Pesquisa
filosófica sobre a origem das nossas ideias do Sublime e do Belo de Edmund
Burke, de 1756 é a obra que fará a introdução do Sublime na sociedade, no
sentido de a discutir de uma forma estruturada. Em Burke há uma oposição entre
o Belo e o Sublime. A Beleza existe como uma qualidade objetiva que é
testemunhada pelos sentidos. Não reconhece o que séculos erigiram do ponto de
vista estético, como o valor da proporção, mas antes vê na Beleza conceitos
como a variedade, a variação gradual, a clareza da cor, a graça, a elegância.
No Sublime Burke vê uma vastidão de horizontes, a rudeza, a solidez e a
dimensão do tenebroso que a poética das ruínas ou o gótico oitocentista irá
elaborar. O Sublime para Burke nasce de ideias de força, de um sentimento de vazio,
onde se enquadram o silêncio e a solidão. O Sublime é caracterizado por aquilo
que não é finito, por aquilo que aspira a algo cada vez maior. A relação entre
o Belo e o Sublime advém da resposta a uma questão. Podemos encontrar alguma
fonte de prazer no terror, no tétrico?
Esse
mistério pelo terror implica que nos afastemos dele, o que significa a um certo
desinteresse, o que equivale àquilo que durante séculos esteve ligado ao Belo.
Tanto o Belo como o Sublime é algo que não conduz a uma posse e assim, no caso
do horror como catalisador do Sublime é algo que não nos afectará
negativamente.
Fonte: História da
Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa:Difel.
Imagem: Giovanni
Battista Piranesi, Prisioneiros na plataforma suspensa, mesa de Carceri d’
invenzioni, 1745.
Se
Edmund Burke fez a introdução da discussão sobre o Sublime, foi Kant que melhor
fez a precisão entre Belo e Sublime. Essa precisão foi feita na sua obra de
1790, Crítica da faculdade de juízo. O belo para Kant está associado a um conjunto
de características: uma finalidade que não tem um objetivo, um prazer que se
constrói desinteressado e uma universalidade. O Belo apresenta-se como algo que
nos concede prazer, mas que nós não tentamos possuir. O Belo associa-se a uma
representação que parece assumir-se como uma regra de si própria, do que
desperta, define uma universalidade desprovida de um conceito. O belo não passa
por um juízo estético, mas pela dimensão concreta desse belo, pois não depende
de um raciocínio que se oriente por categorias, mas apenas pelo que o
observador sente. Há no Belo de Kant uma experiência que se joga entre a
imaginação e o intelecto do observador.
Fonte: História da
Beleza. (2005). Umberto Eco. Lisboa:Difel.
Imagem: William Bradford, Glaciar Sermitsialik, c. 1870, Old Dartmouth
Historical Society, New Bradford,
#Osublime
#Obelocomorepresentação
Em Kant o Sublime não se confunde com o
Belo. Existem duas formas de Sublime, o matemático e o dinâmico. O céu
estrelado à noite pode ser um exemplo da primeira forma de Sublime. Aquilo que
presenciamos conduz-nos a uma fonte de experiência que excede o que realmente
vemos. É pela nossa razão que definimos um sentido de infinito que aquela
observação nos deu, pois nem a imaginação, nem a intuição permitem tal
construção naquele cenário. Incapaz de
construir um diálogo entre a imaginação e o intelecto assume-se a nossa
subjectividade que pode imaginar o que pode não existir.
Uma tempestade pode ser o exemplo a
reter para o Sublime dinâmico. Aqui não criamos impressões através da
observação de algo de dimensão infinita, mas é a sua força que nos revela a
nossa fragilidade que apenas pode ser compensada pela afirmação do valor moral
da nossa condição humana.
Fonte: História da Beleza. (2005).
Umberto Eco. Lisboa:Difel.
Imagem: Caspar David Friedrich, A lua eleva-se sobre omar, 1822,
Staatliche Museum,
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