sábado, 12 de dezembro de 2015

Manhattan - O valor da integridade

Yale: Bem, eu não sou um santo, está bem?
Isaac: Mas és demasiado brando contigo próprio, não percebes isso? Sabes, o teu problema é esse, resume-se a isso. Tu racionalizas tudo. Não és honesto contigo próprio. Dizes que queres escrever um livro, mas afinal acabas por preferir comprar um Porsche, estás a ver? Ou enganas um bocadinho Emily ou mentes-me um bocadinho e, não tarda nada, estás à frente de um comité do Senado a dar-lhes nomes, a denunciar os teus amigos!
Yale: Tens tanta mania de que és virtuoso, sabes? Nós somos apenas pessoas, somos só seres humanos, sabes? Tu pensas que és Deus!
Isaac: Tenho de ter algum modelo!
Yale: Bem, não podes viver dessa maneira, sabes? É tudo tão perfeito.
Isaac: O que dirão as gerações futuras sobre nós? Meu Deus, um dia vamos ser, sabes?, vamos ser como ele [apontando para o esqueleto]. Quero dizer, estás a ver?, provavelmente ele era um dos colunáveis. É provável que ele dançasse e jogasse ténis, e tudo. Agora olha, é isto que nos acontece. É muito importante ter alguma integridade pessoal. Um dia, eu vou estar pendurado numa sala de aula, e quero ter a certeza de que, depois de "bater a bota", as pessoas me vão ter em boa consideração." (Manhattan).

Em Manhattan, filme marcante de Woddy Allen (1979) voltamos a tentar apresentar a relação que a Filosofia pode construir com o cinema. Um recurso, mas também uma formulação sobre questões essenciais que se colocam à vida e às opções de vida. Manhattan é um fresco sobre a cultura de Nova Iorque, um tempo específico, uma ideia cultural, uma memória, mas tem acima disso uma eternidade, pelas questões que coloca. A sua questão ou temática central é a Integridade.

Integridade é um conceito que se presta a alguma subjectividade. Muitas vezes se relaciona Integridade com consistência. É uma analogia perigosa, pois qualquer um pode seguir uma integridade profissional e não revelar consistência em relação a determinados erros morais. A procura de uma verdade consigo próprio pode igualmente disfarçar a concretização da integridade como virtude moral. Podemos em sentido inverso fazer uma analogia entre Integridade e teimosia. A sua diferença reside em verificar como positivo ou negativo em fazer ou não compromissos. Precisamos de uma definição mais rigorosa. 

Platão definia uma pessoa justa como alguém que construiu uma harmonia consigo própria estabelecendo uma ligação coerente e estável entre a razão, as emoções e a vontade. A Integridade poderíamos assim defini-la como algo que envolve uma totalidade psicológica, o que nos deixa de fora dos princípios de conveniência. A Integridade seria assim uma virtude e não um traço de comportamento. A Integridade pressupõe assim o questionamento dos princípios que moralmente sejam questionáveis. Assim, ela constrói uma certa objectividade, pois organiza-se por princípios morais, por onde desejos e e razão se harmonizam, ou vivem em harmonia. 

A cena descrita acima desmonta o significado da Integridade. A construção de gestos continuados correctos torna-nos virtuosos e a realização continuada do oposto dá-nos alguma perversão como pessoas (ideia Aristotélica de que o carácter se forma no tempo pelas acões e decisões tomadas). A discussão entre Yale e Isaac dá a oportunidade a Allen de mostrar que a formação do carácter com base numa continuação de habituação de conveniência revela os indícios de uma falta de Integridade. 

A questão ainda colocada neste excerto do mérito moral certificado pela maioria, o exemplo que é importante construir, não é aferido por ser feita por multidões sem referenciais, mas sim por pessoas com padrões apropriados para o fazer. A efemeridade da vida e o fim que todos teremos leva Allen a falar de um conceito próximo da filosofia socrática, o que deve ser uma boa vida? Uma pensada a procurar determinados valores, o que Allen aqui refere é justamente uma vida que supere o "dançar e jogar ténis", ou seja propõe um ideal maior para a vida, uma ideia mais reflectida sobre a dimensão de felicidade que devemos procurar. 

A Integridade como critério para uma vida bem vivida ou que merece ser vivida é um dos valores máximos de Manhattan, na ideia de que a aproximação entre razão e emoção permite construir uma harmonia psicológica total. Sem ela, apenas conflitos, insatisfação e incapacidade de assumir compromissos virtuosos e a vida reduz-se a uma efemeridade sem brilho. A própria história de amor entre Isaac e Tracy (no final do filme) é a prova interior que ele compreende ser a única forma de ultrapassar os seus conflitos interiores e assumir.se com uma pessoa mais completa. Em Manhattan Allen dá-nos um valor da Integridade que funciona como um critério geral para verificar o que somos moralmente. "Sermos tido em boa conta" é então isso, esse valor maior dado à Integridade, uma avaliação de princípios morais que contemple uma harmonia entre emoção e razão. Manhattan é assim por estas e outras razões um filme a ver. O link do take de abertura. Aqui.

Luís Campos (Biblioteca)

O Épico de Gilgamesh - Da Imortalidade

Na antiga Mesopotâmia, (hoje o atual Iraque) nasceram as primeiras formas de uma revolução urbana que faria evoluir os primeiros povoados para formas mais concentradas de aglomeração, onde foram determinantes a metalurgia, a divisão do trabalho, a organização de um poder sacralizado e a invenção da escrita. Foi entre os rios Tigre e Eufrates que (entre 3000 - 3.100 a.C.) na Suméria se ergueu em cidades como Ur ou Uruk uma civilização que evoluiu dos seus agricultores, sacerdotes e escribas para os sonhos de soberania de um poder sacralizado. É nesta atmosfera que nos chega o mais antigo documento escrito da Humanidade - A epopeia de Gilgamesh.

Este poema épico foi descoberto em meados do século XIX na região norte do Iraque, em placas de argila e data do período entre entre 2700 a 750 a.C. Conta a história de um mítico rei chamado Gilgamesh e que a arqueologia data como tendo reinado por volta  de 2750 a.C em Uruk, a sul do atual Iraque. É um poema que se baseia em lendas, histórias e mitos, que tiveram como ponto de nascimento a civilização da Suméria. O poema junta elementos espirituais desta civilização com alguns dados históricos e factos. A epopeia foi difundida por civilizações posteriores, estando ligada aos povos da Mesopotâmia.

