papel que a filosofia e o filósofo têm na educação ( questão social e política)
  3. O que é a verdade? O que é o verdadeiro saber/ conhecimento? (gnosiologia/epistemologia- nesta época ainda não era feita a distinção entre filosofia e ciência)
  4. Qual a verdadeira realidade/essência? (metafísica)
  5. Qual o sentido da vida? O que é a Morte? (sentido cíclico da vida, acreditando-se na teoria da reencarnação, ou seja, que o corpo morria, mas a alma continuava viva, apenas manifestando-se noutra forma física)
A partir daqui podemos determinar uma característica de Platão, a que chamamos dualismo. Encontramos vários tipos de dualismo na Alegoria da Caverna, onde podemos salientar:
  • O dualismo Antropológico: O Corpo e a Alma (Nous) são muito distintos. O primeiro corresponde a um estado provisório, que acaba na morte; enquanto o segundo corresponde ao centro ético onde se encontram as actividades intelectuais, necessárias à realização da ascese (vista como uma purificação, salvação, correspondente à sabedoria máxima).
  • O dualismo Cosmológico: Referente aos dois mundos, o sensível, que engloba as sombras e a ignorância, directamente ligado ao corpo, e o inteligível, o das formas ou ideias que constituem a realidade, que estabelece ligação com a alma.
  • O dualismo Ontológico (dos seres/ do ser): Onde se distinguem as Sombras e as Ideias
  • O dualismo Gnosiológico/epistemológico: (conhecer/conhecimento): Revelando a oposição entre doxa (ilusão/opinião) e episteme (conhecimento verdadeiro). 

Podemos representar isto acima descrito num único esquema, denominado diagrama da Linha:



Desta maneira, Platão pretende educar as pessoas, levando-as a sair da caverna e a explorar o mundo exterior. É pela educação, pela filosofia que o homem se liberta e ascende a outra dimensão, a dimensão espiritual.

Catarina Ventura Nº6 10ºC1

Vergílio Ferreira - Pensar ou não Pensar? (IV)

No texto de Vergílio Ferreira, o autor tenta fazer com que as pessoas se apercebam que, ao contrário do que pensam, se não existissem filósofos, que seria da humanidade? De pessoas que não questionam nada, e que acatam ordens de outros sem sequer querer saber se está certo ou errado o que fazem?

Vergílio Ferreira, neste excerto, tenta “acordar” a sociedade para o verdadeiro perigo que é condenar a filosofia e os filósofos, ao pô-los à parte da sociedade, por serem diferentes na maneira como pensam, como vivem, como questionam tudo o que existe à sua volta. Os filósofos continuam a questionar, porque disso é feita a filosofia, de querer ir mais além,  apesar de não existirem verdades absolutas…

Tudo isto se relaciona com a Alegoria da Caverna, pelo simples facto de, no texto de Vergílio Ferreira, o indivíduo que tenta fugir e sair da ignorância e da monotonia da vida, é julgado e rejeitado numa tentativa de ajudar os outros, ajudar a sociedade a evoluir. Em ambos os textos, o intelectual/filósofo é posto de lado e julgado como um louco, e visto como um “minhoquinhas”  que tenta mudar a sociedade.


Por isso, ao contrário do que a sociedade crê, não podemos descartar a filosofia, muito menos os filósofos, pois, a filosofia é necessária, sem ela, não teríamos evoluído até hoje, continuaríamos a ser e a viver como os “homens da caverna”; e isso não é vida que se leve com os recursos que temos hoje em dia, por isso todos nós por muito pouco que conheçamos, temos que estar dispostos a ouvir opiniões divergentes das nossas e admitir os nossos erros, para assim podermos evoluir como sociedade. 

Patricia Campião Leonardo nº19 10ºC1 

Alegoria da Caverna - Comentário

Vergílio Ferreira - Pensar ou não Pensar? (III)

              Relação entre o texto de Vergílio Ferreira, Pensar e a Alegoria da caverna de Platão:



Este texto, de Vergílio Ferreira, pode relacionar-se com a Alegoria da Caverna, de Platão, que comentei anteriormente. Em ambos os textos pode verificar-se que existe uma sociedade que vive num mundo chamado realidade, no mundo das sombras. Na actualidade, este mundo de sombras podem ser substituídas pelo mundo virtual, pela televisão, pelo mundo das imagens e ideias feitas. Um mundo que é vivido pelos mesmos que desprezam os intelectuais, os filósofos, que se fartam de trabalhar para chegar a uma verdade, a uma solução, a uma resposta. Que passam por um longo caminho desde o mundo das sombras até conseguir por fim ver a luz, tal como se descreve na Alegoria. 

