domingo, 15 de novembro de 2015

Atividade - Argumentação

 Dia da Filosofia – 11.º ano
Ficha de trabalho – Argumentação
Leia atentamente o texto.
111 « O intelectual. Que tipo. Será uma espécie em vias de extinção? Ele é o inútil, o complicado, o chato. No imediatismo prático, no dia a dia ofegante, na saturação de tudo, na opressão de quanto nos oprime, ele é uma espécie ininteligível que um pouco se respeita ainda por etiqueta, como usar casaca em certas cerimónias. Sugeria alguém que se suprimisse a filosofia do curso dos liceus. Há lá coisa mais compreensível? O filósofo, imagine-se. O das minhoquices. Um tipo que trabalha, que se desunha para compor a sua verdade, que há de ser posta para o lado pelo filósofo que se segue. Para quê um romance que nos chateia com a maçada de “ pensar”? Pensar o quê ? Se a vida é já tão maçadora? Não é mais saudável mudarmos para a TV? Ou lermos um policial? E os poetas, esses loucos mansos que não farão mal a ninguém mas nos atrapalham o trânsito? Assim eles se tramam, que têm de se ler uns aos outros. É um círculo fechado como o dos que aprendem um saber sem préstimo, excepto para o ensinarem a outros que o hão de ensinar a outros que o hão de ensinar. O intelectual. Que pícaro. Ele é um desperdício a dar baixa no ativo da humanidade.
          Há todavia um pequeno  pormenor maçador e é que a própria humanidade sofre com isso também uma baixa por tabela. É esquisito mas é assim. Porque, se não fossem esses chatos, a história dos humanos era apenas a da pocilga com apenas talvez uma variedade de feitio.»

                          Vergílio Ferreira, Pensar, Lisboa, Bertrand Editora, 1992, pp.99 -95.

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