terça-feira, 11 de abril de 2017

Conteúdos na rede - A representação do belo - [O século XVIII] (3)

O neoclassicismo, ou se quisermos um novo classicismo procurou conciliar duas ideias diversas, mas que convergiram para a construção do espírito burguês. Justamente o rigor pelo que se assumia individualista e a paixão pela descoberta arqueológica. O individualismo construiu-se pela atenção dada ao domínio do privado que o domicílio vai assumir. A rigidez das normas é outra das suas vertentes. O novo classicismo procura impor uma nova Beleza, uma reformulação da beleza clássica, como uma nova Atenas, onde a razão tudo poderá entender. A paixão pela arqueologia fará despertar a curiosidade pelas terras distantes, pela procura de uma beleza diferente, exótica, que seja diferente dos ideais europeus. O antigo e original são dois dos valores por onde evoluirá o neoclassicismo. A arqueologia irá contribuir para fazer evoluir o gosto europeu. Descoberto o clássico grego como uma interpretação feita pelo século XV, o século XVIII tenta encontrar a fonte, do que poderá ser a “verdadeira” antiguidade.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem -Johann Heinrich Wilhelm Tischbein, Goethe na campina romana, 1787, Städelshes Kustinstitut, Frankfurt.
#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação

“A Beleza não é uma qualidade das coisas em si mesmas: só existe na mente que as contempla e cada mente percebe uma Beleza diferente. Também pode existir quem perceba uma Fealdade, onde outro experimenta uma sensação de Beleza; e cada um deveria satisfazer-se com o seu sentimento sem pretender regular o dos outros. Procurar a Beleza concreta ou a Fealdade concreta é uma busca tão infrutuosa quanto a de pretender estabelecer o que é realmente doce ou amargo; e é bem certo o provérbio que reconheceu a inutilidade da disputa à volta dos gostos. É absolutamente natural e até necessário estender este axioma ao gosto mental, independentemente do gosto corporal; e, assim, o senso comum que tão frequentemente se aparta da filosofia e especialmente da filosofia céptica, concorda, pelo menos num caso, com ela ao pronunciar o mesmo veredito.”

Fonte: David Hume, Ensaios morais, políticos e literários, XXIII, C. 1745..
Imagem –António Canova, As Graças, 1812-1816, Ermitage, São Petesburgo.
#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação

A segunda metade do século XVIII conhecerá uma iconografia de heróis e ruínas, entre corpos assombrados nesse universo que nos dá a ideia de que a estética neoclássica teve exigências diversas. As ruínas entendidas como algo belo é uma afirmação nova que se funda na procura de temas originais que ultrapasse os cânones. Se encontramos o racional, também encontramos a melancolia que admira uma ruína, como é o caso de David diante do corpo apunhalado de Marat. O quadro dá-nos uma mistura de sentimentos, uma certa frieza na reprodução de uma morte, os valores estóicos de um homem da Revolução Francesa, o que nos faz misturar Razão e Revolução. No quadro de David há sem dúvida a ideia de ruína da própria vida e a consciência que a História guardará torna-se irrecuperável na vida diária.

Fonte: História da Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem: Jacques-Louis David, A morte de Marat, 1793, Museu de Belas Artes, Bruxelas.
#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação

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