E quando finalmente conseguem chegar a algum tipo de resposta, ou conclusão, tentam partilhá-la connosco, com as pessoas que rodeiam o filósofo e que ainda estão presas ao mundo das imagens. E o que acontece? Normalmente não acreditamos no que eles nos dizem e julgamo-los loucos. E eles acabam por palrar uns com os outros por mais ninguém querer saber, por ninguém se preocupar, por ninguém acreditar neles, nem no quanto são fundamentais. No entanto, e isso poucos percebem, o intelectual, o filósofo, os poetas, são os únicos que se preocupam realmente com problemas significativos do seu tempo e que dizem respeito a todos os homens.

Vergílio Ferreira questiona-se se , de facto, os intelectuais estrão em vias de extinção. Sim, talvez,  por culpa nossa, por insistirmos em permanecer nas nossas bolhas, abstraídos do mundo que nos rodeia, fixados nas imagens que vão passando na televisão, e que correspondem, no caso da alegoria, às sombras que passavam na parede da caverna.
Da mesma forma que nos é dada a conhecer nos dois textos, a sociedade descrita é uma sociedade que não se dá ao trabalho de pensar. Tal qual como atualmente. E se ninguém pensar, se ninguém se der ao luxo de fazer alguma coisa, então os problemas surgirão e ninguém se preocupará em encontrar soluções, a menos que o problema interfira diretamente, e imediatamente, com a sua vida, rotineira e monótona. E nada se vai acabar por resolver, porque a sociedade decidiu fazer dos filósofos seres invisíveis, tal como fazemos quando passamos por um sem-abrigo, e desviamos o olhar.
O sem-abrigo que ficou sem casa, sem roupas, sem comida, sem dinheiro, e, muitas vezes, sem família, por causa destes mesmos problemas que atingem o nosso mundo todos os dias, à velocidade de um TGV, porque se não fosse isso, esse sem-abrigo, seria um com-abrigo, uma pessoa igual a nós que provavelmente faria o mesmo que nós fazemos diariamente para com as pessoas que chamam casa aos bancos da rua, e mantas às caixas de cartão que deitamos fora todos os dias.

E fazemo-lo para não nos sentirmos mal com nós próprios, não porque não podemos ou não temos posses para tal, mas por um simples facto que é a Conveniência. Sim, porque vivemos num mundo em que só se faz o que nos agrada e não o que está correcto ou o que é melhor. Fechamos os olhos aos filósofos por conveniência.
O mundo em que vivo é um mundo onde o poder económico tem mais importância que os valores, um mundo onde a nossa raça, clube, religião, ou opinião política define quem somos ou o que podemos ou não podemos fazer. Um mundo onde há ganância e ignorância para dar e vender. Um mundo dedicado às tradições, superstições e falsas religiões. Muitas vezes usadas como escudo em guerras completamente absurdas, onde o chocante nem é a guerra em si, mas sim o facto de existirem pessoas capazes de cometer tamanhas barbaridades.

Um mundo que, só quando alguém se lembra de se explodir numa cidade ilustre, é que acorda para ver o que se passa. Todos decidem espalhar palavras de compaixão, pelos que sofrem, ou de revolta, pelos que cometeram o acto, nas redes sociais. Cobrem o mundo com a bandeira do dito país, quando essa mesma guerra, esses mesmos atentados ocorreram, se não mais graves, há anos atrás. Ou já se esqueceram do Boko Haram? O célebre Boko Haram. Aqui se vê a dita ignorância sufocante presente na nossa sociedade. Só nos preocupamos com o que nos agrada.

No dia 13/11/2015, às 21h00, deu-se o atentado de França. A comunicação social pelo mundo inteiro disparava notícias de minuto a minuto durante todo o fim-de-semana. Fomos invadidos por uma onda de compaixão humanista que só está presente mais por uma questão de “ficar bem na fotografia”. O mundo inteiro unido por uma causa. Hoje, dia 24/11/2015, passados onze dias desde os atentados o mundo voltou a fechar-se e já ninguém quer saber. Nos noticiários da televisão, a notícia tem direito ao rodapé enquanto se discute o resultado do jogo de futebol do dia anterior. Notícias online, tvi24 por exemplo. Vão reparar que só no fim da página há um pequeno espaço dedicado a essas notícias.

E como a comunicação social seguiu em frente nós fazemos o mesmo, como bons soldados que somos. Como bons paus mandados da televisão e das redes sociais. É este o poder que os média têm na actualidade, é este o poder que lhes demos para as mãos. Foi nesta arma perigosíssima que transformámos o mundo da comunicação. É perante isto que eu chego à conclusão de que tal como disse Vergílio, os intelectuais são um desperdício na sociedade actual, são chacinados pela ignorância incutida pela escola da televisão, nesta era das Tecnologias. Resta-nos por isso, ter esperança de que os jovens tenham noção de que a filosofia é essencial. Que lhes ensinem a amar a sabedoria, a questionar, a não viver na ignorância, a procurar soluções, mesmo que rudimentares, para os problemas com que nos deparamos actualmente.

