Este texto, de Vergílio Ferreira,
pode relacionar-se com a Alegoria da Caverna, de Platão, que comentei
anteriormente. Em ambos os textos pode verificar-se que existe uma sociedade
que vive num mundo chamado realidade, no mundo das sombras. Na actualidade,
este mundo de sombras podem ser substituídas pelo mundo virtual, pela
televisão, pelo mundo das imagens e ideias feitas. Um mundo que é vivido pelos
mesmos que desprezam os intelectuais, os filósofos, que se fartam de trabalhar
para chegar a uma verdade, a uma solução, a uma resposta. Que passam por um
longo caminho desde o mundo das sombras até conseguir por fim ver a luz, tal
como se descreve na Alegoria.
E quando finalmente conseguem chegar a algum tipo
de resposta, ou conclusão, tentam partilhá-la connosco, com as pessoas que
rodeiam o filósofo e que ainda estão presas ao mundo das imagens. E o que
acontece? Normalmente não acreditamos no que eles nos dizem e julgamo-los
loucos. E eles acabam por palrar uns com os outros por mais ninguém querer
saber, por ninguém se preocupar, por ninguém acreditar neles, nem no quanto são
fundamentais. No entanto, e isso poucos percebem, o intelectual, o filósofo, os
poetas, são os únicos que se preocupam realmente com problemas significativos
do seu tempo e que dizem respeito a todos os homens.
Vergílio
Ferreira questiona-se se , de facto, os intelectuais estrão em vias de
extinção. Sim, talvez, por culpa nossa,
por insistirmos em permanecer nas nossas bolhas, abstraídos do mundo que nos
rodeia, fixados nas imagens que vão passando na televisão, e que correspondem,
no caso da alegoria, às sombras que passavam na parede da caverna.
Da
mesma forma que nos é dada a conhecer nos dois textos, a sociedade descrita é
uma sociedade que não se dá ao trabalho de pensar. Tal qual como atualmente. E
se ninguém pensar, se ninguém se der ao luxo de fazer alguma coisa, então os
problemas surgirão e ninguém se preocupará em encontrar soluções, a menos que o
problema interfira diretamente, e imediatamente, com a sua vida, rotineira e
monótona. E nada se vai acabar por resolver, porque a sociedade decidiu fazer
dos filósofos seres invisíveis, tal como fazemos quando passamos por um
sem-abrigo, e desviamos o olhar.
O sem-abrigo que ficou sem casa, sem roupas,
sem comida, sem dinheiro, e, muitas vezes, sem família, por causa destes mesmos
problemas que atingem o nosso mundo todos os dias, à velocidade de um TGV,
porque se não fosse isso, esse sem-abrigo, seria um com-abrigo, uma pessoa
igual a nós que provavelmente faria o mesmo que nós fazemos diariamente para
com as pessoas que chamam casa aos bancos da rua, e mantas às caixas de cartão
que deitamos fora todos os dias.
E
fazemo-lo para não nos sentirmos mal com nós próprios, não porque não podemos
ou não temos posses para tal, mas por um simples facto que é a Conveniência.
Sim, porque vivemos num mundo em que só se faz o que nos agrada e não o que
está correcto ou o que é melhor. Fechamos os olhos aos filósofos por
conveniência.
O
mundo em que vivo é um mundo onde o poder económico tem mais importância que os
valores, um mundo onde a nossa raça, clube, religião, ou opinião política
define quem somos ou o que podemos ou não podemos fazer. Um mundo onde há
ganância e ignorância para dar e vender. Um mundo dedicado às tradições,
superstições e falsas religiões. Muitas vezes usadas como escudo em guerras
completamente absurdas, onde o chocante nem é a guerra em si, mas sim o facto
de existirem pessoas capazes de cometer tamanhas barbaridades.
Um
mundo que, só quando alguém se lembra de se explodir numa cidade ilustre, é que
acorda para ver o que se passa. Todos decidem espalhar palavras de compaixão,
pelos que sofrem, ou de revolta, pelos que cometeram o acto, nas redes sociais.
Cobrem o mundo com a bandeira do dito país, quando essa mesma guerra, esses
mesmos atentados ocorreram, se não mais graves, há anos atrás. Ou já se
esqueceram do Boko Haram? O célebre Boko Haram. Aqui se vê a dita ignorância
sufocante presente na nossa sociedade. Só nos preocupamos com o que nos agrada.
No
dia 13/11/2015, às 21h00, deu-se o atentado de França. A comunicação social
pelo mundo inteiro disparava notícias de minuto a minuto durante todo o
fim-de-semana. Fomos invadidos por uma onda de compaixão humanista que só está
presente mais por uma questão de “ficar bem na fotografia”. O mundo inteiro
unido por uma causa. Hoje, dia 24/11/2015, passados onze dias desde os
atentados o mundo voltou a fechar-se e já ninguém quer saber. Nos noticiários
da televisão, a notícia tem direito ao rodapé enquanto se discute o resultado
do jogo de futebol do dia anterior. Notícias online, tvi24 por exemplo. Vão
reparar que só no fim da página há um pequeno espaço dedicado a essas notícias.