O poema de Gilgamesh tem como personagem principal e seu herói, a figura de Gilgamesh, que foi o fundador da cidade de Uruk, que reinou na primeira metade do III Milénio a.C. O poema relata-nos a existência de Gilgamesh, um rei déspota e cruel. Descontentes com o seu rei, o povo pede à deusa Arunu que crie um homem que lhe faça frente. Acedendo ao pedido do povo, a deusa cria a partir de lama, e criado entre os animais selvagens, um homem de nome Enkidu. 

Enkidu entra em confronto com o rei, mas acabam por se tornar amigos, e ambos passam a combater juntos inimigos mitológicos, em que se salienta Ishtar, deusa dos bosques. Ishtar enamora-se por Gilgamesh embora este não lhe corresponda. A deusa enfurecida, envia o touro do céu para destruir o rei e a sua cidade. Enkidu derrota o touro, mas morre devido a uma maldição envida por Ishtar sobre ele.

Desgostoso com a morte do amigo, Gilgamesh inicia uma viagem com o intuito de procurar Utamapishtim, o único sobrevivente do dilúvio e detentor do segredo da imortalidade. Quando o encontra este revela-lhe que o tesouro da imortalidade se encontra no fundo do mar, materializado numa planta marinha. Gilgamesh lança-se nas profundezas do mar e encontra a planta. No regresso a casa, por intervenção de uma serpente perde o tesouro, podendo ela mudar de pele e continuar a viver e o “HOMEM” perde o segredo da imortalidade e continuará a ser mortal para toda a eternidade.

Encontramos no poema de Gilgamesh elementos que ligam o real e o imaginário, a lenda, a magia e a realidade. O poema de Gilgamesh pode ter sido uma narrativa construída por sacerdotes para garantir a permanência do rei na sua cidade. É, no entanto o documento escrito mais antigo da História da Humanidade e é, sobretudo um material de grande valor, pois constrói a ligação do mito, que é uma das formas supremas com que a História dialoga com as diferentes formas  de consciência coletiva. O teatro da Cornucópia está a representar até dia 13 de dezembro esta epopeia, onde procura ler essa pedra filosofal comum a muitas épocas -  A Imortalidade.

Luís Campos (Biblioteca)

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Para ires lendo... e pensando...(I)

"E se agora, deixando no chão o escudo lavrado e o forte capacete e apoiando a lança contra o muro, saísse ao encontro do inexorável Aquiles, lhe dissesse que permitia aos Atridas que levassem Helena e as riquezas que Alexandre trouxe para Ílion nos côncavos navios, pois foi isso que originou a guerra, e se oferecesse para repartir com os Aqueus metade do que a cidade contém e mais tarde fizesse os troianos jurarem que, sem nada ocultar, formariam dois lotes com quantos bens existem dentro desta formosa cidade?... Mas porque me faz o coração pensar em coisas tais?" 

(Homero, Ilíada).

A Ilíada é um poema épico composto por vinte e quatro cantos escritos em versos. O seu nome deriva do nome grego Ílion, que significa Tróia. É justamente um livro atribuído a Homero e que relata o último ano da guerra de Tróia. O poema foi escrito num dos dialectos da Jónia e existem estudiosos que acreditam ser uma memória da tradição oral contada pelos "aedos" (contadores de histórias) e que apenas no século VI a.C. terá sido impresso. A sua divisão e vinte e quatro cantos que chegou até nós pensa-se ter sido feita na Biblioteca de Alexandria.

A guerra de Tróia fazia parte da memória dos gregos, como um episódio ocorrido no período micénico (1200 a.C.) e onde encontramos descrições de técnicas e armas desse período, pelo que se pode considerar a sua origem perto do século VIII a.C. A Ilíada influenciou muito os autores clássicos e é considerada uma das mais importantes obras da literatura mundial. O fundo da narrativa (em poucas palavras) relata o último ano da guerra de Tróia e opõe Aquiles e Heitor, os Aqueus (a antiga designação dos gregos) e os Troianos. 

A Ilíada dá-nos muito sobre as condições em que a natureza convive com as suas opções, as escolhas que temos de fazer. Na Ilíada encontramos como ideia-base, a que conduz Aquiles, na luta pelo respeito devido a cada um, ao que é, ao papel que tem na sociedade. A luta de Aquiles, a sua raiva vive dessa coragem pelo que se é, pelo que se acredita, pela sua essência. A Ilíada dá-nos ainda uma outra dimensão, que é a de fazer respeitar uma ideia do que somos, mas pensando nos outros, juntando essas duas dimensões, que é o que Heitor faz. Entre o que somos, o que nos identifica podemos defendê-lo acima de qualquer critério, ou em função dos outros, do que também amam? 

Devemos como Aquiles perseguir um desejo, uma ambição a qualquer preço, ou a ideia de Heitor que luta por uma cidade, por um património humano? Existe altruísmo nestas duas escolhas, ou apenas um desejo esquecido de amor pelos outros? Entre força e ânimo físico e heroísmo, o que escolher? Aquiles descobrirá que a morte de Heitor não lhe trará Prátoclo. É essa a essência da Ilíada e que nos conduz a pensar as escolhas que podemos fazer. Afinal a vida não é uma promessa e o sofrimento, a ausência, a perda é uma das suas componentes. As escolhas implicam também isso, esse conhecimento, essa possibilidade. É este o primeiro pensamento que aqui deixámos e que nos conduz aos horizontes da Ética.

Luís Campos (Biblioteca)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Conceitos-Chave (2) - Axiologia


Axiologia
Teoria dos valores. Mais precisamente, uma teoria que estabelece uma hierarquia entre valores, colocando por exemplo, em primeiro lugar o respeito por aquilo que é bom, depois o respeito pelo que é nobre, depois por aquilo que é belo, etc.(Max Scheler). A axiologia foi inicialmente desenvolvida pelo lógico alemão Lotze  ( séc.XIX)e pela escola da filosofia dos valores, ou escola de Bade.
A acepção da palavra axiologia é relativamente recente na história da filosofia, mas o tema do valor é tão antigo como apropria vida, que é já por si um poder de valorização espontâneo, porque introduz no mundo diferenças e preferências fundadas sobre as necessidades, as motivações, os desejos.

Pode chamar-se valor a tudo aquilo que faz o objecto de uma atitude de adesão ou de recusa ou ainda a um juízo crítico.
Professora de Filosofia Maria de Fátima Martins
( Grupo de Filosofia da Escola Secundária Rainha D. Amélia)

Conceitos-Chave (1) - Agir

Agir:
Termo de significação múltipla e imprecisa, só determinada pelo contexto.
Em geral, agir opõe-se a “fazer”: o primeiro termo refere-se à ação moral e política, o segundo à produção de objetos.
Dizemos, por ex.,” agiu bem” ou” fez bem” referindo-nos ao comportamento humano.