E se pararmos para pensar, o que é que a filosofia faz por nós numa sociedade em que o tempo para pensar é cada vez mais escasso, na medida em que a velocidade do dia-a-dia nos obriga a tomar decisões rápidas, o que, consequentemente, nos leva a querer soluções imediatas? Como é que a filosofia nos iluminará num ambiente onde os bens materiais são mais importantes que o próprio ser humano? Onde actua a verdade numa sociedade como a nossa? E se é neste mundo bipolar que a filosofia está incluída, para que servirá? Onde é que a filosofia se enquadra numa sociedade que quer o ontem para já e o amanhã para hoje?

Nestes dois textos, vemos que a filosofia é a ciência essencial para tudo o mais ganhe sentido, ou seja, o mundo da tecnologia não existiria, se antes não houvesse alguém que se questionasse sobre a possibilidade de comunicarmos com o outro lado do mundo através do que agora são os telemóveis e a internet. Não haveria democracia se não houvesse alguém que se questionasse sobre o regime anterior, a ditadura, e o melhorasse de acordo com os valores, a ética, a filosofia social e política e todas as disciplinas da filosofia e o que isso implica. O mundo é movido pela filosofia, o amor ao saber, que por sua vez nos ensina a pensar por nós mesmos, de forma livre, autónoma e crítica, em oposição a poderes instituídos, a autoridades suspeitas e a todo o tipo de ameaças à vida individual e à liberdade de consciência. O ser humano tem a necessidade de filosofar, não só para se compreender melhor a ele próprio, mas também para compreender o mundo onde vive. De maneira que enquanto humanos somos incapazes de não filosofar, porque, mesmo que involuntariamente, em algumas situações, como por exemplo, quando nos deparamos com situações-limite, como a morte, acabamos por começar a filosofar.

Teoricamente a filosofia procura conhecer a essência da realidade, visando uma compreensão da totalidade das coisas e dos seres. Procura uma visão integrada de real, ao mesmo tempo que reflecte sobre os vários saberes, os problemas por eles suscitados e os conceitos usados por cada um. Na prática, a filosofia, ajuda-nos a orientarmo-nos no mundo, a saber viver, a agir de forma responsável, a encontrar uma finalidade para a vida, em ordem à conquista da felicidade possível. Por outro lado, ela intervém a nível social e político, no sentido de construir um mundo melhor.

A filosofia confere autonomia ao nosso pensamento, mas também a pressupõe. Ao ajudar a desenvolver o pensamento crítico ela torna-se uma arte de compreender o mundo e o ser humano e, ao mesmo tempo, uma arte de viver.
A utilidade da filosofia não está na produção de resultados imediatos. A filosofia amplia a nossa compreensão do mundo, expande os nossos horizontes intelectuais e a liberdade de pensamento.

A filosofia antiga difere da filosofia contemporânea pois, no contexto em que são desenvolvidos, há diferentes problemas e costumes. Por exemplo, na filosofia grega, não nos deparamos com o problema ambiental. Para além disso toda a filosofia é argumentativa. A argumentação é a base da filosofia e é por ser argumentativa, que também é problematizadora, democrática, plural, crítica, anti-conformista. Com isto eu tento explicar de uma forma resumida o que para mim é a filosofia. E são estas características que fazem da filosofia uma disciplina tão única e essencial.

Portanto termino este texto em concordância com o que Vergílio Ferreira escreve no final do texto, os filósofos, neste momento, só são reconhecidos e ouvidos por outros da mesma espécie, e enquanto assim for, a humanidade irá sofrer com isso também. Porque sem os filósofos, sem estes grandes seres humanos, a nossa história e vida seria uma grande porcaria, uma grandessíssima seca.

Beatriz Conceição, Nº4 - 10ºC1
Imagem: Copyright - Gustavo Marquez

Vergílio Ferreira - Pensar ou não Pensar? (II)

     Relação entre o texto de Vergílio Ferreira, Pensar e a Alegoria da caverna de Platão:


Estes textos podem ser relacionados quanto á forma de pensar dos filósofos. Na “Alegoria da Caverna”, o filósofo explora o mundo inteligível, moldando os seus pensamentos, idealismos e quando volta para dentro da caverna com objetivo de libertar os seus companheiros, estes simplesmente não acreditam nele achando que ele tinha enlouquecido. 

Por ter mudado de ideias, que para os que viviam dentro da caverna eram incontestáveis, e por se atrever a negar ou mudar crenças que até àquele momento pareciam as únicas válidas, o filósofo é sempre encarado como um ser à parte e pouco compreendido. Isto explica a razão pela qual o filósofo corre riscos e chega a ser morto.

