segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A representação do belo - Os textos (4)

Arte e verdade
Platão (séculos V - IV a.C.)
República, X
A arte imitativa está distante da verdade e, por isso - tal como parece -, executa todas as coisas, já que percebe uma pequena parte de cada objecto, uma parte que é uma cópia. Digamos, por exemplo: o pintor pintar-mos-á um sapateiro, um carpinteiro ou outros artesãos sem perceber nada de nenhuma das suas artes.
Contudo, se fosse um bom pintor e pintasse um carpinteiro e o mostrasse de longe, poderia enganar crianças e pessoas idiotas, iludindo-as de que se trataria de um verdadeiro carpinteiro. [...]
A pintura e, em geral, a arte imitativa, por um lado, realiza a sua obra mantendo-se afastada da verdade, por outro, dirige-se àquilo que em nós existe de mais afastado da inteligência, fazendo-se sua amiga e companheira por nada de são nem de verdadeiro. [...] De modo que a arte mimética, já de si de modesto valor, unindo-se a uma faculdade igualmente modesta, só poderá gerar frutos modestos. A pintura (e, em geral, a arte imitativa) elabora a sua obra longe da verdade.
Esta está em íntima relação, como companheira e amiga deste nosso elemento interior que está longe da inteligência, sem nenhuma metade sã nem verdadeira.
- Com toda a certeza, respondeu. - Então, a arte imitativa, que tem pouco valor, ao encontrar-se com um elemento também pouco valioso, dá lugar a produtos que valem pouco. - Pode acontecer. - Trata-se, continuei, somente da arte que se dirige à vista ou [tratar-se-á] também da que concerne o ouvido e que, precisamente, denominamos poesia?
- É natural, respondeu, quetambém se trate desta.

Imagem - Representação de um dos episódios da Odisseia de Homero. representação das sereias (que na tradição grega tinham asas). Século V a.C. Museu Britânico. Londres.

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