Professora de Filosofia Maria de Fátima Martins 

( Grupo de Filosofia da Escola Secundária Rainha D. Amélia)
Imagem: Copyright: Patrick Zhu

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O medo

O pensamento é a origem do medo. Se não houvesse pensamento, não haveria medo. Se nós não tivéssemos nenhum pensamento relativamente à morte (como, por exemplo, "que aconteceria se eu morresse?") e a morte ocorresse neste mesmo instante, ninguém iria ter medo. É o pensamento a respeito da morte que nos inquieta, vindo das vivências do passado e projetado no futuro. O pensamento formou, por meio da experiência, reações de proteção, tanto físicas, como psicológicas.

Quando encontras um cobra, há uma reação instintiva de autoproteção. Esta espécie de medo, é necessária, porque, de contrário, serias mordido. Há, pois, esse instinto de autoproteção, que se formou com o tempo, com a experiência. Esse instinto É "ativado" quando te deparas com um animal selvagem, ou ao veres um autocarro a alta velocidade, etc. Essa reação deve existir, para seres equilibrado. Mas nenhuma outra forma de medo é saudável, porque foi criada pelo pensamento, pela reação da memória, que se acumulou através da experiência, e é "projetada" pelo pensamento.

O pensamento projeta-se no futuro. Vejamos esta situação: Ele não deseja morrer; Não sabe o que virá a ser; Sabe o que é no presente, com toda a agitação, ansiedade, sofrimento, angústia em que vive; Por isso, projeta-se no futuro e sente medo. Porque está confuso, incerto, sem clareza, ele "projeta" uma ideia de permanência, e, por conseguinte, teme não alcançar essa permanência. Tem medo da opinião pública, porque deseja ser respeitável; Por isso, ele atemoriza-se com que a sociedade possa dizer, e, assim, quer proteger-se. Tem medo de todos os incidentes conscientes e inconscientes. Assim, devemos enfrentar cada facto quando surge, sem pensamento; Observar simplesmente cada obstáculo que surge, como num clarão, isto é, sem um "padrão" de acontecimentos à volta.

Enquanto não controlares o teu pensamento, o medo será inevitável. Pensar é uma reação a um "desafio". Se eu te perguntar se és católico, vais me responder "sim" (ou não se for o caso). Esta "resposta", ou reação, é imediata, por que foste criado nessa sociedade, nessa cultura. Todo o pensar é reação da memória. E memória é associação. A memória resulta de inumeráveis experiências, conscientes e inconscientes. 
O pensamento tenta traduzir o medo, interpretá-lo, moldá-lo, negá-lo, livrar-se dele, superá-lo.
O pensamento resulta da memória; só é capaz de "reagir" ao que já conhece. O medo não é constante. Embora possa existir permanentemente no inconsciente, o medo não se manifesta continuamente. Mas a mente, o pensamento deseja segurança, deseja estabilidade. O pensamento nunca é livre, porque o pensamento é reação do que antes foi, em relação com o que virá a ser.

Sara, 11º H1
Imagem: Copyright - Amin Pishevari

A raiz do medo

O medo, quando de alguma forma interage connosco, integra-se plenamente na nossa constituição. Passa a fazer parte de nós assim como os nossos membros, pensamentos ou lógicas. Este vai aos poucos prendendo-se e amarando-se intensamente sem nós  (em muitos casos) darmos por isso. Como não nos apercebemos da dimensão da situação, nem do exato momento em que se inicia e perdura, aquilo que podia ser o mais pequeno medo, o que se confundiria facilmente com o receio, vai-se multiplicando e fundindo à medida que nos desenvolvemos, até que aos poucos vai formando a sua raíz. 

Uma raíz mutável e fortificada que se engloba num corpo fraco e pobre, uma réstia de grandeza que fora antes do encontro com o medo e do frente-a-frente fatal. A falta de força impossibilita o combate destrutivo que nos salvaria. É nesta luta com o nosso "eu" que a raíz aumenta e se propaga inconscientemente, bloqueando primeiramente o tronco, onde tudo se conectara e gerara, seguindo-se-lhe os braços e as mãos, as pernas e os pés; pés estes que passam a ficar presos à Terra firme através da própria raiz. 

Resta-nos, por último a cabeça. Uma cabeça com cérebro, mente e lógica, com uma personalidade, com alguém. Mente agora imóvel, pois lhe foram ceifadas todas as oportunidades de libertação, movimento e salvação possíveis. Ficou agora apenas uma mente imóvel, mais funda e enterrada do que visível e que anseia com desespero ver a luz do Sol, pelo menos mais uma vez. Uma mente que no início, desejava o céu e as estrelas e que agora só se pode contentar com a terra e o subsolo húmido, frio e escuro; uma mente com desejo que ansiava sempre mais e mais, mas em que agora "o menos" é a sua filosofia.

Matou-se, portanto, uma mente. Uma personalidade. Alguém. E quem foi o culpado? talvez o medo seja o mais óbvio, o grande homicida. Para mim, não é apenas a ele que se devem atribuir as responsabilidade. Defendo que foi "alguém" que se deixou morrer quando se tinha podia ter libertado e salvado. Em vez disso, retraiu-se e autorizou o repouso e consequente formação de uma raiz indestrutível à força humana. Aqui está a raiz do medo. A substância que nos confronta e que surge quando menos se espera, mas cuja vida e duração depende unicamente de nós. 

A nossa única hipótese é criar um mecanismo de defesa automático, a que podemos chamar uma segunda oportunidade.  

Mariana Pereira, 11ºH1
imagem: Copyright - Riyan Aderia

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A alegoria da Caverna

A “Alegoria da Caverna”, também conhecida como “Parábola da Caverna”, “Mito da Caverna” ou “Prisioneiros da Caverna”, foi escrita pelo filósofo grego Platão e encontra-se na obra intitulada “A República (Livro VII)”.

É considerada uma das mais importantes alegorias da história da Filosofia. Através desta metáfora é possível conhecer uma importante teoria platónica: através do conhecimento, é possível compreender a existência de um mundo sensível (conhecido através dos sentidos) e de um mundo inteligível (conhecido somente através da razão).

