segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A representação do belo - Os textos


"A arte imitativa está distante da verdade e, por isso – tal como parece - , executa todas as coisas, já que percebe uma pequena parte de cada objecto, uma parte que é uma cópia. Digamos, por exemplo: o pintor pintar-nos-á um sapateiro, um carpinteiro ou outros artesãos sem perceber nada de nenhuma das suas artes.
Contudo, se fosse um bom pintor e pintasse um carpinteiro e mostrasse de longe, poderia enganar crianças e pessoas idiotas, iludindo-as de que se trataria de um verdadeiro carpinteiro. […]
A pintura e, em geral, a arte imitativa, por um lado, realiza a sua obra mantendo-se afastada da verdade, por outro, dirige-se àquilo que em nós existe de mais afastado da inteligência, fazendo-se sua amiga e companheira por nada de são nem de verdadeiro. […] De modo que a arte mimética, já de si de modesto valor, unindo-se a uma faculdade igualmente modesta, só poderá gerar frutos modestos. A pintura (e, em geral, a arte imitativa) elabora a sua obra longe da verdade. Esta está em íntima relação, como companheira e amiga deste nosso elemento interior que está longe da inteligência, sem nenhuma metade sã nem verdadeira.
- Com toda a certeza, respondeu. – Então, a arte imitativa, que tem pouco valor, ao encontrar-se com um elemento também pouco valioso, dá lugar a produtos que valem pouco. – Pode acontecer. – Trata-se, continuei, somente da arte que se dirige à vista ou [tratar-se-á] também da que concerne o ouvido e que, precisamente, denominamos poesia?
- É natural, respondeu, que também se trate desta."

Platão, República, Livro X; Imagem - A escola de Atenas (Platão e Aristóteles),
 Quadro de Raffaelo Sanzio, séc. XVI (detalhe)

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