quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A Apologia de Sócrates (V) - As palavras de Sócrates (III)

Sócrates pronuncia-se sobre as suas últimas palavras, essa substância de tempo que guardará uma ideia essencial para todo o futuro, a coragem de lutar por uma dignidade maior - a nobreza de espírito.

E se algum de vós contestar isto e afirmar importar-se com estas coisas [a atenção máxima a questões como a consideração à verdade, ao entendimento e à perfeição da lama de cada um], a reputação, a honra, eu não o deixarei  partir imediatamente nem me afastarei dele. Não, irei questioná-lo, analisá-lo e pô-lo à prova; e se parecer que apesar da sua afirmação não fez progressos reais em direção à virtude, irei censurá-lo por negligenciar o que é de suprema importância, e por prestar atenção a trivialidades. Fá-lo-ei com todos os que conhecer, novos ou velhos, estrangeiros ou concidadãos, mas especialmente convosco, meus concidadãos, atendendo a que estais mais próximos de mim pela afinidade. 

Isso, asseguro-vos, é o que o meu Deus ordena, e é minha convicção de que nenhum bem maior vos aconteceu nesta cidade de que o meu serviço ao meu Deus. Porque passo todo o meu tempo andando por aí a tentar persuadiar-vos, novos e velhos, a preocuparem-se em primeiro lugar e sobretudo não com os vossos corpos nem com os vossos bens, mas com o mais alto bem-estar das vossas almas, proclamando enquanto avanço: a riqueza não traz felicidade, mas a felicidade traz riqueza e todas as outras bênçãos, tanto ao indivíduo como ao Estado.  

Então se eu corrompo os jovens com esta mensagem, a mensagem pareceria ser prejudicial, mas se alguém diz que a minha mensagem é diferente desta, está a dizer disparates. E portanto, senhores, eu diria: podem fazer como quiserem, quer me absolvam ou não. Sabeis que não vou alterar o meu modo de vida, nem mesmo que tenha de morrer uma centena de vezes.

Luís Campos (Biblioteca)
Imagem - A morte de Sócrates (1787) - David

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