Platão narra a alegoria numa forma de diálogo entre Sócrates e Glauco (seu irmão), sendo Sócrates o mestre e Glauco o seu discípulo. A história narra a vida de uns homens que nasceram e cresceram dentro de uma caverna, presos pelos pés e pescoços, ficando assim voltados para o fundo desta sem que se pudessem virar. Contemplavam apenas uma de luz que reflectia sombras na parede. Esse era o seu mundo. Certo dia, um dos “prisioneiros” soltou-se e saiu da caverna. No início, ficou cego devido à claridade da luz mas, aos poucos, vislumbrou outro mundo com natureza, cores e “imagens” diferentes do que estava acostumado a “ver”. Voltou à caverna para contar aos seus amigos o “mundo novo” que descobrira, mas eles não acreditaram nele e revoltados, acabam por matá-lo.

O mito da caverna é uma metáfora que representa a percepção que o homem tem do mundo e a forma como o entende, diferente da realidade.

Com esta alegoria, Platão pretende criar dois mundos distintos (dualismo cosmológico), o mundo sensível e o mundo inteligível. No mundo sensível, a nível do ser (nível ontológico), estão incluídos os seres vivos (zoa) e as imagens (eikones), a nível do conhecer (nível gnosiológico-epistemológico) domina a opinião-ilusão acerca do mundo (doxa) e estão incluídos a crença verdadeira e a ilusão (pistis e eikasia), é neste mundo que a maior parte da humanidade se encontra, na ignorância; no mundo inteligível, a nível ontológico estão incluídas as ideias-essências (noeta superiores) e as ciências particulares (noeta inferiores), a nível do conhecer, domina o conhecimento verdadeiro (epistemê), onde estão incluídos a contemplação (noesis) e a razão discensiva (dianoia). Isto, no que diz respeito à importância do conhecimento e à educação como forma de superar a ignorância, isto é, a passagem gradual do senso comum enquanto visão de mundo e explicação da realidade para o conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que procura as respostas não no acaso, mas na causalidade.

Como Platão criou uma metáfora, cada elemento desta história tem um significado. A caverna representa o mundo sensível e assim os prisioneiros que vivem dentro dela representam a condição humana, uma vez que a maior parte da humanidade vive na ignorância, ignorância esta representada pela escuridão. A confusão criada pelas sombras/objectos pretende representar a indistinção da realidade.

No início da saída do mundo sensível, existe uma força dos hábitos adquiridos, ou seja, “o prisioneiro tem dificuldade em olhar a luz e os objectos”. Existe uma progressiva eliminação dos preconceitos que, seria a razão que impossibilitava a entrada no “novo mundo”, em conjunto com o espanto filosófico.

À entrada do mundo inteligível o “prisioneiro” consegue contemplar a luz do sol, ou seja, adquire um conhecimento da verdade e compara o mundo exterior com o que vivia na caverna, com isto pratica um trabalho de análise, tomando consciência do modo de ser, da situação vivida na caverna, aqui o prisioneiro passa a filósofo e sente o dever de contar a verdade (risco do filósofo) e ajudar a libertar o resto dos prisioneiros da sua ignorância.
Segundo Platão os humanos (prisioneiros) vivem num estado de inconsciência causada pela ignorância, onde apenas uma minoria consegue libertar-se e aceder à Sabedoria através da Filosofia. Assim a Filosofia ensina-nos a lançar a dúvida sobre o que pensamos ser verdadeiro e exige que avaliemos os nossos preconceitos e as nossas crenças. Ajuda-nos a aprender a ver a realidade de uma nova perspectiva, a libertar-nos do falso-saber, a ser autónomos (pensar por nós próprios) e a alcançar a liberdade através do saber.

"A caverna corresponde ao mundo do visível e o Sol é o fogo cuja luz s projecta dentro dela. A ascensão para o alto e a contemplação do mundo superior é o símbolo do caminho da alma em direcção ao mundo inteligível. É com a sua "esperança" pessoal que Sócrates (...) apresenta isto. (...).O conceito de esperança é aqui empregado com especial referência à expectativa que o iniciado nos mistérios experimenta em relação ao além. A ideia da passagem do terrestre à outra vida é aqui transladada à passagem da alma do reino visível ao reino invisível. O conhecimento do verdadeiro Ser representa ainda a passagem do temporal ao eterno. A última coisa que na região do conhecimento puro a alma aprende a ver, "com esforço", é a ideia de Bem. Mas, uma vez que aprende a vê-la, necessariamente tem de chegar à conclusão de que esta ideia é a causa de tudo quanto no mundo existe de belo e de justo, e de que forçosamente a deve ter contemplado quem quiser agir racionalmente tanto na vida privada como na pública. (...)

A alegoria da caverna é "uma alegoria da paideia (cultura). (...) Uma alegoria da natureza humana e da sua atitude perante a cultura e a incultura". 
-JAEGER, Werner –Paideia. A Formação do Homem Grego

É perfeitamente possível relacionar a filosofia platónica, sobretudo o mito da caverna, com nossa realidade actual. A partir desta leitura, é possível fazer uma reflexão e recuperar valores extremamente importantes para a Filosofia. Além disso, ajuda a formular o raciocínio crítico e é um óptimo exercício de interpretação. Existe uma grande relevância e actualidade relativamente a esta alegoria: muitas informações mostram a alienação humana e mostram que os homens vivem e criam realidades paralelas. O Mito da Caverna é um convite permanente à reflexão. 

Beatriz Monteiro, Nº3, 10ºC3

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Vergílio Ferreira - Pensar ou não Pensar? (VI)

O excerto apresentado, retirado do livro “Pensar” de Vergílio Ferreira, refere a importância do intelectual, do filósofo e do poeta na sociedade. O autor depara-se com um problema filosófico que relata a insignificância do poeta, do filósofo e do intelectual na comunidade atual. Segundo o autor, a importância do intelectual, do filósofo e do poeta na sociedade, baseia-se:

  I. no intelectual sendo considerado uma “espécie em vias de extinção”;
 II. no filósofo, referindo todo o seu árduo trabalho ao buscar a sua verdade;
   III. no poeta, que parece atrapalhar “o trânsito”, mesmo não querendo mal a ninguém.

Estas palavras descritas pelo filósofo significam:

   I. O ocultamento gradual da inteligência e da cultura que vão sendo abafadas pelas novas tecnologias, impostas pela atualidade. Que vão criando hábitos e que nos vão dando respostas sem perguntarmos, sem necessitarmos de o fazer. Que vão terminando com a nossa curiosidade e extinguindo o nosso interesse pela cultura que pouco ou nada nos diz;

   II. Todos os processos enfrentados pelo sábio na descoberta do que considera verdade, sem saber se a irá encontrar. No quão incerta será a resposta e o quão frustrante acabará por ser quando outros filósofos colocarem o seu ideal de parte, o que aparece ao homem comum como se a sua reflexão não seja válida nem útil;

  III. Como incríveis sonhadores, os poetas, procuram maneiras de patentear a sua imaginação na escrita aprendendo mais com outros poetas e ensinando a outros, tornando-se num círculo vicioso que acaba por pouco influenciar no seu pensar e na sua imaginação a sociedade. 

