quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A alegoria da Caverna

A “Alegoria da Caverna”, também conhecida como “Parábola da Caverna”, “Mito da Caverna” ou “Prisioneiros da Caverna”, foi escrita pelo filósofo grego Platão e encontra-se na obra intitulada “A República (Livro VII)”.

É considerada uma das mais importantes alegorias da história da Filosofia. Através desta metáfora é possível conhecer uma importante teoria platónica: através do conhecimento, é possível compreender a existência de um mundo sensível (conhecido através dos sentidos) e de um mundo inteligível (conhecido somente através da razão).

Platão narra a alegoria numa forma de diálogo entre Sócrates e Glauco (seu irmão), sendo Sócrates o mestre e Glauco o seu discípulo. A história narra a vida de uns homens que nasceram e cresceram dentro de uma caverna, presos pelos pés e pescoços, ficando assim voltados para o fundo desta sem que se pudessem virar. Contemplavam apenas uma de luz que reflectia sombras na parede. Esse era o seu mundo. Certo dia, um dos “prisioneiros” soltou-se e saiu da caverna. No início, ficou cego devido à claridade da luz mas, aos poucos, vislumbrou outro mundo com natureza, cores e “imagens” diferentes do que estava acostumado a “ver”. Voltou à caverna para contar aos seus amigos o “mundo novo” que descobrira, mas eles não acreditaram nele e revoltados, acabam por matá-lo.

O mito da caverna é uma metáfora que representa a percepção que o homem tem do mundo e a forma como o entende, diferente da realidade.

Com esta alegoria, Platão pretende criar dois mundos distintos (dualismo cosmológico), o mundo sensível e o mundo inteligível. No mundo sensível, a nível do ser (nível ontológico), estão incluídos os seres vivos (zoa) e as imagens (eikones), a nível do conhecer (nível gnosiológico-epistemológico) domina a opinião-ilusão acerca do mundo (doxa) e estão incluídos a crença verdadeira e a ilusão (pistis e eikasia), é neste mundo que a maior parte da humanidade se encontra, na ignorância; no mundo inteligível, a nível ontológico estão incluídas as ideias-essências (noeta superiores) e as ciências particulares (noeta inferiores), a nível do conhecer, domina o conhecimento verdadeiro (epistemê), onde estão incluídos a contemplação (noesis) e a razão discensiva (dianoia). Isto, no que diz respeito à importância do conhecimento e à educação como forma de superar a ignorância, isto é, a passagem gradual do senso comum enquanto visão de mundo e explicação da realidade para o conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que procura as respostas não no acaso, mas na causalidade.

Como Platão criou uma metáfora, cada elemento desta história tem um significado. A caverna representa o mundo sensível e assim os prisioneiros que vivem dentro dela representam a condição humana, uma vez que a maior parte da humanidade vive na ignorância, ignorância esta representada pela escuridão. A confusão criada pelas sombras/objectos pretende representar a indistinção da realidade.

No início da saída do mundo sensível, existe uma força dos hábitos adquiridos, ou seja, “o prisioneiro tem dificuldade em olhar a luz e os objectos”. Existe uma progressiva eliminação dos preconceitos que, seria a razão que impossibilitava a entrada no “novo mundo”, em conjunto com o espanto filosófico.

À entrada do mundo inteligível o “prisioneiro” consegue contemplar a luz do sol, ou seja, adquire um conhecimento da verdade e compara o mundo exterior com o que vivia na caverna, com isto pratica um trabalho de análise, tomando consciência do modo de ser, da situação vivida na caverna, aqui o prisioneiro passa a filósofo e sente o dever de contar a verdade (risco do filósofo) e ajudar a libertar o resto dos prisioneiros da sua ignorância.
Segundo Platão os humanos (prisioneiros) vivem num estado de inconsciência causada pela ignorância, onde apenas uma minoria consegue libertar-se e aceder à Sabedoria através da Filosofia. Assim a Filosofia ensina-nos a lançar a dúvida sobre o que pensamos ser verdadeiro e exige que avaliemos os nossos preconceitos e as nossas crenças. Ajuda-nos a aprender a ver a realidade de uma nova perspectiva, a libertar-nos do falso-saber, a ser autónomos (pensar por nós próprios) e a alcançar a liberdade através do saber.

"A caverna corresponde ao mundo do visível e o Sol é o fogo cuja luz s projecta dentro dela. A ascensão para o alto e a contemplação do mundo superior é o símbolo do caminho da alma em direcção ao mundo inteligível. É com a sua "esperança" pessoal que Sócrates (...) apresenta isto. (...).O conceito de esperança é aqui empregado com especial referência à expectativa que o iniciado nos mistérios experimenta em relação ao além. A ideia da passagem do terrestre à outra vida é aqui transladada à passagem da alma do reino visível ao reino invisível. O conhecimento do verdadeiro Ser representa ainda a passagem do temporal ao eterno. A última coisa que na região do conhecimento puro a alma aprende a ver, "com esforço", é a ideia de Bem. Mas, uma vez que aprende a vê-la, necessariamente tem de chegar à conclusão de que esta ideia é a causa de tudo quanto no mundo existe de belo e de justo, e de que forçosamente a deve ter contemplado quem quiser agir racionalmente tanto na vida privada como na pública. (...)

A alegoria da caverna é "uma alegoria da paideia (cultura). (...) Uma alegoria da natureza humana e da sua atitude perante a cultura e a incultura". 
-JAEGER, Werner –Paideia. A Formação do Homem Grego

É perfeitamente possível relacionar a filosofia platónica, sobretudo o mito da caverna, com nossa realidade actual. A partir desta leitura, é possível fazer uma reflexão e recuperar valores extremamente importantes para a Filosofia. Além disso, ajuda a formular o raciocínio crítico e é um óptimo exercício de interpretação. Existe uma grande relevância e actualidade relativamente a esta alegoria: muitas informações mostram a alienação humana e mostram que os homens vivem e criam realidades paralelas. O Mito da Caverna é um convite permanente à reflexão. 

Beatriz Monteiro, Nº3, 10ºC3

4 comentários:

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  3. Mesmo gostei dessa materia... eu acredito com Alegoria De Caverno.... é uma verdade bem explicado !!!

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  4. E é mesmo Beatriz. A alegoria da Caverna de Platão é mesmo um exercício de reflexão, faz-nos pensar na alienação humana, nas nossas vidinhas confortáveis face a uma realidade que sabemos não ser confortável, não ser segura... não ser fácil. Parabéns.

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