Entretanto, no texto da obra “Pensar” da obra de V. Ferreira, o autor, usando ironia, transcreve a desvalorização que a sociedade daquele tempo dava aos filósofos e intelectuais. A sociedade tende a desprezar a inteligência, o conhecimento dos sábios e intelectuais, sem tentar sequer compreender a maneira como eles vêem o mundo.

Interligando estes dois textos, podemos dizer que em ambos se reflete sobre a dispensabilidade dos filósofos numa sociedade rotineira e dogmática. Não se valoriza que o filósofo é o homem que se atreve a pensar e a sair da prisão, mundo sensível, para a liberdade , mundo inteligível. Também se mostra que os intelectuais e filósofos são uma classe de homens à parte mas absolutamente necessária para a elevação de toda a Humanidade.


   Inês Silva Mendes -10º C1
                  Imagem: Copyright - Rene Magrittene Magritte

Vergílio Ferreira - Pensar ou não Pensar? (I)


Relação entre o texto de Vergílio Ferreira, Pensar e a Alegoria da caverna de Platão.

O filósofo, na sociedade ocidental, ontem e hoje, tem sido visto por muitos como um gasto desnecessário de recursos. Os homens e mulheres que vivem a rotina mundana e se limitam a viver e a pensar somente no que lhes chega através dos sentidos não vêm qual é o valor de nos interrogarmos com aquilo que não tem benefício imediato, e, portanto, rejeitam e acham inútil o filósofo e o pensamento filosófico.

Esta situação está patente tanto na Alegoria da Caverna, de Platão, como no excerto de Pensar de Vergílio Ferreira. No primeiro texto, o prisioneiro que foi libertado das suas correntes e conduzido até ao mundo inteligível (onde se apercebeu que o que percecionava dentro da caverna- as sombras na parede e o som que parecia deles provir, eram ilusões), ao tentar libertar os seus companheiros para lhes mostrar o que tinha descoberto encontrou contra si uma enorme resistência. Os restantes prisioneiros pensavam que ele tinha enlouquecido; a viagem para fora da caverna tinha-o tornado demente e resistiam às suas tentativas de libertação. Como poderia ser que existisse mais alguma coisa que fosse mais verdadeira que o que tinham visto toda a sua vida?

No segundo texto, o excerto da obra de Vergílio Ferreira, expõe-se, do ponto de vista de um “indivíduo prático” que não se interroga sobre nada, de forma autónoma e radical, que seja do interesse de todos os homens, o que mais uma vez sugere a inutilidade da filosofia e do filósofo na sociedade.

Vendo o mundo desta forma, o autor, ironicamente, descreve o filósofo ou intelectual, como um chato complicado e maçador, um “cromo” com a convicção de que diz a verdade, que se respeita hoje apenas por questão de etiqueta. É um picuinhas.
Em vez de nos questionarmos com o que não tem resposta, porque não ver televisão ou ler um policial? Admite, contudo, no final do texto, que quando se dá baixa dos filósofos numa sociedade é a Humanidade como um todo que desce para o nível de uma “pocilga apenas com uma variedade de feitio”.

Em ambos os textos, a maioria das pessoas, em representação da sociedade, tendem a dar pouco relevo ao saber e função do filósofo. Caracterizam-no como alguém com ideias inúteis, ou que enlouqueceu. Menosprezam-no, e, por isso, prejudicam-se, quer por permanecerem numa “caverna” até ao fim da vida, sem nunca conhecerem o belo mundo do espírito, quer por descerem ao nível de homens enclausurados.

    José Trindade Nunes dos Santos, nº 12, 10º C1 
Imagem - Copyright: Alessandro Cocca

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A Apologia de Sócrates (VI) - Ideias finais (I)

A Grécia organizada em cidades-estados desde o século VI a.C. construiu uma civilização que criaria uma comunidade com suporte numa língua, numa ideia política de organização e em conjunto de valores religiosos e culturais. O progresso do conhecimento deu-se em diferentes áreas,tendo sido os percursores do nascimento de uma disciplina nova - a Filosofia. Palavra que tem origem nos termos gregos philein, que significa "amar" e sophia, que indica sabedoria. 

Nesta disciplina os gregos procuraram pensar os aspetos essenciais da existência humana, dedicando-se ao estudo do seu conhecimento e focando-se em aspectos como a ética (disciplina que se dedica a verificar a finalidade da vida humana e a discutir os meios para a alcançar), ou os valores morais e estéticos. É neste contexto que no século VI a.C. surgem pensadores que procuram de um modo racional encontrar explicações para a existência do Universo, da natureza e da vida humana. Abandonam uma visão mitológica da compreensão da existência e introduzem formulações, práticas de natureza argumentativa lógica (a arte de raciocinar) e racional. 

