terça-feira, 15 de novembro de 2016

Dia Mundial da Filosofia (I)



(…) “ Temos estado a investigar a justiça, enquanto parte da excelência, porque dizemos que há uma certa forma de justiça enquanto contraposta à injustiça (que é uma forma de perversão).
Um sinal disto é que quando alguém atua de acordo com certas perversões, como quando quer ter mais do que lhe é devido, - em situações de cobardia, de mau feitio ou carácter, dizer palavrões, ou de quem não ajuda o outro por avareza – nós estamos perante casos que têm por base a injustiça, umas por maldade, outras por transgressão à lei, outras por ganância ou ainda por desconhecimento (ausência de sabedoria prática). Podemos falar de uma forma de “injustiça particular” e de outra forma de “injustiça geral”. A primeira tem mais a ver com o carácter de cada um e a outra remete para a essência da excelência em geral. Neste último caso a injustiça está ligada à iniquidade, à relação não justa com outrem e à relação entre a parte e o todo ou ao desconhecimento dos fins da ação.
Ora quando dizemos que a polis dispõe de leis, estas devem traduzir, as regras do viver que determinam a importância de cada excelência (entenda-se virtude) e foram legisladas tendo em vista que a educação possibilite e promova a vida em sociedade. Saber se a educação torna cada indivíduo bom em sentido absoluto, resulta de uma exigência política que deva também garantir que ele é um bom cidadão. (1)
 (…)
Chegamos assim à afirmação central de que a justiça é um “justo meio” para atingir a excelência da alma humana porquanto promove igualdade, a partilha com os outros, o respeito e a felicidade, numa sociedade onde a liberdade pode implicar diferenças e conflitos de interesses que só o sentido da justiça enquanto “justa proporção do que é devido a cada um e a todos em geral” pode ensinar aos jovens estes princípios e ser considerada como uma forma boa de viver em sociedade ou como forma de atingir a Vida Boa.
O debate sobre as formas de excelência, como exigências do viver em comunidade, não podem ser dissociados dos objetivos da ética e da política – relação do Humano para o Humano - como formas de promover o Bem Comum." (2)
    (1); (2) - Ética a Nicómaco. (2004). trad. do grego de António Caeiro. Lisboa: Quetzal Editores,páginas 110-112 e 118-121.

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