terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Para ires lendo... e pensando...(II)

"Como a razão nada exige que seja contrário à natureza, exige, por consequência, que cada qual se ame a si mesmo, busque a sua própria utilidade - o que realmente lhe seja útil -, apeteça tudo aquilo que conduz realmente o homem a uma perfeição maior e, em termos absolutos, que cada qual se esforce quanto estiver na sua mão por conservar o seu ser. (...) 

E assim, nada mais do que o homem é útil ao homem; quero dizer que nada podem os homens desejar que seja melhor para a conservação do seu ser do que concordarem todos em todas as coisas, de maneira a que as almas de todos formem como que uma só alma, e os seus corpos como que um só corpo, esforçando-se todos à uma, tanto quanto possam, por conservar o seu ser, e buscando todos ao mesmo tempo a utilidade comum. 

Daqui se seguindo que os homens que se guiam pela razão, quer dizer, os homens que buscam a sua utilidade sob a condução da razão, não apetecem para si nada que não desejem para os demais homens, e por isso, são justos, dignos de confiança e honestos". (Espinosa, Ética). 

Podemos estudar muitos assuntos e não podendo estudar todos poderemos alguns não os aprender. Podemos viver sem saber nada sobre astrofísica ou o funcionamento biológico da natureza.  Não podemos viver sem aqueles assuntos que estão muito dependentes da vida que construímos. Não podemos viver sem conhecer os riscos que ameaçam a nossa relação com os outros. Nas nossas escolhas há modos de viver que não nos são úteis.  Precisamos de saber o que pode ser bom nas nossas vidas e o que nos pode prejudicar. Sendo que a vida que cada um tem é uma escolha do que pretende ser, temos de saber construir a dimensão de um conceito essencial - a liberdade. A nossa liberdade é condicionada pelos elementos culturais, pelas formas e usos da linguagem, pelo conjunto de hábitos sociais. Temos na liberdade a opção de escolher um caminho. Mas como o faremos? Com que graus de escolha?

Acontecem-nos coisas que não controlamos. O local onde nascemos, os dados culturais e sociais onde aprendemos a linguagem com que medimos o mundo. Mas temos alternativas. Podemos dar as respostas que melhor nos convém. Temos a possibilidade de ensaiar caminhos, de ver mais alto, de procurar respostas. Se estamos dependentes da nossa vontade, ela para cumprir a nossa essência de liberdade necessita de duas condições. Justamente o conhecimento do mundo e de nós próprios.

Entre o que nos limita e o mundo há as nossas convições, a nossa expressão de liberdade. Na escolha que fazemos sobre o que é mais agradável para a nossa vida fazemos escolhas, procuramos o que se designa a arte de viver. Esta arte de viver é de um modo mais prático o que podemos chamar Ética. 

(A partir de algumas ideias de Fernando Savater, Ética para um Jovem).

Luís Campos (Biblioteca)

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