Tendo os pré-socráticos feito a passagem do mito (descrição simbólica) ao logos (entendimento racional),foram os sofistas os responsáveis por ideia de divulgação da retórica (a arte de argumentar e discutir ideias) e os iniciadores de uma ideia antropológica de discussão da vida e da existência. As suas ideias de formação ideal do cidadão permitiu-lhes dar um contributo importante para a ideia da participação do cidadão na vida pública da pólis. 

Sócrates (c.486-399 a.C.) aprimorou essa ideia antropológica e procurou estudar a natureza do homem e verificar como ela poderia ser aprimorada. Sócrates trouxe-nos a ideia da reflexão, como abordagem essencial para que o homem obtivesse um conhecimento de si próprio e assim atingir a verdade, o bem e o belo - itens do seu processo - a coragem socrática. Sócrates utilizava como método o questionamento para desocultar as sombras e o que cada interlocutor não consegui aceder apenas por si.  Em Sócrates vemos uma filosofia como instrumento para o conhecimento e entendimento do que somos. 

Sócrates deixou-nos um exemplo ético de exame às condições em que vivemos, ideia essencial presente nessa epígrafe "uma vida sem reflexão não merece ser vivida". Discutindo os conceitos básicos que organizam a vida quotidiana e que raramente são pensados, Sócrates incentivou o conhecimento de nós próprios, indicando que o exame de nós próprios e o nosso bem-estar daí decorrentes superam os códigos morais da sociedade, e nesse sentido é uma figura de uma clara universalidade. 

A virtude como um conceito absoluto discutido em Atenas ou em qualquer ponto do mundo revela-nos que traçou uma linha que garantia um plenitude (areté) capaz de eliminar todos os riscos do mal e dos seus agentes. Este evitava-se pelo crescimento do conhecimento e pelo combate à ignorância capaz de destruir toda a nobreza de espírito. O conhecimento surge assim como um padrão da existência e salvaguarda sobre as nossas capacidades humanas. Ao induzir os cidadãos num debate sobre a natureza do amor, a justiça, ou a lealdade, ao incentivar a conversação das pessoas com elas próprias tornou-se uma figura pública  ameaçadora.

Sócrates fundou não só a filosofia ocidental, como teve um papel essencial na formulação metodológica das ciências empíricas, pois propôs um método indutivo, que partia de um conjunto de ideias, baseadas na experiência para se chegar à formulação de uma conclusão, que possa ter uma dimensão de verdade universal. Aristóteles seguiu esta linha como pensador e filósofo. E Francis Bacon utilizou esta linha metodológica, aquando da construção do método científico. Sócrates é assim um nome essencial da memória coletiva da Humanidade.

Luís Campos (Biblioteca)

domingo, 15 de novembro de 2015

Filosofia e Sociedade - Agostinho da Silva



Agostinho da Silva - Um pensamento vivo
(documentário sobre a sua vida e obra - clicar no link acima)  

Atividade - Argumentação

 Dia da Filosofia – 11.º ano
Ficha de trabalho – Argumentação
Leia atentamente o texto.
111 « O intelectual. Que tipo. Será uma espécie em vias de extinção? Ele é o inútil, o complicado, o chato. No imediatismo prático, no dia a dia ofegante, na saturação de tudo, na opressão de quanto nos oprime, ele é uma espécie ininteligível que um pouco se respeita ainda por etiqueta, como usar casaca em certas cerimónias. Sugeria alguém que se suprimisse a filosofia do curso dos liceus. Há lá coisa mais compreensível? O filósofo, imagine-se. O das minhoquices. Um tipo que trabalha, que se desunha para compor a sua verdade, que há de ser posta para o lado pelo filósofo que se segue. Para quê um romance que nos chateia com a maçada de “ pensar”? Pensar o quê ? Se a vida é já tão maçadora? Não é mais saudável mudarmos para a TV? Ou lermos um policial? E os poetas, esses loucos mansos que não farão mal a ninguém mas nos atrapalham o trânsito? Assim eles se tramam, que têm de se ler uns aos outros. É um círculo fechado como o dos que aprendem um saber sem préstimo, excepto para o ensinarem a outros que o hão de ensinar a outros que o hão de ensinar. O intelectual. Que pícaro. Ele é um desperdício a dar baixa no ativo da humanidade.
          Há todavia um pequeno  pormenor maçador e é que a própria humanidade sofre com isso também uma baixa por tabela. É esquisito mas é assim. Porque, se não fossem esses chatos, a história dos humanos era apenas a da pocilga com apenas talvez uma variedade de feitio.»

