Dia da Filosofia
– 11.º ano
Ficha de trabalho –
Argumentação
Leia
atentamente o texto.
111 « O intelectual. Que tipo.
Será uma espécie em vias de extinção? Ele é o inútil, o complicado, o chato. No
imediatismo prático, no dia a dia ofegante, na saturação de tudo, na opressão
de quanto nos oprime, ele é uma espécie ininteligível que um pouco se respeita
ainda por etiqueta, como usar casaca em certas cerimónias. Sugeria alguém que
se suprimisse a filosofia do curso dos liceus. Há lá coisa mais compreensível?
O filósofo, imagine-se. O das minhoquices. Um tipo que trabalha, que se desunha
para compor a sua verdade, que há de ser posta para o lado pelo filósofo que se
segue. Para quê um romance que nos chateia com a maçada de “ pensar”? Pensar o
quê ? Se a vida é já tão maçadora? Não é mais saudável mudarmos para a TV? Ou
lermos um policial? E os poetas, esses loucos mansos que não farão mal a
ninguém mas nos atrapalham o trânsito? Assim eles se tramam, que têm de se ler
uns aos outros. É um círculo fechado como o dos que aprendem um saber sem
préstimo, excepto para o ensinarem a outros que o hão de ensinar a outros que o
hão de ensinar. O intelectual. Que pícaro. Ele é um desperdício a dar baixa no
ativo da humanidade.
Há todavia um pequeno pormenor maçador e é que a própria humanidade
sofre com isso também uma baixa por tabela. É esquisito mas é assim. Porque, se
não fossem esses chatos, a história dos humanos era apenas a da pocilga com
apenas talvez uma variedade de feitio.»
Vergílio Ferreira, Pensar,
Lisboa, Bertrand Editora, 1992, pp.99 -95.
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