Por último, e de modo a manifestar a minha opinião relativamente ao tema, devo acrescentar que concordo com o autor, pois como já referi anteriormente,  o desenvolvimento da sociedade tem vindo a influenciar a importância da filosofia, da intelectualidade e da poesia no mundo atual. É certo que toda a tecnologia existente nos veio abrir novas portas, novos caminhos que até ninguém (ou poucos) haviam explorado, porém coloca-nos numa posição cada vez mais dependente que afeta progressivamente a nossa autonomia a até mesmo a nossa capacidade de pensar, de imaginar e de resolver verdadeiros problemas. 


A “internet” veio facilitar a comunidade atual que pouco ou nada se preocupa com os fenómenos naturais, com a economia, com a política ou até mesmo com a agricultura porque, com um simples “click” ou uma rápida pesquisa, encontrarão os resultados. De questões que nem se atreveram a fazer, questões essas que nem sequer lhes passaram pela cabeça, ninguém parece interessar-se, porque não estão dirigidos por uma razão e vontade autónomas. Infelizmente já ninguém pensa por si, porque dependem de segundas opiniões para o fazer. É aí que a filosofia faz a diferença. E é, por isso, que este texto de Vergílio Ferreira é tão importante, pois, faz-nos ver que é importante Pensar. 

Joana Margarida Cerqueira Fernandes - 10ºC3

domingo, 29 de novembro de 2015

Vergílio Ferreira - Pensar ou não Pensar? (V)

Este texto de Vergílio Ferreira combina ironia com metáforas formando um excerto sobre a arte de pensar e os próprios pensadores.

 Este autor simboliza o pensamento e o ato de pensar na sua integridade e complexidade. Na opinião deste tão célebre escritor, a mentalidade da sociedade neste século e também um pouco no século passado tem decaído acentuadamente deixando as pessoas mais incultas e com incapacidade de pensar em soluções para os atuais problemas sociais. Devido à maneira de ver o mundo, de vários países, e a falta de educação em certas partes do globo,   debatemo-nos com as consequências graves deste século. Como, por exemplo, os ataques terroristas que são uma prova de ignorância profunda das desumanas almas capazes destas atrocidades, como matar pessoas sem razão. Por este exemplo, e por muitos mais tão graves, concordo com a frase sarcástica de Vergílio Ferreira, "Sugeria alguém que se suprimisse a filosofia dos curso dos liceus”!

Parecendo que não o liceu faz parte de uma das fases mais importantes da vida, pela qual passamos. São três anos sem os quais não conseguiríamos viver equilibradamente o nosso destino. Sendo estes anos tão importantes devido à inocência e às influências exercidos sobre muitos dos jovens de hoje em dia, a filosofia desempenha um “papel insubstituível”.
Esta disciplina ensina-nos a compreender o mundo em todas as suas vertentes, todos os pontos de vista e até os pensamentos que lhes deram origem. Mas será que, como no exemplo referido a cima, os terroristas só cometem tão horrendas ações devido à falta de estudos ou consciência? Ou será também devido ao ambiente em que nasceram e cresceram?

Esta pergunta leva-nos ao próximo texto “a Alegoria da Caverna”. Outro texto indispensável a um aspirante de qualquer disciplina. Este tão célebre diálogo entre Glauco e Sócrates, direciona a visão do leitor para a nossa fragilidade e para como somos seres de hábitos. Mostra também que nos habituamos às condições em que vivemos mesmo que sejam muito precárias, ou demasiado luxuosas, esquecendo-nos muitas vezes que vivemos num mundo ilusório que não nos leva ao principal objetivo do ser humano, que desde que nasceu, é ser verdadeiramente feliz. No entanto, a maioria dos homens não se questiona sobre o verdadeiro sentido da vida que leva à felicidade. 

Sendo assim encontramos as palavras que unem estes textos entre si, “ O Homem” e a educação do mesmo. Também conseguimos concluir que não é só devido ao ensino ou à falta dele que somos como somos, mas também depende das condições em que vivemos e dos desafios que nos colocamos. Chegamos a esta conclusão mesmo sabendo que a verdade não é constante nem aceitável a todos, sendo os que se esforçam mais para chegar a esta são os filósofos. 

A filosofia encaminha-nos a uma descoberta da sabedoria, que nos permite compreender o mundo em que vivemos, o sentido da realidade, como viver uma vida plena e digna, sobretudo, aprender a conhecermo-nos a nós mesmos. Só assim, a Humanidade pode construir um mundo espiritual onde seja possível viver com os outros seres em total respeito e procurando construir um Mundo Melhor.   - Madalena Rosa 10º C 1 nº 13

sábado, 28 de novembro de 2015

A alegoria da Caverna


 A Alegoria da Caverna é um texto da autoria de Platão, cujo principal objectivo é educar as pessoas, mostrando, simultaneamente, a importância da Filosofia.
Este texto é, como a maioria dos textos do filósofo, de natureza dialógica, em que um ser superior, neste caso Sócrates, vai fazendo perguntas a outro ser, este menos sábio, aceitando todas as suas respostas de forma a chegar a um ponto em que este perceba as contradições admitidas na sua mente, revelando a sua ignorância.

A obra, em si, fala-nos de uns homens que vivem numa caverna, que possui uma entrada, virada para a luz, da qual se sai escalando um caminho íngreme que sobe. Esses homens estão no interior da caverna desde a sua infância, acorrentados e sem se poderem mexer, nem sequer trocar de posição ou voltar a cabeça para ver algo que não esteja diante deles e a que sempre estiveram habituados a acreditar.
Nessa caverna há também uma fogueira, cujo papel é refletir tudo o que se passa no exterior, sob a forma de sombras. Essas sombras correspondem à única coisa que os prisioneiros vêem, uma simples reflexão da realidade.

Ora, certo dia, um desses prisioneiros é libertado, e dirige-se para a entada, de onde vem a luz. Tudo aquilo é novo para ele, uma vez que desde pequeno se habituou ao escuro.
Percorre então o caminho que sobe, chegando ao exterior da caverna. Depois de uns minutos necessários para se habituar, o  homem (que a partir do momento que se soltou já não pode ser mais chamado de prisioneiro) começou a observar o que até então tinha dado origens às sombras. Descobriu então as Formas ou Ideias, distinguindo-as dos vultos escuros que sempre lhe fizeram companhia.