E
como a comunicação social seguiu em frente nós fazemos o mesmo, como bons
soldados que somos. Como bons paus mandados da televisão e das redes sociais. É
este o poder que os média têm na actualidade, é este o poder que lhes demos
para as mãos. Foi nesta arma perigosíssima que transformámos o mundo da
comunicação. É
perante isto que eu chego à conclusão de que tal como disse Vergílio, os
intelectuais são um desperdício na sociedade actual, são chacinados pela
ignorância incutida pela escola da televisão, nesta era das Tecnologias.
Resta-nos por isso, ter esperança de que os jovens tenham noção de que a
filosofia é essencial. Que lhes ensinem a amar a sabedoria, a questionar, a não
viver na ignorância, a procurar soluções, mesmo que rudimentares, para os
problemas com que nos deparamos actualmente.
E
se pararmos para pensar, o que é que a filosofia faz por nós numa sociedade em
que o tempo para pensar é cada vez mais escasso, na medida em que a velocidade
do dia-a-dia nos obriga a tomar decisões rápidas, o que, consequentemente, nos
leva a querer soluções imediatas? Como é que a filosofia nos iluminará num
ambiente onde os bens materiais são mais importantes que o próprio ser humano?
Onde actua a verdade numa sociedade como a nossa? E se é neste mundo bipolar
que a filosofia está incluída, para que servirá? Onde é que a filosofia se
enquadra numa sociedade que quer o ontem para já e o amanhã para hoje?
Nestes
dois textos, vemos que a filosofia é a ciência essencial para tudo o mais ganhe
sentido, ou seja, o mundo da tecnologia não existiria, se antes não houvesse
alguém que se questionasse sobre a possibilidade de comunicarmos com o outro
lado do mundo através do que agora são os telemóveis e a internet. Não haveria
democracia se não houvesse alguém que se questionasse sobre o regime anterior,
a ditadura, e o melhorasse de acordo com os valores, a ética, a filosofia
social e política e todas as disciplinas da filosofia e o que isso implica. O
mundo é movido pela filosofia, o amor ao saber, que por sua vez nos ensina a
pensar por nós mesmos, de forma livre, autónoma e crítica, em oposição a
poderes instituídos, a autoridades suspeitas e a todo o tipo de ameaças à vida
individual e à liberdade de consciência. O ser humano tem a necessidade de
filosofar, não só para se compreender melhor a ele próprio, mas também para
compreender o mundo onde vive. De maneira que enquanto humanos somos incapazes
de não filosofar, porque, mesmo que involuntariamente, em algumas situações,
como por exemplo, quando nos deparamos com situações-limite, como a morte,
acabamos por começar a filosofar.
Teoricamente a filosofia procura conhecer a
essência da realidade, visando uma compreensão da totalidade das coisas e dos
seres. Procura uma visão integrada de real, ao mesmo tempo que reflecte sobre
os vários saberes, os problemas por eles suscitados e os conceitos usados por
cada um. Na prática, a filosofia, ajuda-nos a orientarmo-nos no mundo, a saber
viver, a agir de forma responsável, a encontrar uma finalidade para a vida, em
ordem à conquista da felicidade possível. Por outro lado, ela intervém a nível social
e político, no sentido de construir um mundo melhor.
A
filosofia confere autonomia ao nosso pensamento, mas também a pressupõe. Ao
ajudar a desenvolver o pensamento crítico ela torna-se uma arte de compreender
o mundo e o ser humano e, ao mesmo tempo, uma arte de viver.
A
utilidade da filosofia não está na produção de resultados imediatos. A
filosofia amplia a nossa compreensão do mundo, expande os nossos horizontes
intelectuais e a liberdade de pensamento.
A
filosofia antiga difere da filosofia contemporânea pois, no contexto em que são
desenvolvidos, há diferentes problemas e costumes. Por exemplo, na filosofia
grega, não nos deparamos com o problema ambiental. Para além disso toda a
filosofia é argumentativa. A argumentação é a base da filosofia e é por ser
argumentativa, que também é problematizadora, democrática, plural, crítica,
anti-conformista. Com
isto eu tento explicar de uma forma resumida o que para mim é a filosofia. E
são estas características que fazem da filosofia uma disciplina tão única e
essencial.
Portanto
termino este texto em concordância com o que Vergílio Ferreira escreve no final
do texto, os filósofos, neste momento, só são reconhecidos e ouvidos por outros
da mesma espécie, e enquanto assim for, a humanidade irá sofrer com isso
também. Porque sem os filósofos, sem estes grandes seres humanos, a nossa
história e vida seria uma grande porcaria, uma grandessíssima seca.
Beatriz Conceição, Nº4 - 10ºC1
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