segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Cinema Paraíso - Uma alegoria da caverna contemporânea?

Cinema Paraíso é um dos filmes marcantes do século XX por diferentes razões. Filme de 1989 com realização de Giuseppe Tornatore, tornou-se um ícone sobre o papel do cinema e das imagens. Nostalgia de um tempo de quase inocência, de olhar o mundo que chega em flashes de fitas projetadas num cinema de uma pequena cidade italiana no pós segunda guerra mundial. 

É um filme sobre a nossa desventura de principiantes, de um mundo que pouco conhecemos e da aspiração de participar numa forma de aprendizagem pelas imagens. Salvatore, um jovem cineasta tendo conhecimento da morte de um amigo relembra a sua infância e o tempo que passou numa sala de projeção do cinema da sua pequena vila, Cinema Paraíso

Memória de uma infância e da fantasia que as imagens ajudaram a construir num tempo de profunda carência económica. Totto é essa criança que gostava especialmente das imagens projetadas, mas que dá esse salto do espetador para condutor, animador dessas imagens que fascinam todos. A sua ligação à alegoria da caverna de Platão é de grande significado.

A alegoria da caverna de Platão ilustra a forma limitada da existência humana, que se relaciona no seu real com a apreensão de sombras, não descortinando a realidade na sua essência. A vida precisa dessa busca pela desocultação das sombras, de modo a aceder a um mais profundo conhecimento da existência. Cinema Paraíso coloca-nos numa sociedade contemporânea algumas destas questões.

Cinema Paraíso é uma sala que funciona como uma caverna, pois os espetadores acedem a imagens de um real projetado. Nessas imagens se constrõem comportamentos e modelos sociais e culturais. A criança percebe que por detrás das imagens há uma técnica, há um equipamento que permite descortinar sombras, compreender o processo. Este alargamento para fora da "caverna" dá-se com a aprendizagem da passagem das bobines, mas também com a saída da vila e o alargamento de possibilidades de conhecimentos e de afetos.

Cinema Paraíso coloca-nos sobre uma abordagem contemporânea da alegoria da caverna de Platão, pois conduz uma narrativa de compreensão do mundo pelas imagens, num espaço ritualizado de valores e comportamentos. O sentido de evolução do filme, a dificuldade de adaptação das personagens envelhecidas num mundo global transmite-nos uma ideia final. As imagens revelaram uma parte da realidade e não inseriam os seus espetadores numa real transformação do mundo. As sombras permanecem.

Luís Campos (Biblioteca)

1 comentário:

  1. Muito boa ideia...vamos ver como os alunos reagem...eu vou explorar o filme...

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