Esse homem começou, pois, a questionar-se sobre o que via, sobre a verdadeira essência das coisas.
Então, movido por uma certa compaixão pelos seus “colegas de cela”, voltou ao interior da caverna, com o objectivo de contar o que vira, levando os outros na mesma viagem.
Porém, os planos não correram como planeados, pois quando contou aos outros sobre o que vira e descobrira, estes não acreditaram e mataram-no, só por  ele pensar de forma diferente.
Isto é muito semelhante ao que aconteceu a Sócrates, que foi morto pelos Sofistas, uma vez que punha em causa os seus métodos  de ensino e forma de pensar. (Na realidade, todas as obras de Platão relatam o que aconteceu com Sócrates, uma vez que, na opinião do autor, este era um dos maiores sábios que alguma vez existira e que ser condenado à morte foi a maior «injustiça» de sempre.)

Após a leitura desta obra, percebemos que estamos perante uma alegoria, em que a ignorância é representada pela caverna e a sabedoria pelo Sol. Os prisioneiros representam a humanidade, que vive na ignorância, presa às ideias pré-existentes.  Quando alguém se dispõe a sair desse estado, encontra-se com o “caminho que sobe”, que representa a transição entre dois mundos: o sensível (sombras, ignorância) e o inteligível (ideias, sabedoria) e pressupõe uma ascese por graus- a dialética.
Depois da ascese, isto é, a ascensão de um mundo para outro, devemos começar a procurar saber e a utilizar esse saber para procurar ainda mais saber. A isso se chama sabedoria e assim se formam os filósofos.

Outra das ideias principais deste texto, é mostrar que o tempo é limitado, e que não temos a eternidade para aprender. Isso é representado pelos prisioneiros que estão presos desde a infância, até à morte do sábio - Sócrates. Outro aspeto muito importante da obra são os problemas que levanta. Fazendo uma sequência cronológica resumida, podemos apresentá-los da seguinte forma:
  1. O que é a condição Humana?  (antropologia)
  2. A educação dos jovens: papel que a filosofia e o filósofo têm na educação ( questão social e política)
  3. O que é a verdade? O que é o verdadeiro saber/ conhecimento? (gnosiologia/epistemologia- nesta época ainda não era feita a distinção entre filosofia e ciência)
  4. Qual a verdadeira realidade/essência? (metafísica)
  5. Qual o sentido da vida? O que é a Morte? (sentido cíclico da vida, acreditando-se na teoria da reencarnação, ou seja, que o corpo morria, mas a alma continuava viva, apenas manifestando-se noutra forma física)
A partir daqui podemos determinar uma característica de Platão, a que chamamos dualismo. Encontramos vários tipos de dualismo na Alegoria da Caverna, onde podemos salientar:
  • O dualismo Antropológico: O Corpo e a Alma (Nous) são muito distintos. O primeiro corresponde a um estado provisório, que acaba na morte; enquanto o segundo corresponde ao centro ético onde se encontram as actividades intelectuais, necessárias à realização da ascese (vista como uma purificação, salvação, correspondente à sabedoria máxima).
  • O dualismo Cosmológico: Referente aos dois mundos, o sensível, que engloba as sombras e a ignorância, directamente ligado ao corpo, e o inteligível, o das formas ou ideias que constituem a realidade, que estabelece ligação com a alma.
  • O dualismo Ontológico (dos seres/ do ser): Onde se distinguem as Sombras e as Ideias
  • O dualismo Gnosiológico/epistemológico: (conhecer/conhecimento): Revelando a oposição entre doxa (ilusão/opinião) e episteme (conhecimento verdadeiro). 

Podemos representar isto acima descrito num único esquema, denominado diagrama da Linha:



Desta maneira, Platão pretende educar as pessoas, levando-as a sair da caverna e a explorar o mundo exterior. É pela educação, pela filosofia que o homem se liberta e ascende a outra dimensão, a dimensão espiritual.

Catarina Ventura Nº6 10ºC1

Vergílio Ferreira - Pensar ou não Pensar? (IV)

No texto de Vergílio Ferreira, o autor tenta fazer com que as pessoas se apercebam que, ao contrário do que pensam, se não existissem filósofos, que seria da humanidade? De pessoas que não questionam nada, e que acatam ordens de outros sem sequer querer saber se está certo ou errado o que fazem?

Vergílio Ferreira, neste excerto, tenta “acordar” a sociedade para o verdadeiro perigo que é condenar a filosofia e os filósofos, ao pô-los à parte da sociedade, por serem diferentes na maneira como pensam, como vivem, como questionam tudo o que existe à sua volta. Os filósofos continuam a questionar, porque disso é feita a filosofia, de querer ir mais além,  apesar de não existirem verdades absolutas…

Tudo isto se relaciona com a Alegoria da Caverna, pelo simples facto de, no texto de Vergílio Ferreira, o indivíduo que tenta fugir e sair da ignorância e da monotonia da vida, é julgado e rejeitado numa tentativa de ajudar os outros, ajudar a sociedade a evoluir. Em ambos os textos, o intelectual/filósofo é posto de lado e julgado como um louco, e visto como um “minhoquinhas”  que tenta mudar a sociedade.


Por isso, ao contrário do que a sociedade crê, não podemos descartar a filosofia, muito menos os filósofos, pois, a filosofia é necessária, sem ela, não teríamos evoluído até hoje, continuaríamos a ser e a viver como os “homens da caverna”; e isso não é vida que se leve com os recursos que temos hoje em dia, por isso todos nós por muito pouco que conheçamos, temos que estar dispostos a ouvir opiniões divergentes das nossas e admitir os nossos erros, para assim podermos evoluir como sociedade. 

Patricia Campião Leonardo nº19 10ºC1 

Alegoria da Caverna - Comentário

Vergílio Ferreira - Pensar ou não Pensar? (III)

              Relação entre o texto de Vergílio Ferreira, Pensar e a Alegoria da caverna de Platão:



Este texto, de Vergílio Ferreira, pode relacionar-se com a Alegoria da Caverna, de Platão, que comentei anteriormente. Em ambos os textos pode verificar-se que existe uma sociedade que vive num mundo chamado realidade, no mundo das sombras. Na actualidade, este mundo de sombras podem ser substituídas pelo mundo virtual, pela televisão, pelo mundo das imagens e ideias feitas. Um mundo que é vivido pelos mesmos que desprezam os intelectuais, os filósofos, que se fartam de trabalhar para chegar a uma verdade, a uma solução, a uma resposta. Que passam por um longo caminho desde o mundo das sombras até conseguir por fim ver a luz, tal como se descreve na Alegoria. 

