O neoclassicismo, ou
se quisermos um novo classicismo procurou conciliar duas ideias diversas, mas
que convergiram para a construção do espírito burguês. Justamente o rigor pelo
que se assumia individualista e a paixão pela descoberta arqueológica. O
individualismo construiu-se pela atenção dada ao domínio do privado que o
domicílio vai assumir. A rigidez das normas é outra das suas vertentes. O novo
classicismo procura impor uma nova Beleza, uma reformulação da beleza clássica,
como uma nova Atenas, onde a razão tudo poderá entender. A paixão pela
arqueologia fará despertar a curiosidade pelas terras distantes, pela procura
de uma beleza diferente, exótica, que seja diferente dos ideais europeus. O
antigo e original são dois dos valores por onde evoluirá o neoclassicismo. A
arqueologia irá contribuir para fazer evoluir o gosto europeu. Descoberto o
clássico grego como uma interpretação feita pelo século XV, o século XVIII
tenta encontrar a fonte, do que poderá ser a “verdadeira” antiguidade.
Fonte: História da
Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem -Johann
Heinrich Wilhelm Tischbein, Goethe na campina romana, 1787, Städelshes Kustinstitut,
Frankfurt.
#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação
“A Beleza não é uma
qualidade das coisas em si mesmas: só existe na mente que as contempla e cada
mente percebe uma Beleza diferente. Também pode existir quem perceba uma
Fealdade, onde outro experimenta uma sensação de Beleza; e cada um deveria satisfazer-se
com o seu sentimento sem pretender regular o dos outros. Procurar a Beleza
concreta ou a Fealdade concreta é uma busca tão infrutuosa quanto a de
pretender estabelecer o que é realmente doce ou amargo; e é bem certo o
provérbio que reconheceu a inutilidade da disputa à volta dos gostos. É
absolutamente natural e até necessário estender este axioma ao gosto mental,
independentemente do gosto corporal; e, assim, o senso comum que tão
frequentemente se aparta da filosofia e especialmente da filosofia céptica,
concorda, pelo menos num caso, com ela ao pronunciar o mesmo veredito.”
Fonte: David Hume,
Ensaios morais, políticos e literários, XXIII, C. 1745..
Imagem –António
Canova, As Graças, 1812-1816, Ermitage, São Petesburgo.
#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação
A segunda metade do
século XVIII conhecerá uma iconografia de heróis e ruínas, entre corpos
assombrados nesse universo que nos dá a ideia de que a estética neoclássica
teve exigências diversas. As ruínas entendidas como algo belo é uma afirmação nova que se funda na procura de temas originais que ultrapasse os cânones. Se
encontramos o racional, também encontramos a melancolia que admira uma ruína,
como é o caso de David diante do corpo apunhalado de Marat. O quadro dá-nos uma
mistura de sentimentos, uma certa frieza na reprodução de uma morte, os valores
estóicos de um homem da Revolução Francesa, o que nos faz misturar Razão e
Revolução. No quadro de David há sem dúvida a ideia de ruína da própria vida e
a consciência que a História guardará torna-se irrecuperável na vida diária.
Fonte: História da
Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa: Difel.
Imagem: Jacques-Louis
David, A morte de Marat, 1793, Museu de Belas Artes, Bruxelas.
#Arazãoeabeleza; #Obelocomorepresentação
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