                          Vergílio Ferreira, Pensar, Lisboa, Bertrand Editora, 1992, pp.99 -95.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Como comentar um texto em Filosofia

           
Eis um pequeno excerto de um texto filosófico:
“O homem é homem só pela linguagem. Unicamente pela  linguagem chega o homem a tornar-se  consciente do seu mundo. A palavra não faz da realidade o nosso mundo. A palavra caracteriza o seu  modo de existência. Com as palavras, o homem vincula-se às coisas, (…) mas também se distancia delas (…) e atribui-lhes significação” E. Cassirer
Como se faz um comentário?
Há muitas técnicas possíveis para estruturar um “comentário de texto”.  Na disciplina de Português é usual serem estudadas várias dessas técnicas. Em filosofia, tal técnica tem enorme importância e uma vez que não as vamos estudar todas, optamos por uma adaptação daquela que é sugerida por Jacqueline Russ, no livro “Les méthodes en philosophie”:
1. Tema abordado no texto a comentar
2. Problema filosófico a que o autor procura responder
3. Posição do autor (tese) sobre esse problema
4. Justificações (argumentos)  apresentadas no texto  para defender essa posição
5. Explicitação dos conceitos usados pelo autor (implica recorrer aos conhecimentos estudados)
6. Eventuais problemas, dúvidas ou objecções que a posição do autor levante (opinião pessoal do aluno, racionalmente fundamentada)
Assim, no caso do texto presente nesta questão, poderíamos elaborar um comentário obedecendo a esta estrutura:

1. O  excerto apresentado refere-se  à importância antropológica da linguagem.
2 . O autor depara-se com um problema filosófico fundamental, que é o de saber o que é o Homem e qual a importância da linguagem na sua definição.

3. Segundo o autor, o Homem só é Homem pela linguagem, pois
4. (i) é a linguagem que caracteriza o seu modo de ser,
     (ii) é pela linguagem que o Homem se torna consciente do seu próprio mundo     
  (iii) é a linguagem que permite ao Homem um distanciamento face ao mundo, atribuindo-lhe significação.

5. Esta palavras do autor significam que
   (i) só o Homem possui uma linguagem deste tipo – uma linguagem simbólica, que lhe permite a referência a objectos ausentes e não materializáveis: o animal não possui essa capacidade de referência à realidade, pelo que a linguagem é o traço distintivo entre o Homem e o animal. Por outro lado,
   (ii) esse tipo de linguagem a que o ser humano tem acesso permite-lhe perceber as causas e as consequências dos seus actos: o Homem tem consciência de si mesmo, tem, consciência do que faz – porque faz e para que faz. Ao animal, pelo carácter concreto da sua linguagem, essa tomada de consciência é totalmente inacessível, pois só pode referir-se a situações presentes: nenhum animal reflecte sobre o passado ou projecta o  futuro, coisa que o ser humano é capaz de fazer. Em último lugar,
  (iii) há que referir que  é através da linguagem que, pelo poder da simbolização, o Homem se afasta da realidade, no sentido em que não precisa de ter a realidade a que se refere presente perante os seus olhos, pois o carácter abstracto e simbólico da sua linguagem permite a construção de um conhecimento teórico e não meramente prático sobre a realidade: o ser humano constrói diversas formas de conhecimento sobre a realidade, apoiando-se na linguagem como estrutura de um discurso racional ou afectivo sobre o mundo que o rodeia.

6. Pessoalmente, a) concordo…  /  b) não concordo…
a) … concordo com o autor pois, como já foi referido na resposta anterior, existem diversos traços distintivos entre a linguagem humana e a linguagem animal, pelo que a linguagem será, seguramente, uma forma possível de designar o que é o Homem, pois trata-se de uma capacidade especificamente humana. Repare-se, por exemplo, que das várias funções inerentes à linguagem, os animais são incapazes de possuírem uma função metalinguística, isto é, a referência linguística ao próprio código: esse é um território exclusivamente humano.  Ainda assim, podem surgir algumas dúvidas/interrogações/problemas a que este excerto não responde, tais como: se descobrirmos que essa distinção linguística não é tão evidente, teremos de mudar a nossa própria concepção do que é o ser humano? Se a capacidade simbólica for exclusiva do ser humano, que reacção teremos perante um ser humano (por exemplo, um microcefálico) que não possui essa capacidade? Essas são questões a que o texto não  permite responder.

b) … não concordo com o autor, pois nem sempre a linguagem simbólica é exclusiva do ser humano: estudos com chimpanzés vieram levantar a questão de saber se alguns animais, nomeadamente os primatas superiores, poderão (ou não) aprender em contacto com os humanos a utilizar uma linguagem gestual, dado que não possuem cordas vocais semelhantes às humanas. A ser assim, a linguagem deixaria de ter  o papel fulcral na distinção Homem/animal, deitando por terra a opinião do autor.