E quando finalmente conseguem chegar a algum tipo de resposta, ou conclusão, tentam partilhá-la connosco, com as pessoas que rodeiam o filósofo e que ainda estão presas ao mundo das imagens. E o que acontece? Normalmente não acreditamos no que eles nos dizem e julgamo-los loucos. E eles acabam por palrar uns com os outros por mais ninguém querer saber, por ninguém se preocupar, por ninguém acreditar neles, nem no quanto são fundamentais. No entanto, e isso poucos percebem, o intelectual, o filósofo, os poetas, são os únicos que se preocupam realmente com problemas significativos do seu tempo e que dizem respeito a todos os homens.

Vergílio Ferreira questiona-se se , de facto, os intelectuais estrão em vias de extinção. Sim, talvez,  por culpa nossa, por insistirmos em permanecer nas nossas bolhas, abstraídos do mundo que nos rodeia, fixados nas imagens que vão passando na televisão, e que correspondem, no caso da alegoria, às sombras que passavam na parede da caverna.
Da mesma forma que nos é dada a conhecer nos dois textos, a sociedade descrita é uma sociedade que não se dá ao trabalho de pensar. Tal qual como atualmente. E se ninguém pensar, se ninguém se der ao luxo de fazer alguma coisa, então os problemas surgirão e ninguém se preocupará em encontrar soluções, a menos que o problema interfira diretamente, e imediatamente, com a sua vida, rotineira e monótona. E nada se vai acabar por resolver, porque a sociedade decidiu fazer dos filósofos seres invisíveis, tal como fazemos quando passamos por um sem-abrigo, e desviamos o olhar.
O sem-abrigo que ficou sem casa, sem roupas, sem comida, sem dinheiro, e, muitas vezes, sem família, por causa destes mesmos problemas que atingem o nosso mundo todos os dias, à velocidade de um TGV, porque se não fosse isso, esse sem-abrigo, seria um com-abrigo, uma pessoa igual a nós que provavelmente faria o mesmo que nós fazemos diariamente para com as pessoas que chamam casa aos bancos da rua, e mantas às caixas de cartão que deitamos fora todos os dias.

E fazemo-lo para não nos sentirmos mal com nós próprios, não porque não podemos ou não temos posses para tal, mas por um simples facto que é a Conveniência. Sim, porque vivemos num mundo em que só se faz o que nos agrada e não o que está correcto ou o que é melhor. Fechamos os olhos aos filósofos por conveniência.
O mundo em que vivo é um mundo onde o poder económico tem mais importância que os valores, um mundo onde a nossa raça, clube, religião, ou opinião política define quem somos ou o que podemos ou não podemos fazer. Um mundo onde há ganância e ignorância para dar e vender. Um mundo dedicado às tradições, superstições e falsas religiões. Muitas vezes usadas como escudo em guerras completamente absurdas, onde o chocante nem é a guerra em si, mas sim o facto de existirem pessoas capazes de cometer tamanhas barbaridades.

Um mundo que, só quando alguém se lembra de se explodir numa cidade ilustre, é que acorda para ver o que se passa. Todos decidem espalhar palavras de compaixão, pelos que sofrem, ou de revolta, pelos que cometeram o acto, nas redes sociais. Cobrem o mundo com a bandeira do dito país, quando essa mesma guerra, esses mesmos atentados ocorreram, se não mais graves, há anos atrás. Ou já se esqueceram do Boko Haram? O célebre Boko Haram. Aqui se vê a dita ignorância sufocante presente na nossa sociedade. Só nos preocupamos com o que nos agrada.

No dia 13/11/2015, às 21h00, deu-se o atentado de França. A comunicação social pelo mundo inteiro disparava notícias de minuto a minuto durante todo o fim-de-semana. Fomos invadidos por uma onda de compaixão humanista que só está presente mais por uma questão de “ficar bem na fotografia”. O mundo inteiro unido por uma causa. Hoje, dia 24/11/2015, passados onze dias desde os atentados o mundo voltou a fechar-se e já ninguém quer saber. Nos noticiários da televisão, a notícia tem direito ao rodapé enquanto se discute o resultado do jogo de futebol do dia anterior. Notícias online, tvi24 por exemplo. Vão reparar que só no fim da página há um pequeno espaço dedicado a essas notícias.

E como a comunicação social seguiu em frente nós fazemos o mesmo, como bons soldados que somos. Como bons paus mandados da televisão e das redes sociais. É este o poder que os média têm na actualidade, é este o poder que lhes demos para as mãos. Foi nesta arma perigosíssima que transformámos o mundo da comunicação. É perante isto que eu chego à conclusão de que tal como disse Vergílio, os intelectuais são um desperdício na sociedade actual, são chacinados pela ignorância incutida pela escola da televisão, nesta era das Tecnologias. Resta-nos por isso, ter esperança de que os jovens tenham noção de que a filosofia é essencial. Que lhes ensinem a amar a sabedoria, a questionar, a não viver na ignorância, a procurar soluções, mesmo que rudimentares, para os problemas com que nos deparamos actualmente.

E se pararmos para pensar, o que é que a filosofia faz por nós numa sociedade em que o tempo para pensar é cada vez mais escasso, na medida em que a velocidade do dia-a-dia nos obriga a tomar decisões rápidas, o que, consequentemente, nos leva a querer soluções imediatas? Como é que a filosofia nos iluminará num ambiente onde os bens materiais são mais importantes que o próprio ser humano? Onde actua a verdade numa sociedade como a nossa? E se é neste mundo bipolar que a filosofia está incluída, para que servirá? Onde é que a filosofia se enquadra numa sociedade que quer o ontem para já e o amanhã para hoje?

Nestes dois textos, vemos que a filosofia é a ciência essencial para tudo o mais ganhe sentido, ou seja, o mundo da tecnologia não existiria, se antes não houvesse alguém que se questionasse sobre a possibilidade de comunicarmos com o outro lado do mundo através do que agora são os telemóveis e a internet. Não haveria democracia se não houvesse alguém que se questionasse sobre o regime anterior, a ditadura, e o melhorasse de acordo com os valores, a ética, a filosofia social e política e todas as disciplinas da filosofia e o que isso implica. O mundo é movido pela filosofia, o amor ao saber, que por sua vez nos ensina a pensar por nós mesmos, de forma livre, autónoma e crítica, em oposição a poderes instituídos, a autoridades suspeitas e a todo o tipo de ameaças à vida individual e à liberdade de consciência. O ser humano tem a necessidade de filosofar, não só para se compreender melhor a ele próprio, mas também para compreender o mundo onde vive. De maneira que enquanto humanos somos incapazes de não filosofar, porque, mesmo que involuntariamente, em algumas situações, como por exemplo, quando nos deparamos com situações-limite, como a morte, acabamos por começar a filosofar.

