(…)
“ Temos estado a investigar a justiça, enquanto parte da excelência, porque
dizemos que há uma certa forma de justiça enquanto contraposta à injustiça (que
é uma forma de perversão).
Um
sinal disto é que quando alguém atua de acordo com certas perversões, como
quando quer ter mais do que lhe é devido, - em situações de cobardia, de mau
feitio ou carácter, dizer palavrões, ou de quem não ajuda o outro por avareza –
nós estamos perante casos que têm por base a injustiça, umas por maldade,
outras por transgressão à lei, outras por ganância ou ainda por desconhecimento
(ausência de sabedoria prática). Podemos falar de uma forma de “injustiça
particular” e de outra forma de “injustiça geral”. A primeira tem mais a ver
com o carácter de cada um e a outra remete para a essência da excelência em
geral. Neste último caso a injustiça está ligada à iniquidade, à relação não
justa com outrem e à relação entre a parte e o todo ou ao desconhecimento dos
fins da ação.
Ora
quando dizemos que a polis dispõe de leis, estas devem traduzir, as regras do
viver que determinam a importância de cada excelência (entenda-se virtude) e
foram legisladas tendo em vista que a educação possibilite e promova a vida em
sociedade. Saber se a educação torna cada indivíduo bom em sentido absoluto,
resulta de uma exigência política que deva também garantir que ele é um bom
cidadão. (1)
(…)
Chegamos
assim à afirmação central de que a justiça é um “justo meio” para atingir a
excelência da alma humana porquanto promove igualdade, a partilha com os
outros, o respeito e a felicidade, numa sociedade onde a liberdade pode
implicar diferenças e conflitos de interesses que só o sentido da justiça
enquanto “justa proporção do que é devido a cada um e a todos em geral” pode
ensinar aos jovens estes princípios e ser considerada como uma forma boa de
viver em sociedade ou como forma de atingir a Vida Boa.
O
debate sobre as formas de excelência, como exigências do viver em comunidade,
não podem ser dissociados dos objetivos da ética e da política – relação do
Humano para o Humano - como formas de promover o Bem Comum." (2)
(1); (2) - Ética a Nicómaco. (2004). trad. do grego de António
Caeiro. Lisboa: Quetzal Editores,páginas 110-112 e 118-121.
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