"A arte
imitativa está distante da verdade e, por isso – tal como parece - , executa
todas as coisas, já que percebe uma pequena parte de cada objecto, uma parte
que é uma cópia. Digamos, por exemplo: o pintor pintar-nos-á um sapateiro, um
carpinteiro ou outros artesãos sem perceber nada de nenhuma das suas artes.
Contudo, se
fosse um bom pintor e pintasse um carpinteiro e mostrasse de longe, poderia
enganar crianças e pessoas idiotas, iludindo-as de que se trataria de um
verdadeiro carpinteiro. […]
A pintura e, em
geral, a arte imitativa, por um lado, realiza a sua obra mantendo-se afastada
da verdade, por outro, dirige-se àquilo que em nós existe de mais afastado da
inteligência, fazendo-se sua amiga e companheira por nada de são nem de
verdadeiro. […] De modo que a arte mimética, já de si de modesto valor,
unindo-se a uma faculdade igualmente modesta, só poderá gerar frutos modestos.
A pintura (e, em geral, a arte imitativa) elabora a sua obra longe da verdade.
Esta está em íntima relação, como companheira e amiga deste nosso elemento
interior que está longe da inteligência, sem nenhuma metade sã nem verdadeira.
- Com toda a
certeza, respondeu. – Então, a arte imitativa, que tem pouco valor, ao
encontrar-se com um elemento também pouco valioso, dá lugar a produtos que
valem pouco. – Pode acontecer. – Trata-se, continuei, somente da arte que se
dirige à vista ou [tratar-se-á] também da que concerne o ouvido e que,
precisamente, denominamos poesia?
- É
natural, respondeu, que também se trate desta."
Platão, República, Livro X; Imagem - A escola de Atenas (Platão e Aristóteles),
Quadro de Raffaelo Sanzio, séc. XVI (detalhe)
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