Teoricamente a filosofia procura conhecer a essência da realidade, visando uma compreensão da totalidade das coisas e dos seres. Procura uma visão integrada de real, ao mesmo tempo que reflecte sobre os vários saberes, os problemas por eles suscitados e os conceitos usados por cada um. Na prática, a filosofia, ajuda-nos a orientarmo-nos no mundo, a saber viver, a agir de forma responsável, a encontrar uma finalidade para a vida, em ordem à conquista da felicidade possível. Por outro lado, ela intervém a nível social e político, no sentido de construir um mundo melhor.

A filosofia confere autonomia ao nosso pensamento, mas também a pressupõe. Ao ajudar a desenvolver o pensamento crítico ela torna-se uma arte de compreender o mundo e o ser humano e, ao mesmo tempo, uma arte de viver.
A utilidade da filosofia não está na produção de resultados imediatos. A filosofia amplia a nossa compreensão do mundo, expande os nossos horizontes intelectuais e a liberdade de pensamento.

A filosofia antiga difere da filosofia contemporânea pois, no contexto em que são desenvolvidos, há diferentes problemas e costumes. Por exemplo, na filosofia grega, não nos deparamos com o problema ambiental. Para além disso toda a filosofia é argumentativa. A argumentação é a base da filosofia e é por ser argumentativa, que também é problematizadora, democrática, plural, crítica, anti-conformista. Com isto eu tento explicar de uma forma resumida o que para mim é a filosofia. E são estas características que fazem da filosofia uma disciplina tão única e essencial.

Portanto termino este texto em concordância com o que Vergílio Ferreira escreve no final do texto, os filósofos, neste momento, só são reconhecidos e ouvidos por outros da mesma espécie, e enquanto assim for, a humanidade irá sofrer com isso também. Porque sem os filósofos, sem estes grandes seres humanos, a nossa história e vida seria uma grande porcaria, uma grandessíssima seca.

Beatriz Conceição, Nº4 - 10ºC1
Imagem: Copyright - Gustavo Marquez

Vergílio Ferreira - Pensar ou não Pensar? (II)

     Relação entre o texto de Vergílio Ferreira, Pensar e a Alegoria da caverna de Platão:


Estes textos podem ser relacionados quanto á forma de pensar dos filósofos. Na “Alegoria da Caverna”, o filósofo explora o mundo inteligível, moldando os seus pensamentos, idealismos e quando volta para dentro da caverna com objetivo de libertar os seus companheiros, estes simplesmente não acreditam nele achando que ele tinha enlouquecido. 

Por ter mudado de ideias, que para os que viviam dentro da caverna eram incontestáveis, e por se atrever a negar ou mudar crenças que até àquele momento pareciam as únicas válidas, o filósofo é sempre encarado como um ser à parte e pouco compreendido. Isto explica a razão pela qual o filósofo corre riscos e chega a ser morto.

Entretanto, no texto da obra “Pensar” da obra de V. Ferreira, o autor, usando ironia, transcreve a desvalorização que a sociedade daquele tempo dava aos filósofos e intelectuais. A sociedade tende a desprezar a inteligência, o conhecimento dos sábios e intelectuais, sem tentar sequer compreender a maneira como eles vêem o mundo.

Interligando estes dois textos, podemos dizer que em ambos se reflete sobre a dispensabilidade dos filósofos numa sociedade rotineira e dogmática. Não se valoriza que o filósofo é o homem que se atreve a pensar e a sair da prisão, mundo sensível, para a liberdade , mundo inteligível. Também se mostra que os intelectuais e filósofos são uma classe de homens à parte mas absolutamente necessária para a elevação de toda a Humanidade.


   Inês Silva Mendes -10º C1
                  Imagem: Copyright - Rene Magrittene Magritte

Vergílio Ferreira - Pensar ou não Pensar? (I)


Relação entre o texto de Vergílio Ferreira, Pensar e a Alegoria da caverna de Platão.

O filósofo, na sociedade ocidental, ontem e hoje, tem sido visto por muitos como um gasto desnecessário de recursos. Os homens e mulheres que vivem a rotina mundana e se limitam a viver e a pensar somente no que lhes chega através dos sentidos não vêm qual é o valor de nos interrogarmos com aquilo que não tem benefício imediato, e, portanto, rejeitam e acham inútil o filósofo e o pensamento filosófico.

Esta situação está patente tanto na Alegoria da Caverna, de Platão, como no excerto de Pensar de Vergílio Ferreira. No primeiro texto, o prisioneiro que foi libertado das suas correntes e conduzido até ao mundo inteligível (onde se apercebeu que o que percecionava dentro da caverna- as sombras na parede e o som que parecia deles provir, eram ilusões), ao tentar libertar os seus companheiros para lhes mostrar o que tinha descoberto encontrou contra si uma enorme resistência. Os restantes prisioneiros pensavam que ele tinha enlouquecido; a viagem para fora da caverna tinha-o tornado demente e resistiam às suas tentativas de libertação. Como poderia ser que existisse mais alguma coisa que fosse mais verdadeira que o que tinham visto toda a sua vida?

No segundo texto, o excerto da obra de Vergílio Ferreira, expõe-se, do ponto de vista de um “indivíduo prático” que não se interroga sobre nada, de forma autónoma e radical, que seja do interesse de todos os homens, o que mais uma vez sugere a inutilidade da filosofia e do filósofo na sociedade.

Vendo o mundo desta forma, o autor, ironicamente, descreve o filósofo ou intelectual, como um chato complicado e maçador, um “cromo” com a convicção de que diz a verdade, que se respeita hoje apenas por questão de etiqueta. É um picuinhas.
Em vez de nos questionarmos com o que não tem resposta, porque não ver televisão ou ler um policial? Admite, contudo, no final do texto, que quando se dá baixa dos filósofos numa sociedade é a Humanidade como um todo que desce para o nível de uma “pocilga apenas com uma variedade de feitio”.

Em ambos os textos, a maioria das pessoas, em representação da sociedade, tendem a dar pouco relevo ao saber e função do filósofo. Caracterizam-no como alguém com ideias inúteis, ou que enlouqueceu. Menosprezam-no, e, por isso, prejudicam-se, quer por permanecerem numa “caverna” até ao fim da vida, sem nunca conhecerem o belo mundo do espírito, quer por descerem ao nível de homens enclausurados.

    José Trindade Nunes dos Santos, nº 12, 10º C1 
Imagem - Copyright: Alessandro Cocca