   Professora de Filosofia Isabel Nunes de Sousa ( Grupo de Filosofia da Escola Secundária Rainha D. Amélia) 

Como elaborar um tema de desenvolvimento

Como elaborar um Tema de Desenvolvimento em Filosofia – resposta extensa

O texto-base da filosofia é um texto argumentativo, logo, o tema de desenvolvimento deve sê-lo também. No fundo é um pequeno ensaio onde vamos apresentar algumas ideias e pô-las à prova da nossa razão para ver se são defensáveis e se fazem sentido.
     Estrutura:
  1. Breve apresentação do problema a tratar. Por exº : Vou discutir o problema – Terá a existência humana um sentido? 
  2. Explicitação do problema e as áreas da filosofia que lhe poderão dar resposta, enunciação de algumas teorias defensáveis, atendendo a certas condições, e quais poderão ser essas condições. Enunciar uma em particular, se for o caso. Exº A vida humana deve ser entendida como uma finalidade orientada por valores, nomeadamente, uma finalidade última, rementendo para a divindade - Deus- fundamento de toda a realidade e todos os seres. Neste sentido a questão existencial estará ligada com a metafísica e a religião. Pode-se também confrontar duas perspetivas, a religiosa (Kierkeggaard) e a ateia, uma defendendo claramente um sentido e outra, nomeadamente a perspetiva de Camus, de que a vida não tem sentido porque nos confrontamos com o absurdo.
Desenvolvimento: ( ANÁLISE CONCEPTUAL)

3.  Análise mais detalhada dos conceitos ou categorias que permitem explicitar e analisar o problema. Aqui enunciamos as várias posições que sustentam os vários pontos de vista com base nos argumentos de cada filósofo ou corrente. No caso do sentido da vida, temos que mostrar que a perspetiva religiosa se apoia numa posição essencialista e transcendente, remetendo para fundamentos metafísicos, enquanto a perspetiva ateia de Camus se apoia numa perspetiva existencialista mais confrontada com situações-limite: o sofrimento, a morte, o absurdo etc… O aluno deve analisar estas categorias ou conceitos.
4.   Pode-se também enunciar os contra-argumentos que podem reforçar a posição a defender ou tão somente mostrar objeções ao tema em análise.


Conclusão:
  Tirar algumas conclusões sobre o que se discutiu e dar uma perspectiva da posição defendida. Por exemplo, porque a consideramos mais plausível e quais os pontos fortes dessa perspetiva. Mostrar como esse problema/questão é importante para a filosofia e para a nossa vida. Por exemplo, a resposta a este problema pode dar-nos uma perspetiva abrangente da vida, em termos teóricos e existenciais, basta ver o exemplo de Sócrates, que foi capaz de morrer pelos seus ideais, pois acreditava numa vida para além da morte. Para ele “filosofar era aprender a morrer” sabendo viver uma vida com sentido, isto é, cumprida. Pode-se também enunciar uma breve perspetiva pessoal que deve ser sempre fundamentada.
 O aluno pode apresentar-se como católico e testemunhar pela fé a importância que ela tem na sua vida.
  
    A Professora de Filosofia
   Isabel Nunes de Sousa

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A definição de um ser humano

Como poderíamos definir um ser humano? Por muito acreditou-se, que o ser humano que era chamado Homo Sapiens, isto é, o homem racional, e o Homo Faber, o homem que fabrica ferramentas. Bem... de fato, somos Homo Faber. Todos o somos, pelas canetas que utilizamos, pelos computadores que utilizamos. 

Homo Sapiens, a racionalidade, é excelente. Só que também sabemos que a racionalidade apenas abstrata deixa ser racional. Sabemos que não há pensamento racional sem emoção. Até mesmo o matemático, tem a paixão da Matemática. Ou seja, não podemos pensar apenas pela razão fria. Realmente os computadores estão apenas no domínio da razão fria. Não tem sentimentos, nem vida. Se os deixássemos governar a Humanidade estariamos em grande perigo. Somos, pois indivíduos capazes de emoções e de loucuras também. E, no fundo a dificuldade da vida é realmente navegar. Numa viagem, de nunca perder a racionalidade, mas também, de nunca perder o sentimento e sobretudo, o amor.

É verdade que ouvimos muitas vezes que somos homens de economia. Naturalmente, pois temos interesses económicos, mas somos Homo Ludens também. Gostamos do jogo. Não só as crianças, mas também os adultos. Há muitos exemplos disso. O jogo faz parte da vida. Do mesmo modo, a prosa. De facto, ela faz parte da vida porque são as coisas necessárias e obrigatórias que fazemos, mesmo as que não nos interessam. Mas o importante, já o tenho dito, a prosa serve só para sobreviver. Mas a poesia é viver, é o próprio desabrochar. É a comunicação, é a comunhão. Se tivermos essa definição aberta do que significa o que é um ser humano, então teremos em conta toda a dimensão humana. Mas se ela for fechada e económica, iremos perdê-la.

