quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Martha Nussbaum - o valor das Humanidades

"Eu, por mim, devo sem dúvida, na medida das minhas forças, trabalhar, para que os meus concidadãos se tornem mais instruídos, graças à minha atuação, estudo e obra" (1)

Daremos ao longo do ano letivo algum destaque a autores / livros que marcam ou marcaram no passado o pensamento humano e nos permitem redimensionar o que é a vida humana e essa área essencial, os valores. Começamos com o Prémio Princípe de Astúrias de Ciências Sociais de 2012, a Professora de Filosofia da Universidade de Chicago, Martha C. Nussbaum.

São palavras antigas, milenares sobre essa disciplina antiga que nos reporta o essencial da nossa dimensão, o amor, a morte e a justiça. Terreno da Filosofia, onde a cultura Grega com a sua explosão de conhecimento e dúvida erigiu um edifício que a tecnologia e os novos sábios dispensaram. Sem este espelho do passado, sem o seu conhecimento perde-se o contorno do horizonte, as ligações que tínhamos, ficando ausente da ideia essencial de continuidade. Este abandono das Humanidades revela-nos como perdemos o valor simbólico do que soubermos construir como sociedade.

Há ainda quem consiga destacar o pensamento clássico como algo muito importante a conhecer, a filosofia como disciplina essencial nestes dias esquecidos de dignidade e lembrar que a liberdade não é um conjunto de letras que se "gritam" em algumas ocasiões, mas uma massa crítica para exercer nos dias. As Humanidades permitem reforçar a Democracia.

Martha Nussbaum tem desenvolvido a sua ação na área do estudo do pensamento grego e da filosofia que orientou a construção do Humanismo ocidental. Em entrevista ao jornal ABC destacou algumas ideias essenciais. A riqueza de um país não pode ser só medido pelo produto interno bruto, mas também pelos índices de qualidade de vida, para as artes, para a cultura e para a família.

A Democracia e o seu primado do direito vem perdendo a sua referência na ideia, na razão e substituída pelo dinheiro. Sem direito a uma educação, não existem escolhas e não há liberdade. Apenas acede à cultura os que têm poder económico e por isso caminhamos para um novo totalitarismo, agora de componente económico. A Democracia corre sérios riscos pela desvirtualização com que a globalização assumiu um fundamentalismo de mercado.

A Democracia e as sociedades precisam de retomar uma ideia, que Isócrates, no século I a. C defendia. A de uma educação liberal capaz de suportar um desenvolvimento humano que enfrente em alternativa o culto do poder e do dinheiro. Ideia que Anthony O' Hear desenvolveu no seu "Ler os Grandes Livros", como forma de estabelecer uma conversação, isto é compreender os suportes humanos da nossa civilização. É isso muito do que nos falta e que a professora Martha Nussbaum, vem destacando nos seus trabalhos. Para conhecer melhor o seu trabalho na Filosofia, mas também no Direito e nos aspetos éticos do desenvolvimento económico, deixamos um link sobre alguns dos seus trabalhos. Aqui.

(1) Cícero, "De Finibus",  citado de Maria Helena da Rocha Pereira, das Origens do Humanismo Ocidental, conferência (Porto - 1985)

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