Edgar Morin, "Roda Viva". 2000 - Entrevistas dadas no Brasil

Imagem - © Carla DLM

A Apologia de Sócrates (V) - As palavras de Sócrates (III)

Sócrates pronuncia-se sobre as suas últimas palavras, essa substância de tempo que guardará uma ideia essencial para todo o futuro, a coragem de lutar por uma dignidade maior - a nobreza de espírito.

E se algum de vós contestar isto e afirmar importar-se com estas coisas [a atenção máxima a questões como a consideração à verdade, ao entendimento e à perfeição da lama de cada um], a reputação, a honra, eu não o deixarei  partir imediatamente nem me afastarei dele. Não, irei questioná-lo, analisá-lo e pô-lo à prova; e se parecer que apesar da sua afirmação não fez progressos reais em direção à virtude, irei censurá-lo por negligenciar o que é de suprema importância, e por prestar atenção a trivialidades. Fá-lo-ei com todos os que conhecer, novos ou velhos, estrangeiros ou concidadãos, mas especialmente convosco, meus concidadãos, atendendo a que estais mais próximos de mim pela afinidade. 

Isso, asseguro-vos, é o que o meu Deus ordena, e é minha convicção de que nenhum bem maior vos aconteceu nesta cidade de que o meu serviço ao meu Deus. Porque passo todo o meu tempo andando por aí a tentar persuadiar-vos, novos e velhos, a preocuparem-se em primeiro lugar e sobretudo não com os vossos corpos nem com os vossos bens, mas com o mais alto bem-estar das vossas almas, proclamando enquanto avanço: a riqueza não traz felicidade, mas a felicidade traz riqueza e todas as outras bênçãos, tanto ao indivíduo como ao Estado.  

Então se eu corrompo os jovens com esta mensagem, a mensagem pareceria ser prejudicial, mas se alguém diz que a minha mensagem é diferente desta, está a dizer disparates. E portanto, senhores, eu diria: podem fazer como quiserem, quer me absolvam ou não. Sabeis que não vou alterar o meu modo de vida, nem mesmo que tenha de morrer uma centena de vezes.

Luís Campos (Biblioteca)
Imagem - A morte de Sócrates (1787) - David

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A Apologia de Sócrates (IV) - As palavras de Sócrates (II)

A assembleia ouve as palavras de Sócrates. Elas parecem ainda pouco significativas para os seus juízes. A sabedoria identificada como ignorância, a importância de uma cidade revelada em aspectos menores dificulta a defesa de Sócrates. Ele continua. Importa ouvir as suas palavras, pois são um manifesto para o futuro, para a filosofia e para a cultura, como forma de escrito. Oiçamo-lo, pois!

A alma, como fonte de toda a vida, ensina-nos que tudo o que dá vida é bom e tudo o que mata é mau. Tudo  o que tem uma alma é bom e sobreviverá: tudo o que carece de uma alma é inútil e não pode sobreviver. A vida animada é inesquecível; a vida sem espírito merece o olvido. O melhor é verdadeiro e permanecerá, mas o que acaba por se revelar uma mentira desaparecerá como a neve debaixo do sol. Deste modo, a experiência é dedicada à demanda da verdade e à prática da virtude. Amar a sabedoria humana não é mais do que fazer repetidamente estas distinções e escolher a verdade incondicionalmente.

Há muito tempo escolhi ser fiel à demanda da verdade. Preferia sofrer a injustiça do que cometê-la. Preferia morrer do que empenhar-me na mentira. Porque a alma não tolera a injustiça nem as mentiras. Quer viver em verdade ou então morre, e a minha vida estaria terminada mesmo que ainda existisse.

Portanto, se todos vós, senhores do júri, agora me disserem: Sócrates, vamos absolver-te, mas só com uma condição, a que desistas de passar o teu tempo nessa demanda e deixes de filosofar. Se te apanharmos a seguir pelo mesmo caminho, serás condenado à morte. Bem, supondo, como disse, que propunham absolver-me nessas condições, eu responderia, senhores, sou o vosso grato e dedicado servo, mas devo obediência maior a Deus do que a vós, e enquanto conseguir respirar e dispuser das minhas faculdades, nunca deixarei de praticar a Filosofia de vos  exortar e de esclarecer a verdade a todos os que encontrar.

Continuarei a dizer, na minha maneira habitual: meu bom amigo, tu és um ateniense e pertences a uma cidade que é a maior e a mais famosa do mundo pela sua sabedoria e pela sua força. Não te envergonhes de dares atenção à aquisição do máximo de dinheiro possível, e de fazeres o mesmo com a reputação e a honra, e de não dares atenção ou consideração à verdade e ao entendimento e à perfeição da tua alma?

Luís Campos (Biblioteca)